Exército de Israel admite que soldado israelita possa ter morto jornalista da Al Jazeera

Primeira reacção israelita foi dizer que era provável que o disparo tivesse vindo de combatentes palestinianos. Um dia mais tarde, afirmou “ser impossível” dizer quem disparou.

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Memorial em honra de Shireen Abu Akleh, jornalista da Al Jazeera que era a cara da estação na Palestina NADEEM KHAWAR/EPA

A morte de Shireen Abu Akleh, repórter da Al Jazeera que era a cara da estação pan-árabe para as questões palestinianas, durante uma operação militar israelita no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, pode ter sido causada por um soldado israelita, admitiu uma fonte militar, sob anonimato, ao diário norte-americano The Washington Post.

A pressão está a subir sobre Israel, com o Qatar, que detém a emissora, e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, a acusarem o Exército israelita pela morte da jornalista, de 51 anos, na quarta-feira de madrugada.

O Exército de Israel e os responsáveis do país foram rápidos em dizer que o tiro teria vindo provavelmente de um combatente palestiniano, já que, argumentaram, os soldados israelitas ficaram sob fogo em Jenin.

No entanto, os outros jornalistas palestinianos que acompanhavam Shireen Abu Akleh disseram que não havia, na altura, combatentes palestinianos perto, nem estava a haver qualquer troca de tiros. Todos os jornalistas estavam claramente identificados com coletes à prova de bala com a palavra “Press” e usavam capacetes.

Shireen Abu Akleh era a cara das notícias sobre a Palestina para o mundo árabe. Estava na Al Jazeera desde 1997 e cobriu todos os acontecimentos nos territórios desde então.

O responsável do Exército disse agora ao Post que estavam em investigação três disparos envolvendo os seus soldados, o que o jornal sublinha ser uma mudança significativa no modo como a situação foi descrita.

Também o diário israelita Times of Israel notava esta mudança, citando o próprio chefe das Forças Armadas, Aviv Kohavi. “Neste ponto, não é possível determinar com que disparos é que ela foi atingida”, disse Kohavi, acrescentando uma nota de pesar pela morte.

As forças militares israelitas têm levado a cabo operações praticamente diárias em Jenin, especialmente no campo de refugiados, na sequência de uma onda de ataques que fizeram vários mortos em Israel, alguns deles envolvendo palestinianos da cidade. Desde 22 de Março, morreram pelo menos 18 pessoas nestes ataques em Israel e, segundo as contas da agência AFP, no mesmo período morreram 30 palestinianos e três árabes israelitas, incluindo os autores de alguns dos ataques e pessoas mortas nas operações israelitas na Cisjordânia.

Israel diz ter sugerido uma investigação conjunta que pudesse ser supervisionada pelos Estados Unidos, já que Shireen Abu Akleh tem dupla nacionalidade, palestiniana e americana.

O ministro palestiniano Hussein Al Sheikh disse que não iria cooperar com Israel ou entregar a bala que matou a jornalista, como pediu também o Estado hebraico, acrescentando que o projéctil está a ser examinado na Universidade An-Najah em Nablus.

“Rejeitámos a investigação conjunta com as autoridades da ocupação israelita porque cometeram o crime e porque não confiamos neles”, disse o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, durante uma cerimónia oficial em memória de Abu Akleh, em Ramallah. O funeral da jornalista, que era cristã, decorrerá esta sexta-feira em Jerusalém.

Abbas acrescentou que a Autoridade Palestiniana vai encaminhar o caso para o Tribunal Penal Internacional.

De Israel, o ministro da Diáspora, Nachman Shai, que foi porta-voz do Exército, questionou a narrativa do país. “Com todo o respeito para connosco, digamos que a credibilidade de Israel em acontecimentos como estes não é muito grande”, disse numa entrevista radiofónica, citado pelo diário Haaretz. “Sabemos que não é com base no passado.”

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