Nigeriano quer fazer um “assalto digital” para reivindicar artefactos africanos
Uma empresa nigeriana cria imagens de peças saqueadas durante o período colonial e vende-as como NTF. Uma percentagem dos lucros é usada para financiar o trabalho de jovens artistas africanos.
Um nigeriano lançou um projecto chamado Looty para reivindicar artefactos africanos roubados por colonizadores europeus. A empresa cria imagens 3D do artigo, vende-as como non-fungible tokens (NFT) e usa os lucros para financiar jovens artistas africanos.
Os pedidos para que os objectos roubados durante o período colonial sejam devolvidos aos seus locais de origem têm vindo a intensificar-se nos últimos anos e instituições ocidentais já enviaram itens de volta para países como Nigéria e Benim.
Chidi Nwaubani, o fundador da Looty, descreve o projecto como uma forma alternativa de repatriação, através da qual tecnologias digitais são usadas para recuperar o controlo e a propriedade sobre artefactos ainda mantidos fora de África. “Imagina um mundo onde estes objectos nunca foram saqueados”, disse Nwaubani em entrevista à Reuters. “Nós só estamos a tentar reimaginar esse mundo digitalmente.”
O processo começa com aquilo que Nwaubani chama “assalto digital de arte”, um procedimento totalmente legal, em que um membro da Looty vai a um museu e digitaliza um objecto com uma tecnologia que pode ser usada para criar imagens 3D.
Um NFT da imagem é criado e colocado à venda no site da Looty, que também funciona como uma galeria online, onde qualquer um pode ver as imagens gratuitamente. Segundo Nwaubani, 20% dos lucros são doados a jovens artistas africanos, até aos 25 anos.
Os NFT são um tipo de activo digital que permite que qualquer pessoa verifique quem os detém.
O site foi inaugurado a 13 de Maio e, embora não tenha tido nenhuma venda imediata, Nwaubani recebeu mensagens de interessados de todo o mundo.
Much more than just JPGs. For @LootyNFT they have become a new vehicle for the reparations and repatriation of spoken African art https://t.co/mYQQ4Uhl9d pic.twitter.com/2g1rt0nhAL
— Looty (@LootyNFT) May 14, 2022
Os primeiros NFT da Looty são baseados numa imagem de um dos Bronzes do Benim, que foram saqueados pelas tropas britânicas, em 1897, no que hoje é a Nigéria, e estão em exposição no Museu Britânico, em Londres.
“Saber que é nigeriano mas vive fora da Nigéria sempre me incomodou. Então, senti que havia algo que podíamos fazer para mudar isso”, disse Nwaubani.
O próximo projecto da Looty é focado num objecto do Antigo Egipto, revelou Nwaubani, recusando-se a dar mais informações.
O nome Looty refere-se ao acto de saquear (loot, em inglês) e é também uma homenagem divertida a Looty, um cão encontrado por um capitão britânico no Palácio de Verão (que também foi saqueado) perto de Pequim, em 1860, e levado para Londres para ser oferecido à Rainha Vitória.