Funcionárias de lar na Madeira condenadas por maltratar e drogar idosos. Penas foram suspensas
Quatro funcionárias foram condenadas a pena de prisão suspensa, por abusos que se prolongaram durante quase uma década num lar de idosos no Porto Moniz. Antiga directora está em parte incerta.
Quatro funcionárias de um lar no Porto Moniz, uma vila no Norte da Madeira, foram condenadas esta sexta-feira no Juízo Central Criminal do Funchal por crimes de maus-tratos contra idosos que estavam internados na instituição.
As penas, todas suspensas, variam entre um ano e oito meses e três anos de prisão, acrescidas do pagamento de uma indemnização de mil euros a cada uma das vítimas de maus-tratos.
Uma quinta funcionária que vinha acusada dos mesmos crimes, foi absolvida, e a directora-geral da instituição à data dos factos – entre 2009, quando o lar começou a funcionar, e o final de 2018, quando foi apresentada queixa ao Ministério Público –, Ana Serralha, que é também arguida no processo, encontra-se ausente em parte incerta. Por esse motivo, no início do julgamento, a 26 de Maio do ano passado, o Ministério Público (MP) solicitou a separação do processo, que ainda não teve desenvolvimentos por dificuldades em notificar a antiga directora, que foi deputada do PSD no parlamento madeirense entre 2011 e 2015.
De acordo com a acusação, que o colectivo de juízes presidido por Ana Rita Barra deu como provada, a instituição teve problemas praticamente desde a abertura. Os utentes eram alvo de agressões físicas, ameaçados, referidos por alcunhas depreciativas e muitas vezes excessivamente medicados, para que não dessem trabalho às funcionárias.
Os psicofármacos eram administrados sem receita médica, e muitas vezes em doses excessivas, levando a que os idosos dormissem profundamente. O MP reporta a utilização de Haldol (Halopedirdol) e Tercian (Ciamemazina), e fala de episódios de utentes a dormirem mais de dois dias.
O DN-Madeira cita o MP sobre o caso de uma idosa que tinha a alcunha de Rosa Mota por ser bastante agitada, e da existência de um saco com esse nome, que continha medicação para acalmá-la, sem qualquer indicação sobre a dosagem. Ana Serralha e outra responsável do lar recomendavam apenas que a utente não fosse medicada ao sábado, pois no domingo era visitada pelo filho.
Só em 2018, nove anos depois de o lar ter entrado em funcionamento, é que os abusos foram interrompidos. Depois de várias queixas apresentadas por familiares, uma inspecção realizada pelas autoridades regionais determinou a suspensão da direcção, através de um processo movido pela Segurança Social. Na sequência, o Governo Regional da Madeira apresentou queixa no MP.
Já em 2019, a presidente da Fundação Mário Miguel que geria o lar, Maria da Cal, foi condenada pelo Tribunal Judicial do Funchal a 60 dias de multa por agressões a uma utente de 83 anos. Os factos ocorreram em Fevereiro do ano anterior quando a antiga responsável se aproximou por trás de uma idosa, colocou-lhe a mão na boca e abanou-lhe com brusquidão a cabeça.
A Fundação Mário Miguel, criada para gerir a instituição, teve quatro fundadores. As já referidas Ana Serralha e Maria da Cal, o antigo presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, e um ex-secretário regional dos Assuntos Sociais, Jardim Ramos.