Jake Daniels é o primeiro profissional do futebol inglês a assumir a homossexualidade
Apesar de afirmar que sempre soube ser homossexual, Daniels conta que chegou a pensar, quando era criança: “Um dia, quando for mais velho, vou arranjar uma namorada e vou mudar e tudo ficará bem”.
Jake Daniels, um futebolista de 17 anos que joga no Blackpool, da II Liga inglesa (Championship), é o primeiro jogador profissional britânico no activo a assumir publicamente a homossexualidade. O jogador fê-lo através de um comunicado divulgado esta segunda-feira.
“Esta época foi fantástica para mim. Fiz a primeira partida profissional, marquei 30 golos nas camadas jovens e assinei o meu primeiro contrato profissional. Mas, fora do campo, escondi quem realmente sou. Sempre soube que era homossexual e sinto que agora estou pronto para o assumir e ser eu mesmo”, disse Jake Daniels, numa mensagem divulgada no site do clube, em que assume: “Há muito tempo que penso em como o quero fazer, quando o quero fazer. Sei que agora é a altura certa. Estou pronto para ser eu próprio, a ser livre e a ter confiança em tudo isto”.
Apesar de afirmar que sempre soube ser homossexual, Daniels conta que chegou a pensar, quando era criança, que “um dia, quando for mais velho, vou arranjar uma namorada e vou mudar e tudo ficará bem”. “Mas, à medida que se envelhece, percebe-se que não se pode simplesmente mudar. Não funciona dessa maneira.”
De contar à família ao mundo
Jake Daniels recorda, no seu testemunho, que as primeiras pessoas a quem revelou ser homossexual foram a mãe e a irmã, com que reside. “'Sim, já sabíamos’, foi como ambas reagiram”, contou. Seguiu-se o resto da família e, por essa altura, o jogador confessou ter-se sentido “muito assustado porque não sabia como a geração mais velha poderia reagir”. No entanto, os receios revelaram-se infundados: “Tive tantas mensagens a dizer: ‘estamos orgulhosos e apoiamos-te'”.
Depois da família e dos amigos mais chegado, Daniels assumiu a sua homossexualidade juntos dos parceiros de equipa e dos restantes membros do clube. E o Blackpool elogiou a bravura do adolescente: “O Blackpool Football Club (...) está incrivelmente orgulhoso por [Jake Daniels] ter chegado a uma fase em que tem o poder de se expressar tanto dentro como fora do campo. É vital que todos promovamos um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para serem elas próprias, e que o futebol lidere o caminho na eliminação de qualquer forma de discriminação e preconceito.”
O seu gesto foi recebido com muitas de mensagens de simpatia e admiração de todo o futebol inglês. “És uma inspiração para todos nós, Jake”, escreveu o Leicester, da Premier League, na sua conta de Twitter.
Já a Premier League comentou, numa mensagem publicada no seu site, que “o futebol é um desporto para todos”, elogiando a coragem de Daniels e considerando que foi dado “um grande passo na direcção certa” para tornar o futebol “um desporto verdadeiramente inclusivo”.
Ser gay e futebolista
“Ser homossexual ainda é um tabu no futebol masculino. Acho que é porque muitos futebolistas querem ser reconhecidos pela sua masculinidade. As pessoas olham [a homossexualidade] como uma fraqueza, algo que em campo pode ser encarado como uma provocação”, observou Daniels.
Na verdade, a homossexualidade não tem tido espaço dentro das quatro linhas, salvo para raras excepções. No fim do ano passado, Josh Cavallo, jogador do australiano Adelaide United, assumiu a sua homossexualidade num vídeo publicado no Twitter pelo seu clube. O médio, actualmente com 22 anos. revelou que manteve a sua orientação sexual escondida durante anos, por medo de não poder cumprir o seu sonho de ser futebolista: “Enquanto crescia, senti sempre a necessidade de me esconder, porque tinha vergonha.”
Já no Reino Unido, o único futebolista a assumir ser homossexual foi Justin Fashanu, ex-avançado do Norwich e do Nottingham Forrest, numa altura em que já não corria pelos grandes. No entanto, na década de 90 do século passado, a sua revelação não foi bem acolhida. Vários colegas de profissão reagiram mal à declaração, afirmando que os gays não tinham lugar num desporto de equipas.
Depois de se ter apresentado como homossexual, Justin Fashanu viu sua carreira a entrar em declínio e acabou por decidir mudar-se para os EUA, onde jogou no Atlanta Ruckus. Seguiu-se a Nova Zelândia, onde jogaria pelo Miramar Rangers.
Já aposentado do futebol, Fashanu foi acusado de ter agredido sexualmente um menor de 17 anos. Foi detido e interrogado a 3 de Abril de 1998; um mês depois, foi encontrado morto. Deixou uma carta onde se lia que “ser gay e uma personalidade pública é muito difícil”, esclarecendo que não agrediu sexualmente o jovem que o acusara. “Ele teve sexo consensual comigo; no dia seguinte, pediu dinheiro. Quando recusei, ele disse: ‘espere e vai ver’.”