Prevenção não compromete a diversão
Se há festa, há consumos e daí não advém nenhum problema. Mas deves saber o que fazer perante alguém que não parece sentir-se muito bem. A pessoa está consciente, consegue falar, está orientada? Não a deixes sozinha, dá-lhe açúcar, dá espaço e tempo para recuperar, permanece em conversa com ela, tranquiliza-a e mantém-te atento.
As Queima das Fitas são uma celebração à/ao estudante, um momento que marca a vida académica, recebe caloiras/os, despede-se de finalistas, marca a saudade! Na verdade, em todas as festas académicas, as cidades recheiam-se de cor e tradição, inundam-se de loucura e emoção e enchem-se de alguns excessos e alegria.
No caso do Porto, pela primeira vez a FAP reuniu um conjunto de 78 casacos laranja, estudantes voluntários que invadiram este evento para que fosse mais seguro. Através de auscultação de estudantes, de formações no âmbito da intervenção e prevenção da violência de género e de consumos de substâncias, de acções de sensibilização prévias e no recinto, da criação de um espaço privado, seguro e confortável que fornecia apoio em situações de desconforto, com suporte psicológico especializado no momento — o Abrigo(te), desenvolvido a par com DICAD e Ponto Lilás —, da realização de rondas pelo recinto e estando presentes nas saídas, no sentido de sinalizar, intervir ou encaminhar situações vulneráveis, ajudamos, prevenimos e evitamos muitas situações que podiam ter passado o risco.
Agora que temos mais uma semana de festa em Coimbra, acredita que tu também podes ser um agente de mudança, para que problemáticas do passado não se tornem reflexo do presente. Como? Primeiro que tudo, o que não podes esquecer: evita andar sozinha/o, não deixes sozinha/o quem está contigo, telemóvel sempre carregado (powerbanks salvam-te), não aceites copos de estranhas/os, cobre o copo, está atenta/o aos sinais do teu corpo, não bebas de barriga vazia e vai-te hidratando.
Se há festa, há consumos e daí não advém nenhum problema. Mas deves saber o que fazer perante alguém que não parece sentir-se muito bem. A pessoa está consciente, consegue falar, está orientada? Não a deixes sozinha, dá-lhe açúcar, dá espaço e tempo para recuperar, permanece em conversa com ela, tranquiliza-a e mantém-te atenta/o. Se estiver a vomitar, coloca-a em posição lateral de segurança e não lhe coloques a cabeça para trás, pois pode sufocar no próprio vómito. Se a pessoa não estiver consciente, orientada no tempo e no espaço e não conseguir andar sozinha, não lhe dês nada de beber ou comer e tenta pedir ajuda (e.g. INEM). Um kit de bens essenciais? Água, açúcar e lenços!
Não olhes para o lado quando presencias uma situação de violência. Podes, por exemplo, aplicar o método dos 4 D’s perante uma situação de assédio. Distrair – o objectivo é interromperes a situação (e.g. entornar um copo para mudar o foco de atenção); Delegar – pede ajuda se presenciares algum acto de violência (e.g. forças de segurança); Direccionar – se perceberes que não prejudicas a tua segurança, dirige-te às pessoas envolvidas e fala sobre o que está a acontecer (não vás sozinha/o); Dialogar – escuta a vítima, sem julgamentos, respeita a sua decisão e nunca a culpabilizes. Não cries estereótipos do que podes encontrar, não ignores se vires alguém sozinha/o, não tenhas um discurso moralizante, e não te esqueças que não agir, é ser cúmplice.
Por outro lado, se alguém começar a sentir o coração mais acelerado, suor, tremores, falta de ar, formigueiros, dor no peito, entre outras sensações, podes estar perante uma crise de ansiedade e é útil que retires a pessoa da confusão, que a ajudes a respirar de forma mais calma, que a distraias se possível, mas, mais importante, que peças ajuda!
Para quem organiza estes eventos, muito pode ser feito previamente para assegurar a segurança e integração - dar formação a todos que os organizam e lá trabalham, sem excepção, e não permitir à partida determinadas práticas (e.g. proibir designação, imagética, simbologia, comunicação e comportamentos de carácter sexista, xenófobo, racista, discriminatório a qualquer nível, que promova o discurso de ódio ou incentive a qualquer tipo de violência). Somos as/os primeiras/os a ter que dar voz às problemáticas, a repudiar determinados actos, a sinalizar e a saber como agir. Também garantir a diversidade e representatividade cultural do evento e a criação de um espaço seguro para possíveis vítimas ou para quem se sinta desconfortável, são pequenas (grandes) acções que podem construir espaços mais seguros e inclusivos. É necessária paciência, tolerância, respeito, compreensão, profissionalismo, empatia e coração. O melhor? É que a prevenção não compromete a diversão!