Ministro francês acusado de violação por duas mulheres

Antes mesmo de se reunir pela primeira vez, o novo Governo de Emmanuel Macron já se viu envolvido em polémica. Damien Abad nega as acusações e não vê motivo para se demitir. Esta terça-feira há protestos em Paris.

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Damien Abad sofre de uma doença que, segundo ele, o impossibilita de ter cometido aquilo de que é acusado EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

O novo Governo francês reuniu-se em Conselho de Ministros esta segunda-feira já envolto em polémica. Duas mulheres acusam o ministro das Solidariedades, da Autonomia e das Pessoas com Deficiência, Damien Abad, de as ter violado em 2010 e 2011, e o partido de Emmanuel Macron terá sido avisado das denúncias.

O caso foi revelado no sábado pelo jornal Mediapart, que ouviu as alegadas vítimas e garante que a associação Observatório das Violências Sexistas e Sexuais na Política enviou avisos na semana passada ao República em Marcha, partido de Macron, aos Republicanos, partido de que Abad foi líder parlamentar, e à Justiça.

“Nunca violei uma mulher que fosse na minha vida”, declarou o ministro esta segunda-feira, lendo um comunicado perante a imprensa, já depois de um colectivo feminista ter marcado para terça-feira um protesto nas ruas de Paris contra aquilo a que chama “Governo da vergonha”.

Damien Abad não vê motivos para abandonar o Executivo. “Um homem inocente deve demitir-se? Não creio”, disse aos jornalistas. “Repudio as acusações contra mim com grande firmeza. Sempre evitei usar a minha deficiência [como desculpa], mas hoje fui obrigado a fazê-lo para me defender. Todas as relações sexuais da minha vida foram mutuamente consentidas.”

O ministro, de 42 anos, sofre de artogripose, uma doença rara que limita os movimentos das articulações e que, segundo o próprio, impossibilita fisicamente que tenha cometido as violações de que é acusado.

Em plena campanha para as eleições legislativas de Junho, o PS veio pedir a demissão de Abad como “medida de precaução” que “não põe em causa a presunção de inocência”, disse Olivier Faure, secretário-geral socialista. “Parece-me que num Governo que diz querer fazer da luta contra a violência contra as mulheres a causa principal do seu mandato, é preciso também haver clareza e dizer que a palavra destas mulheres deve ser escutada e que numa situação como estas é preciso tomar decisões que são difíceis”, declarou em entrevista à rádio France Inter.

A porta-voz do executivo de Elisabeth Borne garantiu que “o Governo está ao lado daqueles que, depois de uma agressão ou assédio, têm a imensa coragem de falar”. Mas, acrescentou Olivia Grégoire, “o apuramento da verdade é à Justiça que compete”. A primeira-ministra conversou com Damien Abad no domingo e “disse-lhe que neste assunto como em todos os outros, ela seguirá as decisões da Justiça que venham a ser tomadas”.

Christian Jacob, presidente dos Republicanos, negou que tenha sido informado das alegações, como garante o Mediapart. O Observatório das Violências Sexistas e Sexuais na Política, uma associação criada em Fevereiro deste ano com o objectivo de dar visibilidade a um problema que as fundadoras dizem ser transversal aos partidos, pede a demissão de Damien Abad. “Não vejo como é que ele pode continuar a defender a sua pasta serenamente”, disse ao Ouest France Mathilde Viot, uma das dirigentes.

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