Forças ucranianas terão ganho a batalha de Kharkiv, diz Instituto para o Estudo da Guerra
Tropas russas recuaram dos arredores da segunda maior cidade da Ucrânia por causa da contra-ofensiva ucraniana e por dificuldade em trazer reforços. Forças ucranianas impediram os russos de cercar Kharkiv e depois expulsaram-nos, “tal como fizeram às unidades militares russas que tentavam dominar Kiev”.
As forças de Kiev terão “vencido a batalha de Kharkiv”, no Leste da Ucrânia, segundo o norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra. Esta será uma nova vitória ucraniana, depois da retirada das tropas russas de Kiev e de cidades no Nordeste do país — Sumi e Chernihiv, por exemplo — e um novo tropeção na estratégia russa, que não terá considerado uma contínua e violenta resistência ucraniana nem a falta de recursos do seu exército.
“É provável que o exército russo tenha decidido retirar-se completamente das suas posições nos arredores de Kharkiv, face aos contra-ataques ucranianos e à limitada disponibilidade de reforços”, afirmam os investigadores do Instituto para o Estudo da Guerra, numa análise publicada esta sexta-feira. Kharkiv é a segunda maior cidade ucraniana e situa-se a pouco mais de 50 km da fronteira russa.
Já este sábado, o presidente da câmara de Kharkiv, Igor Terekhov, confirmou que as tropas russas estão a abandonar as imediações da cidade. Há cinco dias que a zona não é bombardeada, permitindo o regresso de alguns habitantes, apesar dos enormes danos materiais.
Em declarações à BBC, Terekhov garantiu que os soldados de Moscovo estão agora a recuar em direcção à fronteira. “Os russos têm bombardeado Kharkiv incessantemente, mas, graças aos esforços das Forças de Defesa Territorial e do exército ucraniano, retiraram-se da zona da cidade”, explicou.
Kharkiv está hoje mais “calma”. “Estamos a fornecer água, gás e electricidade aos nossos cidadãos, mas, infelizmente, muitos edifícios residenciais foram destruídos ou estão gravemente danificados”, acrescentou o autarca, com a certeza de que o futuro trará um “enorme trabalho de reconstrução”.
A resposta russa poderá agora passar pela substituição das suas tropas - actualmente numa “retirada ordeira, de volta ao seu país” - por soldados que, não sendo do exército de Moscovo, representem a Rússia ou por mercenários. Até porque de forma geral, o Exército “não tentou resistir aos contra-ataques das forças ucranianas nos últimos dias”.
“As forças ucranianas impediram as tropas russas até de cercar Kharkiv, quanto mais controlá-la, e em seguida expulsaram-nas da cidade, tal como fizeram às unidades militares russas que tentavam dominar Kiev”, explicam os autores do relatório, Kateryna Stepanenko e Frederick W. Kagan.
O controlo de Kharkiv seria um dos objectivos do Kremlin, que intensificou bombardeamentos contra a região desde o início da guerra. Neste momento, a Ucrânia já controla território até 40 quilómetros para Leste da cidade — ou até ao rio Donets, que a Rússia não conseguiu atravessar.
De acordo com os serviços secretos britânicos e o governador da região de Lugansk, Serhiy Haidai, a Rússia perdeu, em três tentativas falhadas de atravessar o rio, uma quantidade significativa de armamento, blindados, lanchas e helicópteros “que usavam para cobrir as suas investidas”, destruídos pelas forças ucranianas, garante Haidai.
Ainda assim, os combates violentos, com recurso a artilharia pesada, e os ataques aéreos não cessaram no Leste ucraniano. A Rússia continua a bombardear vilas e aldeias a Norte de Kharkiv, mesmo que os avanços das suas tropas sejam lentos.
Também no Donbass, onde Putin já reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk, as ofensivas russas concentram-se em Severodonestk e Lysychansk, a 80 quilómetros da fronteira. Ainda que o Kremlin possa não ter reforços suficientes para compensar as suas baixas e cercar as cidades, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, “é provável que continue a tentar fazê-lo”.
“Estamos a entrar numa nova e longa fase da guerra”, afirmou o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, na noite desta sexta-feira. A previsão é de “semanas extremamente difíceis”, em que a Ucrânia estará quase sozinha contra um “agressor furioso”, acrescentou Reznikov.