Nem todo o envelhecimento do nosso cérebro afecta o desempenho cognitivo

Uma investigação da Universidade de Coimbra concluiu que apesar de existirem alterações no nosso cérebro à medida que envelhecemos, nem todas contribuem para uma diminuição da eficácia em tarefas cognitivas.

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Cientistas concluíram que, “com o envelhecimento, a actividade cerebral espontânea tende a tornar-se mais estável” DR

“Nem todas as mudanças produzidas no cérebro, em resultado do envelhecimento, alteram o desempenho cognitivo”, aponta um estudo da Universidade de Coimbra. O trabalho coordenado pelos investigadores Maria Ribeiro e Miguel Castelo-Branco mostra neste trabalho que nem todas alterações que surgem no nosso cérebro são significativas para a forma como ele funciona.

“O cérebro muda de forma significativa com o envelhecimento, mas, pelo menos, parte dessas alterações, poderão não ser relevantes do ponto de vista do seu funcionamento”, apontam. O estudo foi publicado na revista científica eLife.

“O cérebro mais velho apresenta uma dinâmica de actividade cerebral marcadamente diferente do cérebro jovem com uma diminuição das flutuações espontâneas de actividade neuronal, mas esta diferença não está associada a uma perda cognitiva”, garantiram os investigadores.

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Maria Ribeiro e Miguel Castelo-Branco, os investigadores da Universidade de Coimbra responsáveis por este estudo Hugo Quental

Os dois autores do estudo explicam que o cérebro nunca pára e que, mesmo em repouso, a actividade cerebral mostra grandes flutuações. “Períodos de grande actividade cerebral são seguidos de períodos de actividade mais baixa, alternando de uma região ou rede neuronal para outra, em constante movimento. Chamamos a esta actividade cerebral, actividade espontânea”, sublinharam os dois autores do estudo.

Os dois investigadores concluíram que, “com o envelhecimento, a actividade cerebral espontânea tende a tornar-se mais estável”.

“O padrão de actividade cerebral das pessoas mais velhas sugere flutuações de actividade neuronal de menor amplitude e uma redução da activação espontânea das redes neuronais que abrangem regiões distantes do cérebro. Por outro lado, do ponto de vista comportamental, as pessoas mais velhas têm mais dificuldade em manter o desempenho constante, isto é, quando repetem a mesma tarefa ao longo do tempo as respostas são mais variáveis. Este aspecto parece estar associado a um pior desempenho cognitivo e é um preditor do declínio cognitivo e de patologia cerebral associada à demência”.

Os dois investigadores procuraram perceber como é que a actividade cerebral mais estável nas pessoas mais velhas pode estar associada a um desempenho comportamental mais variável e, para isso, compararam os padrões de actividade cerebral de pessoas mais velhas com os padrões cerebrais de jovens adultos e estudaram a “associação entre a actividade cerebral espontânea e as respostas neuronais quando os participantes executavam tarefas cognitivas”.

Observaram então “uma dissociação entre a actividade cerebral espontânea, que serve de pano de fundo para tudo o que acontece no cérebro, e a actividade cerebral que é induzida durante o desempenho cognitivo”.

“Apesar de as pessoas mais velhas terem uma actividade cerebral espontânea menos variável, a sua actividade cerebral associada ao desempenho cognitivo mostra o mesmo nível de variabilidade dos jovens adultos”.