Bolsas derrapam com receios de abrandamento económico
As principais praças europeias estão a cair mais de 2%, depois de, em Wall Street, ter sido registada a pior sessão em quase dois anos. Desde o início deste ano, e até ao fecho da sessão de quarta-feira, o PSI acumula uma desvalorização de 5,6%
As bolsas europeias estão a registar quedas acentuadas esta manhã, prolongando o sentimento vivido em Wall Street, que, na quarta-feira, registou a pior sessão em quase dois anos. Este movimento acontece numa altura em que se acentuam os receios dos investidores em torno de um abrandamento económico, que está também a penalizar os preços das matérias-primas.
A marcar a negociação desta quinta-feira estão os sinais vindos dos Estados Unidos. Na última sessão, o índice de referência S&P 500 desvalorizou 4%, a queda mais acentuada desde Junho de 2020, num movimento que está a ser visto pelos analistas como uma reacção ao abrandamento da procura por parte dos consumidores, numa altura em que a inflação atinge níveis históricos. Em Março, recorde-se, a taxa de inflação nos Estados Unidos situou-se em 8,5%, o nível mais elevado em mais de 40 anos.
O sentimento negativo dos investidores alastrou-se para as bolsas europeias, que começaram por registar subidas no início desta semana, mas que regressam agora ao vermelho. Esta quinta-feira, o índice de referência Stoxx 600, que reúne as 600 maiores cotadas europeias, está a desvalorizar mais de 2%, regressando aos níveis mais baixos desde Novembro de 2020. O movimento é comum à generalidade das principais praças europeias, com as bolsas de Londres, Frankfurt e Paris a registarem todas quedas superiores a 2%.
A penalizar as bolsas europeias está, sobretudo, o sector do retalho, com empresas como as britânicas Tesco (retalho alimentar) ou Unilever (produtos de grande consumo) a caírem mais de 5%, precisamente pelos receios em torno da potencial queda do consumo.
Entre os analistas, a dúvida é se as quedas irão prolongar-se ou se, nas próximas semanas, irá assistir-se a uma estabilização das cotações. “O facto de os resultados das retalhistas estarem a ficar aquém das expectativas mostra que a inflação está a ter um impacto, provavelmente até mais na Europa do que nos Estados Unidos”, aponta um analista da Nordea Asset Management, citado pela Reuters. “Este cenário está a reavivar as históricas da estagflação, sobretudo na zona euro”, acrescenta, ressalvando, ainda assim, que as bolsas deverão estar perto de atingir o fundo e que espera um reequilíbrio nas próximas duas semanas.
Já para o Goldman Sachs, citado pelo Financial Times, uma recessão económica nos Estados Unidos “não é inevitável”. O banco norte-americano aponta para uma probabilidade de cerca de 33% da economia dos Estados Unidos entrar em recessão nos próximos dois anos.
Matérias-primas em queda
Um cenário idêntico é registado entre as matérias-primas, que estão a ser impactadas pelos mesmos receios. Com os sinais de uma desaceleração da procura internacional, os preços do petróleo tem vindo a cair nas últimas sessões, uma tendência que se prolonga nesta quinta-feira.
O barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência para o mercado europeu, segue a desvalorizar mais de 1%, para a casa dos 107 dólares, e acumula a terceira sessão consecutiva em queda. Já o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, está a perder perto de 2%, estando também a cotar na casa dos 107 dólares.
O mesmo acontece com os metais, como o cobre, o zinco e o estanho a registarem todos quedas superiores a 1% na London Metal Exchange.
Bolsa portuguesa resiste
A contrariar a tendência de queda acentuada verificada ao longo deste ano tem estado a bolsa portuguesa, que, apesar de registar um desempenho negativo no conjunto de 2022, está a sofrer perdas muito menos expressivas do que as pares europeias.
Desde o início deste ano, e até ao fecho da sessão de quarta-feira, o PSI acumula uma desvalorização de 5,6%, valor que fica muito aquém da queda superior a 18% que o Stoxx 600 regista desde o início deste ano.
Esta manhã, o índice accionista português volta a contrariar a tendência europeia e segue a valorizar em torno de 0,6%, impulsionado, sobretudo, pelo sector energético, com a EDP a somar mais de 2% e a EDP Renováveis a avançar cerca de 1,3%.