Em menos de cinco minutos, Kate Moss pode ter deitado por terra o testemunho de Amber Heard

A supermodelo britânica testemunhou a partir de Gloucester, Reino Unido, entrando em directo no tribunal de Fairfax, Vírginia, por videochamada.

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“[Johnny Depp] nunca me empurrou, pontapeou ou me atirou por umas escadas abaixo”, declarou Kate Moss sob juramento Reuters/EVELYN HOCKSTEIN

Quando Amber Heard fez referência a “Kate Moss e escadas” para justificar o facto de ter atacado Johnny Depp, ao ter achado que a sua irmã tinha sido ameaçada na escadaria da penthouse onde decorria uma discussão, a equipa jurídica de Johnny Depp festejou, numa reacção pouco usual entre causídicos durante um julgamento (as celebrações são habitualmente reservadas para o momento em que é conhecido um favorável veredicto). E o facto não passou despercebido a ninguém, já que depressa se compreendeu que a actriz de Aquaman abrira a possibilidade de chamar uma das ex-namoradas do actor.

A razão, especulava-se, teria a ver com um incidente em 1994, noticiado pelo New York Times, em que Depp destruiu um quarto de hotel onde estava hospedado com Moss, ou até com uma entrevista dada pelo actor à Rolling Stone, em 1998, a propósito da estreia de Delírio em Las Vegas. Durante a conversa, o actor evocou o encontro com Hunter S. Thompson, cujo romance inspirou o filme. “Eu estava com a Kate [Moss], e ele [Thompson] foi directo à jugular romântica, a perguntar se eu lhe batia o suficiente. Provavelmente disse-lhe: ‘Sim, ela leva fortes tareias’”, brincou o actor na época. E, à luz das acusações de Amber Heard, o comentário acabou por ganhar outra dimensão.

Mas, afinal, a referência de Amber Heard não estava relacionada com nenhum destes episódios, mas com uma viagem que Johnny Depp e Kate Moss, que tiveram uma relação romântica entre 1994 e 1998, realizaram à Jamaica, onde ficaram no resort GoldenEye. “E alguma coisa aconteceu quando esteve na Jamaica com o sr. Depp?”, perguntou o advogado do actor, Benjamin Chew. Kate Moss recordou então o momento em que caiu de umas escadas: “Estávamos a sair do quarto e o Johnny saiu antes de mim. Tinha havido uma tempestade e, ao sair do quarto, escorreguei pelas escadas e magoei as minhas costas.”

A modelo, que testemunhou por videochamada e não presencialmente, como chegou a ser noticiado, continuou: “E gritei — porque não sabia o que me tinha acontecido e estava com dores — e ele voltou a correr para me ajudar e levou-me para o quarto e arranjou-me cuidados médicos.”

Chew questionou, então, se o actor a empurrara “de alguma forma pelas escadas abaixo”, o que a modelo negou, acrescentando: “Nunca me empurrou, pontapeou ou me atirou por umas escadas abaixo.” E embora Moss não possa testemunhar sobre qualquer outra situação que não seja o episódio mencionado por Amber Heard, ficou no ar a ideia de que Johnny Depp, que acaba de regressar a esta hora ao banco das testemunhas, nunca se revelou violento durante os anos em que estiveram juntos.

22 dias em tribunal

O testemunho de Kate Moss não terá durado cinco minutos, mas acabou por minar a credibilidade de Amber Heard, o que põe em causa todo o depoimento da ré. E, tendo em conta que o caso é de difamação, basta a Depp provar que Heard mente uma vez para descredibilizar as suas acusações; por seu turno, a actriz só precisa de provar que o ex-marido foi violento uma única vez para garantir que não é considerada culpada de difamação ao ter assinado um artigo de opinião no The Washington Post em que se assumiu como vítima de abusos e no qual, apesar de não escrever o nome de Depp, faz alusão ao tempo em que foi casada com o actor.

No entanto, apesar dos emocionados depoimentos e da gravidade das acusações, como no caso em que diz que Depp a penetrou com uma garrafa de vidro, a equipa jurídica que montou a defesa da actriz ainda não conseguiu apresentar provas irrefutáveis dos acontecimentos, contando apenas com os testemunhos dos amigos, que confirmaram o facto de a actriz exibir marcas de violência, e da irmã, que contou que viu Depp a agarrar Amber pelos cabelos e a atingi-la na face. Uma antiga amiga de Whitney Henriquez foi apresentada na terça-feira para deixar no ar que a irmã de Amber Heard “está a fazer algo muito errado”, ao apoiar as acusações da actriz contra Depp.

Johnny Depp está a processar Amber Heard por difamação, depois da publicação de um artigo no The Washington Post em que a actriz se identificou como uma sobrevivente de abusos. O actor exige uma compensação de 50 milhões de dólares (46,8 milhões de euros), alegando ter perdido trabalhos por causa da acusação que descreve como falsa. Por seu turno, Amber Heard contra-atacou com um processo de difamação de 100 milhões de dólares (93,6 milhões de dólares), argumentando que Depp a difamou ao chamar-lhe mentirosa.

As alegações finais estão marcadas para dia 27, próxima sexta-feira. A juíza Penney Azcarate informou, ainda na semana passada, que os dois lados têm duas horas para gerir as últimas declarações, as refutações e ainda o momento para a reconvenção, ao qual a ré tem direito. O veredicto pode demorar dias, mas muitos especialistas acreditam que o júri, até pelo cansaço (o julgamento vai no seu 22.º dia e muitos jurados devem estar ansiosos por regressar a casa, sendo que a próxima segunda-feira é feriado nacional), entregará a sua decisão no mesmo dia.

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