Tonale quer convencer os puristas da Alfa Romeo a adoptarem a electrificação
O pequeno SUV italiano que arranca o plano de electrificação da Alfa Romeo chega às estradas nacionais dentro de um mês, com preço a partir de 39 mil euros. Conduzimos a versão 1.5 de 160cv, mas soube a pouco.
Sendo o primeiro passo da Alfa Romeo no caminho para a electrificação, o Tonale chega ao mercado com uma grande responsabilidade: ajudar a marca italiana a recuperar o atraso na oferta ecológica, convencer os puristas Alfa de que a aposta nos SUV veio para ficar, mostrar que o Tonale é uma alternativa premium aos alemães (BMW X1 e X2, ou Audi Q3), e recolocar a insígnia num patamar de desejo e glamour que não se vê há muitos anos (e que levou à decadência nas vendas).
Pelo que sentimos ao volante durante uma manhã nas sinuosas estradas na margem do lago italiano Como, a “metamorfose” no conceito, no design e nos gadgets é bem capaz de marcar muitos pontos, mas nas motorizações vai ser preciso um esforço extra para fazer o coração do condutor bater mais forte.
Dentro de um mês já devem rolar nas estradas portuguesas os motores 1.5 turbo de quatro cilindros a gasolina de 130cv e 160cv associados a um sistema eléctrico de 20cv (15kW) e 55Nm (com uma bateria de lítio muito compacta de 48V, que pesa 13,5 kg e está instalada entre os bancos da frente, integrada na caixa de dupla embraiagem), cujo preço para o motor de entrada começa nos 39 mil euros. No final do Verão, chega o Diesel (um 1.6 de 130cv) e, lá para o Natal, o PHEV, um híbrido plug-in 1.3 turbo a gasolina de 180cv e motor eléctrico de 122cv (90kW), com potência combinada de 275cv e tracção integral, que poderá vir a corresponder às expectativas que sentimos de alguma forma defraudadas com a mecânica que conduzimos.
“É o Alfa Romeo mais tecnológico de sempre”, assegurou Vincent Devos na apresentação técnica do Tonale no Templo Voltiano, o museu dedicado a Alessandro Volta, o inventor da bateria eléctrica, na margem do lago italiano Como. Para além de abrir as portas à electrificação da gama, o Tonale funciona de forma integrada com uma app que permite, por exemplo, falar com a assistente Alexa, abrir o carro a longa distância e interagir com o sistema de navegação, e que incorpora o certificado digital NFT (non-fungible token).
Nas linhas interiores e exteriores (mais na dianteira do que na traseira, saliente-se), assim como na qualidade de materiais (pele, alumínio e tecido estão bem combinados) e montagem e na tecnologia de conforto e segurança disponível, não há dúvidas de que o Tonale bebe muito no espírito Alfa Romeo. É charmoso, envolvente, confortável, espaçoso (o banco traseiro tem bom espaço para as pernas e aproveita-se até à porta; a bagageira de 500 litros é bem generosa).
Na estrada, porém, parece faltar-lhe um pouco dessa alma da Alfa. O chassis já usado no Jeep Compass (a partir da base do Giulietta) foi estruturalmente reforçado em alguns pontos de modo a aumentar a rigidez e as suspensões foram também aperfeiçoadas para conseguir ganhos na estabilidade, na agilidade e no conforto (isso nota-se na redução do abanão nas lombas). Como opcional há um sistema de suspensão ajustável.
O Tonale tem três modos de condução controlados por um botão perto da caixa: Dynamic (D), Natural (N) e Advanced Efficiency (A). O último é o ideal para a condução em cidade: o motor eléctrico de 48V consegue que o Tonale arranque e circule apenas em modo eléctrico a baixa velocidade (até aos 25 ou 30km/h) e tem um elevado poder de regeneração da energia produzida pelo travão e movimento das rodas. O modo Natural faz uma gestão optimizada entre o modo eléctrico e de combustão para conseguir o melhor equilíbrio entre consumo e performance. E quem dá primazia a esta última tem o modo Dynamic.
O bloco 1.5 de 160cv VGT (turbo de geometria variável) criado exclusivamente para o Tonale, acoplado a uma transmissão de sete velocidades que testámos mostrou-se um motor calminho, sem grandes rasgos de prazer de condução — se bem que o trajecto escolhido pela marca também não permitisse grandes aventuras. Mas também é certo que este chassis, instalado no Jeep Compass (derivado já do Giulietta), pede mais motor: este bloco responde mesmo em regimes mais baixos devido à ajuda do motor eléctrico, no entanto, falta-lhe a garra na resposta que se esperaria de 160cv.
A marca anuncia uma aceleração dos 0 aos 100 em 8,8s e uma velocidade máxima de 210 km/h. Além disso, o consumo médio oficial anunciado de 6,3 litros/100km (que já inclui a ajuda estimada de 15 a 20% de poupança do eléctrico quando comparado com o uso exclusivo do motor de combustão) é alto para um motor híbrido deste calibre — e confesso que, sem olhar a poupanças, gastámos uma média de 10,2l neste teste.