Unionistas recusam integrar governo norte-irlandês sem que haja revisão das regras comerciais

Derrotado pelo Sinn Féin nas eleições na Irlanda do Norte, o DUP quer que todas as barreiras ao comércio sejam removidas.

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Jeffrey Donaldson, líder do DUP Reuters/CLODAGH KILCOYNE

O Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte recusou esta segunda-feira formar um novo governo de partilha de poder até que as regras comerciais pós-"Brexit” sejam revistas, rejeitando os pedidos de Londres e Dublin para voltar rapidamente ao executivo.

O Sinn Féin, antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), suplantou o DUP nas eleições na Irlanda do Norte e tornou-se no partido mais representado na Assembleia do território, pela primeira vez em 101 anos.

Sob os termos do acordo de paz de 1998 que encerrou três décadas de conflito sectário na província controlada pelos britânicos, os principais rivais nacionalistas e unionistas são obrigados a dividir o poder.

O DUP prometeu não fazer parte do governo até que o Reino Unido e a União Europeia concordem em levantar as barreiras comerciais entre o território e o resto do Reino Unido impostas pelo protocolo da Irlanda do Norte. O partido manteve a posição depois de um encontro com o ministro britânico para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis.

"Deixámos claro que até que ele honre seu compromisso, não nomearemos ministros para o executivo”, disse o líder do DUP, Jeffrey Donaldson.

A eleição reafirmou que a maioria dos legisladores, incluindo os do Sinn Féin, é a favor da manutenção do protocolo, o documento anexo ao acordo do “Brexit” que criou um sistema regulatório aplicável à entrada de produtos na Irlanda do Norte vindos de Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Enquanto o DUP quer que todas as barreiras comerciais sejam removidas, o Sinn Féin e outros contentar-se-iam com alguma flexibilização das regras.

“Qualquer táctica de atraso do DUP, qualquer jogo do Governo britânico que queira usar a Irlanda do Norte como moeda de troca será claramente intolerável e não deve acontecer”, afirmou a presidente do Sinn Féin, Mary Lou McDonald.

Londres há muito ameaça anular unilateralmente partes do protocolo e Lewis disse esta segunda-feira que “não se esquivaria de tomar outras medidas, se necessário” se um acordo com a UE não pudesse ser alcançado.

O embaixador da UE no Reino Unido disse que o bloco está pronto para regressar às negociações sobre o protocolo, mas não irá rever o acordo que é central para as regras comerciais pós-"Brexit”.

“Vamos ser claros: não estamos prontos para renegociar um tratado internacional que assinámos há apenas alguns anos”, disse João Vale de Almeida à BBC esta segunda-feira.

“Mas também está claro na nossa mente que uma acção unilateral cria mais problemas do que os que resolve. Portanto, precisamos de encontrar soluções acordadas em conjunto”, acrescentou.

Vale de Almeida disse que a UE está pronta para conversar com os políticos unionistas sobre os seus receios em relação ao protocolo irlandês.

O primeiro-ministro da República da Irlanda, Micheál Martin, afirmou que quaisquer novos reveses nas negociações provariam que o “Brexit” ainda não foi resolvido, mas há abertura para facilitar o comércio. “A União Europeia precisará de uma indicação de que as pessoas estão dispostas a resolver a situação, mas não pode haver mais concessões atrás de concessões”, disse Martin à rádio RTE.