Lista de desaparecidos no México ultrapassa os 100 mil

Organizações de defesa de direitos humanos pedem mais acção ao Governo para lidar com os desaparecimentos, que estão, na maioria dos casos, ligados ao crime organizado.

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Memorial pelos desaparecidos no México LUIS CORTES/Reuters

O número de pessoas dadas oficialmente como desaparecidas no México aumentou para mais de 100 mil, segundo dados do Governo divulgados na segunda-feira, enquanto grupos de famílias pedem que as autoridades aumentem os esforços para encontrar vítimas de violência ligada ao crime organizado.

O registo nacional de pessoas desaparecidas do Ministério do Interior data de 1964 e é actualizado periodicamente. Nos últimos dois anos, passou de cerca de 73 mil pessoas desaparecidas para mais de 100 mil, a maioria homens.

Organizações de defesa de direitos humanos e famílias dos desaparecidos têm mostrado alarme e pedido ao Governo para levar a cabo, com urgência, buscas mais eficazes e melhorar a investigação.

“É incrível que os desaparecimentos ainda estejam a aumentar”, comentou Virginia Garay, cujo filho desapareceu em 2018 no estado de Nayarit, na costa do Pacífico.

Garay trabalha com mais famílias de desaparecidos num grupo, como há muitos que surgiram de iniciativas da sociedade civil. “O Governo não está a fazer o suficiente para os encontrar”, declarou.

Os casos de desaparecimento têm aumentado a pique desde 2006/7, depois de o antigo Presidente Felipe Calderón ter mandado o Exército para as ruas para lutar contra os traficantes de droga, levando a uma onda de violência que o actual Governo ainda está a tentar diminuir. Desde 2006 morreram 350 mil pessoas. No ano passado, o país registou uma média de 94 assassínios por dia.

Na semana passada, um outro relatório revelou que o número de migrantes desaparecidos no México aumentou quase quatro vezes entre 2020 e 2021.

Alguns grupos da sociedade civil não comunicam os desaparecimentos às autoridades porque não confiam nelas – o número real de pessoas desaparecidas será, assim, muito maior.

“O crime organizado tornou-se um actor central nos desaparecimentos no México, com graus variados de participação, concordância ou omissão da parte de funcionários públicos”, indicava um relatório da comissão da ONU sobre desaparecimentos forçados, publicado no mês passado.

O relatório responsabiliza o Estado pelos desaparecimentos ligados a funcionários públicos, “mas também podem ser responsáveis pelos desaparecimentos cometidos por organizações criminosas”, acrescentou a ONU.

Os Estados partes são directamente responsáveis pelos desaparecimentos forçados cometidos por funcionários públicos, mas também podem ser responsáveis pelos desaparecimentos cometidos por organizações criminosas, argumentava ainda a ONU.

Entre as pessoas desaparecidas há defensores dos direitos humanos, e alguns deles foram mesmo vítimas do seu próprio envolvimento na luta contra os desaparecimentos.

No país, ainda segundo a ONU, desapareceram ainda mais de 30 jornalistas entre 2003 e 2021.

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