Tunisinos manifestam-se contra o Presidente e exigem regresso à ordem democrática

Desde o Verão passado que Kais Saied governa sozinho, depois de dissolver o Parlamento. Substituiu o conselho da magistratura e a comissão eleitoral e quer mudar a Constituição democrática de 2014. Tem todos os partidos políticos contra si.

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Uma das manifestações deste domingo em Tunes MOHAMED MESSARA/EPA

Milhares de tunisinos manifestaram-se este domingo contra o Presidente, Kais Saied, exigindo o regresso à ordem democrática normal e rejeitando a substituição da comissão eleitoral independente por uma nomeada pelo próprio chefe de Estado.

“As pessoas querem democracia” e “Saied liderou o país para a fome” foram duas das palavras de ordem gritadas pelos manifestantes no principal protesto no centro de Tunes, o maior contra Saied em meses, uma semana depois de uma marcha bem mais pequena de apoiantes.

“Tornou-se claro que as ruas apoiam um regresso ao caminho democrático”, afirmou Samir Chaouachi, a vice-presidente do Parlamento dissolvido, que, tal como outros opositores, acusa o chefe de Estado de ter dado um golpe.

Ressaltando a oposição generalizada entre os partidos políticos a Saied, que parece manter alguma popularidade entre as pessoas comuns, centenas de apoiantes do antigo líder autocrático do país realizaram uma manifestação de protesto separada contra o actual Presidente.

Saied consolidou o seu Governo de um homem só desde que assumiu o poder executivo no Verão passado, demitindo o primeiro-ministro, Hichem Mechichi, e dissolvendo o Parlamento, passando a governar por decreto e avisando que substituirá a Constituição democrática através de um referendo, marcado para Julho.

O Presidente nega a tese do golpe, justificando que agiu por necessidade de salvar a Tunísia de anos de paralisia política e estagnação económica nas mãos de uma elite corrupta e egoísta que havia assumido o controlo do Governo.

Mas, entretanto, a economia e as finanças públicas estão em crise e o Governo está em conversações com o Fundo Monetário Internacional para um pacote de resgate no meio das dificuldades e da pobreza generalizadas.

As movimentações de Saied colocaram a Tunísia na sua maior crise política desde a revolução de 2011 que introduziu a democracia e espoletou a Primavera Árabe, ameaçando os direitos e liberdades conquistados há 11 anos.

Substituiu o Conselho Superior da Magistratura que garantia a independência dos juízes, bem como a comissão eleitoral independente, lançando dúvidas sobre a integridade do processo judicial e das eleições.

“A nossa resistência pacífica continuará nas ruas até que restauremos a liberdade e a democracia”, afirmou Tijani Tizaoui, um dos manifestantes, que, diz, esteve preso antes da revolução por participar em protestos.

A Constituição de 2014 foi resultado de meses de negociações intensa entre as facções políticas tunisinas, mas Saied rejeitou os pedidos para um diálogo inclusivo idêntico, dizendo que aqueles que se opõem às suas acções devem ser impedidos de participar nas discussões.

Este domingo, o Partido Constitucional Livre, de Abir Moussi, habitual crítico das políticas democráticas do país desde a revolução, também realizou o seu próprio protesto contra a vontade de Saied de mudar o sistema político sozinho. Reuters

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