Investigadores do Porto estudam causas dos abortos espontâneos recorrentes
Em cerca de 1% a 5% dos casais, a perda de gravidez é recorrente. Existem várias causas e factores de risco conhecidos, no entanto 50% dos casos de abortos recorrentes não têm explicação.
Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) estão a estudar as causas dos abortos espontâneos recorrentes, um estudo que visa “melhorar o aconselhamento genético aos casais que sofrem perdas recorrentes de gravidez”, foi revelado esta quarta-feira.
O projecto chama-se “EpiRep - 2021: O papel dos mecanismos (epi)genéticos na maturação do ovócito e na perda de gravidez idiopática - contribuição para a reprodução humana” e é financiado em quase 50 mil euros pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A FMUP aponta que o estudo deve estar concluído em Abril de 2023.
O objectivo é “avaliar os mecanismos genéticos e epigenéticos subjacentes ao processo biológico de formação das células reprodutoras femininas, os ovócitos (ovogénese), e ao desenvolvimento embrionário e fetal”, explica a professora da FMUP e investigadora principal do projecto, Sofia Dória. “O estudo dos factores (epi)genéticos que influenciam o desenvolvimento dos ovócitos e função placentária e que, potencialmente, explicam algumas perdas de gravidez idiopáticas permitirá o desenvolvimento de novas abordagens para ajudar a alcançar uma gravidez bem-sucedida”, acrescenta a especialista, citada em informação da FMUP.
Com este projecto, os investigadores pretendem identificar as características essenciais associadas à regulação da transcrição e às interacções dos ovócitos humanos com as células não reprodutivas, ou somáticas, circundantes durante a maturação dos ovócitos, realizando a análise do transcriptoma [o conjunto de ARN resultante da transcrição da molécula de ADN e que sintetiza as proteínas a partir dos genes] através da técnica ARN-Seq. Paralelamente, a equipa de investigadores do Porto perspectiva estudar o transcriptoma em amostras de placenta de perdas de gravidez espontâneas ao longo dos três trimestres de gestação.
Outra das etapas deste estudo consistirá em “agrupar diferentes populações celulares e, deste modo, determinar que tipos de células da placenta estão a contribuir para as possíveis alterações observadas na expressão génica”. Dados apontam que 10% a 15% das gravidezes conhecidas terminam num aborto espontâneo.
Em cerca de 1% a 5% dos casais, a perda de gravidez é recorrente. Existem várias causas e factores de risco conhecidos, no entanto 50% dos casos de abortos recorrentes não têm explicação.