Bzzz, truz-truz, tão-balalão: escutaram-se onomatopeias em Valongo
Festival de Literatura Infanto-Juvenil de Valongo animou a cidade. O Onomatopeia durou sete dias e ainda há exposições de ilustração para ver.
A quarta edição do Onomatopeia quis voltar ao contacto directo com os participantes e alargou o período do festival: “Depois de duas edições online, onde as crianças e os adultos não tiveram a oportunidade de estar em contacto com os escritores, ilustradores, contadores de histórias, músicos, cantores, decidimos que esta edição teria de ir mais longe, teria de ser uma edição onde se percebesse a vontade de estarmos uns com os outros. E valorizarmos os outros”, disse ao PÚBLICO Adélia Carvalho, curadora do encontro, organizado com a Câmara Municipal de Valongo.
Ao longo de sete dias, mais de 30 convidados ajudaram a preencher cerca de 80 horas de programação. Ainda antes de o festival começar, havia já 1400 crianças inscritas para as actividades programadas para os dias de semana. No fim-de-semana, esse número aumentou significativamente, com as famílias a encher as oficinas que se realizaram na Biblioteca Municipal de Valongo, no Largo do Centenário e na Oficina da Regueifa e do Biscoito.
Animadas foram também as “batalhas entre escritores”, que consistem num frente-a-frente entre dois autores, desafiados a criar uma história “ao momento” e de viva voz. Um escritor começa a inventar uma história, é interrompido pelo moderador com uma onomatopeia e o outro terá de prosseguir o conto a partir do que foi escutado antes, integrando, com a lógica possível, os bzzz, truz-truz, tão-balalão. Depois, volta-se ao primeiro, regressa-se ao segundo, até o moderador decidir que a história ficou completa.
As disputas aconteceram no Largo do Centenário e defrontaram-se os autores Raquel Patriarca-Vitória Alves; Vitória Alves-Joana Estrela; David Machado-Isabel Zambujal; Adélia Carvalho-David Machado; Marta Bernardes-Rui Zink; Isabel Zambujal-Rita Taborda Duarte; Raquel Patriarca-Carlos Granja. Apesar de serem “batalhas”, nestes exercícios criativos e divertidos, todos ganham.
Prémio ibérico Álvaro Magalhães
Adélia Carvalho, também escritora e editora, destaca nesta edição a celebração dos 40 anos de vida literária de Álvaro Magalhães, “um dos nossos melhores autores de literatura infanto-juvenil”, e o lançamento de um prémio literário com o seu nome.
Iniciativa da Câmara Municipal de Valongo, o prémio, com o valor monetário de cinco mil euros, tem alcance ibérico, é anual e “pretende reconhecer a melhor obra de literatura portuguesa ou espanhola editada no mercado nacional no ano anterior ao galardão”, disse a curadora à Lusa. A escolha será feita por um júri e anunciada na próxima edição do festival, em 2023.
A homenagem Álvaro Magalhães — 40 Anos a Brincar com as Palavras realizou-se na Oficina da Regueifa e do Biscoito, na noite de sexta-feira. Rui Couceiro conversou com o poeta, houve leituras de excertos da sua obra, a projecção das ilustrações criadas por Cátia Vidinhas para a reedição de O Brincador (Porto Editora) e também a visualização de vídeos com depoimentos de amigos que não puderam estar presentes na homenagem.
Apelo ilustrado à paz
Duas grandes causas nortearam o Onomatopeia deste ano: a protecção do ambiente e o regresso à paz.
A primeira causa “faz jus ao título ‘Valongo, embaixador verde’, decorrente da atribuição da Folha Verde da Europa 2022”. O concerto Fauna e Flora integrou-se neste propósito, “um espectáculo musical com instrumentos a partir de objectos reciclados”.
A segunda causa traduz-se na exposição colectiva Os Traços da Guerra. Nas palavras da curadora, “o olhar de mais de cem ilustradores, espalhados por todo o mundo, que, de forma espontânea, publicaram ilustrações nas redes sociais, num apelo universal a uma paz que tarda, mas todos acreditam que vai chegar”. E acrescenta: “Da Ucrânia chegam as ilustrações mais delicadas e emotivas.” A exposição pode ser vista no Fórum Cultural de Ermesinde até 30 de Junho.
Outras mostras de ilustração estarão patentes até dia 31 de Maio na Biblioteca Municipal e Câmara Municipal de Valongo, Vila Beatriz (Ermesinde) e Centro Cultural de Alfena, com a participação de Alex Gozblau, Anabela Dias, Cátia Vidinhas, David Pintor, Evelina Oliveira, Gonçalo Viana, José Manuel Saraiva, Marta Madureira, Sebastião Peixoto e Yara Kono.
“Para nós, que programamos e executamos o Onomatopeia, são sete dias intensos”, disse Adélia Carvalho ao PÚBLICO no início do festival, dia 2 de Maio. Formulou ainda um desejo: “Esperamos que sejam sete dias intensos também para crianças e adultos que gostam de ler e brincar.” Para concluir: “Há lá melhor coisa no mundo!”