Já há na concorrência quem queira empregar os trabalhadores do Café Luso e do Tropical Burguer
Setenta e três pessoas ficaram sem emprego na sequência do encerramento dos cinco restaurantes do grupo, que só viu ser decretada insolvência depois de fechar portas com ordenados por pagar.
Há dois grupos empresariais da área da restauração interessados em contratar algumas dezenas de trabalhadores que ficaram sem emprego na sequência do processo de insolvência dos quatro restaurantes Tropical Burguer e do mítico Café Luso, no Porto, que encerraram em Maio, sem avisarem previamente os 73 funcionários que lá trabalhavam que iam perder os seus postos de trabalho. O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte (STIHTRSN) avança já existirem interessados em ocupar essas vagas – as ofertas de emprego terão ordenados “acima da média” e contrariam a tendência de pagamentos “pelo ordenado mínimo”, na origem da alegada escassez de mão-de-obra no sector.
Na quinta-feira, os trabalhadores estiveram na sede da cadeia de restaurantes para receberem a carta de despedimento e os modelos de apoios sociais, depois de terem sido contactados por mensagem no dia anterior pela empresa que abriu insolvência. De acordo com o dirigente do sindicato, Francisco Figueiredo, os ex-funcionários saíram das instalações do grupo empresarial com os documentos necessários para poderem submeter pedido de subsídio de desemprego. Mas faltou receberem a carta de despedimento – algo que o sindicato considera ilegal. “A lei não foi cumprida relativamente ao despedimento colectivo”, assinala. Fica por saber se os funcionários receberão o ordenado do mês de Abril, em atraso, e do mês de Maio.
“Estávamos à espera que o administrador de insolvência cumprisse o que foi prometido. De acordo com a lei tinham obrigação de formalizar o despedimento”, sublinha. Diz o dirigente sindical que não aconteceu assim e que dificilmente os trabalhadores conseguirão receber os ordenados atrasados. “Há um grande passivo”, diz.
Francisco Figueiredo diz ter a informação de que os estabelecimentos estão a ser “entregues aos senhorios”. Ao mesmo tempo, adianta estar a ser retirado o recheio dos espaços, cujo valor poderia ser usado para pagar os salários em atraso. Com o modelo de apoios na mão, os ex-funcionários poderão fazer o pedido de subsídio de desemprego – um processo que o sindicalista considera “demorado” e burocraticamente pouco ágil.
No meio deste período de turbulência surgiu uma luz ao fundo do túnel para as mais de sete dezenas de trabalhadores: “Há dois grupos empresariais da restauração com vários estabelecimentos interessados em contratar as pessoas que ficaram sem emprego”. Ainda não se sabe ao certo quantos trabalhadores é que poderão ser absorvidos pelas duas empresas. Porém, arrisca nas “dezenas”, a quem foi prometido auferirem “ordenados acima da média”.
O sindicato afasta a ideia de existirem hoje mais vagas por preencher no sector por força de uma alegada escassez de mão-de-obra. O problema será outro: “É difícil de encontrar funcionários porque as ofertas são más”, afirma. Os horários, diz, são “imprevisíveis”, com turnos de “10 a 14 horas” e com ordenados tabelados pelo “ordenado mínimo nacional”. “Esse é que é o grande problema”, sublinha.
Despedidos sem aviso
O Grupo Tropical Burguer abriu insolvência durante o mês de Maio, mas sem avisar os funcionários antes de que iria fechar as portas dos cinco estabelecimentos que detinha no Porto há várias décadas. O sindicato considera que este processo foi conduzido ilegalmente. O órgão que representa os trabalhadores diz que o encerramento de portas só deveria ter acontecido depois de o tribunal decretar a insolvência e após ter sido enviado aos trabalhadores aviso de despedimento colectivo. Por alegadamente não terem sido seguidos esses trâmites, considera o sindicato que foi cometido um “crime” punível com pena até dois anos de prisão - à luz do artigo 316.º do Código do Trabalho.
Na semana passada, numa reunião na delegação do Porto do Ministério do Trabalho com o sindicato dos trabalhadores e o Grupo Tropical Burguer, a cadeia que abriu insolvência terá alegado que o motivo para o encerramento dos estabelecimentos deve-se a um passivo de 1,6 milhões de euros, a um desentendimento entre os sócios e a uma recusa de financiamento bancário. O PÚBLICO ligou para um número de telefone associado ao grupo que geria os restaurantes, mas não teve resposta.