Caso belga de varíola-dos-macacos tem historial de viagem a Portugal
Análise filogenética preliminar mostra que o genoma obtido pertence ao subgrupo da África Ocidental do VMPX e está mais intimamente relacionado com o genoma do vírus recolhido em Portugal, o que fornece “mais evidências de disseminação substancial da comunidade na Europa”, referem investigadores da Bélgica.
A amostra usada por investigadores do Instituto de Medicina Tropical da Bélgica e da Universidade de Antuérpia para a análise do genoma do vírus da varíola-dos-macacos mostrou a existência de histórico de viagem para Portugal, concretamente para Lisboa. O estudo do genoma belga foi publicado num fórum de discussão aberta para análise e interpretação de epidemiologia e evolução molecular do vírus na sexta-feira.
Os investigadores belgas utilizaram como amostra o caso de um homem de 30 anos e apresentam o genoma “quase completo” do vírus da varíola-dos-macacos, também conhecido como vírus monkeypox (VMPX). Ao fazerem o rastreamento, os autores referem que o homem tinha feito uma viagem para a capital portuguesa. De acordo com a publicação do fórum, o paciente apresentou-se no Instituto de Medicina Tropical da Antuérpia no último dia 13 com “pápulas (lesões sólidas que aparecem na pele com menos de um centímetro) perianais” e com “adenopatia inguinal bilateral [gânglios linfáticos com tamanho, número ou consistência anormal] dolorosa, com um centímetro”.
“Desde então, o seu parceiro desenvolveu sintomas semelhantes. As investigações iniciais de uma amostra retirada das lesões foram negativas para o vírus Herpes Simplex e Treponema pallidum [conjunto de bactérias que causam doenças como sífilis, bejel, pinta e bouba]”, descrevem ainda os autores.
Depois dos alertas internacionais sobre o número de casos na Europa, que são já 80, as novas análises da amostra foram positivas para VMPX.
“Conseguimos reconstruir 98,9% do genoma. A análise filogenética preliminar mostra claramente que o genoma obtido pertence ao subgrupo da África Ocidental do VMPX e está mais intimamente relacionado com o genoma recentemente publicado do surto em Portugal, fornecendo mais evidências de disseminação substancial da comunidade na Europa”, pode ainda ler-se na publicação.
No mesmo dia, também os investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) publicaram no mesmo fórum a versão preliminar do artigo sobre a sequenciação do genoma do vírus da varíola-dos-macacos. Na publicação, dão conta de que a amostra usada para a análise do genoma do vírus terá sido recolhida a 4 de Maio, o que indica que há mais de duas semanas que existem casos em Portugal.
No documento, assinado pelos investigadores do Insa que estarão ainda a realizar mais análises laboratoriais, confirma-se também que a primeira análise filogenética rápida indica que este vírus pertence ao subgrupo da África Ocidental, à semelhança do genoma belga. Este será menos agressivo e menos transmissível, informação também confirmada pela DGS. A análise refere ainda que o vírus da amostra “está mais intimamente relacionado com os vírus associados à exportação do VPMX da Nigéria para vários países em 2018 e 2019, como o Reino Unido, Israel e Singapura”.
A última actualização da Direcção-Geral da Saúde, publicada na sexta-feira, confirma a existência de 23 casos desta infecção em Portugal.