PS admite renunciar e provocar queda da Câmara de Setúbal se o PSD o fizer primeiro

Autarquia recusa-se a prestar esclarecimentos sobre a polémica dos refugiados ucranianos que foram recebidos por funcionários russos. Vereador socialista admite renúncia, se o PSD avançar primeiro, devido à “alteração das circunstâncias políticas no município”.

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“A partir deste momento entendemos que não devemos voltar a comentar publicamente este assunto”, diz o presidente da Câmara Nuno Ferreira Santos

O PS admite renunciar a todos os mandatos na Câmara Municipal de Setúbal, e com isso provocar a queda deste órgão autárquico e a convocação de eleições intercalares, se “todos” os eleitos do PSD tomarem primeiro essa iniciativa.

A possibilidade de os socialistas acompanharem uma renúncia de toda a oposição foi admitida na tarde desta quarta-feira pelo primeiro vereador do PS, Fernando José, em declarações aos jornalistas à margem da reunião de câmara que decorreu.

O autarca do PS justifica a possibilidade de os socialistas avançarem com a renúncia, nessa condição de o PSD avançar primeiro, com a “alteração das circunstâncias políticas no município”. Fernando José argumenta que, com a saída dos dois vereadores do PSD, a CDU, que tem actualmente cinco eleitos, passaria a ter maioria absoluta, uma vez que o PS tem quatro vereadores.

Essa alteração, de maioria relativa da CDU para maioria absoluta e a falta de representatividade, pela renúncia dos vereadores do PSD, seriam motivo, segundo Fernando José para “o PS reunir em 24 horas e provavelmente decidir pela renúncia”.

Mesmo com esta abertura agora revelada pelo PS, a renúncia em bloco da oposição é improvável uma vez que o primeiro vereador do PSD, Fernando Negrão, tem rejeitado a hipótese de renunciar ao mandato, apesar de a proposta ter partido da concelhia do PSD de Setúbal.

Câmara em blackout sobre caso dos refugiados

O presidente da Câmara Municipal de Setúbal disse na tarde desta quarta-feira, no início da reunião pública do executivo municipal, que não pretende fazer mais declarações públicas sobre o caso do acolhimento de refugiados ucranianos por cidadãos russos.

“Na manhã de hoje [quarta-feira], foi-nos comunicado que se iriam iniciar em breve, nesta autarquia, diligências para apuramentos de factos em matéria de acolhimento de refugiados. (...) A partir deste momento entendemos que não devemos voltar a comentar publicamente este assunto”, afirmou André Valente Martins.

Recorde-se que o Governo ordenou uma sindicância aos procedimentos da Câmara de Setúbal, neste caso, pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF) e que solicitou uma investigação da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD).

Na semana passada, o semanário Expresso noticiou que no acolhimento aos refugiados ucranianos na Câmara de Setúbal estavam cidadãos russos alegadamente defensores do regime de Vladimir Putin, que teriam fotocopiado documentos pessoais e feito perguntas que causaram estranheza aos refugiados. Yulia Kashina e Igor Kashin, ela funcionária da autarquia setubalense, ele dirigente da Edinstvo, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, faziam parte da equipa municipal que recebia os refugiados em fuga da guerra.

No sábado, em entrevista ao PÚBLICO, o autarca de Setúbal afirmou que nunca teve “qualquer indício de que houvesse algo de anormal” com a associação Edinstvo, de apoio a imigrantes de leste e que recebeu, nos últimos três anos, quase 90 mil euros da câmara, em subsídios anuais aprovados por todos os partidos do executivo autárquico.

A Associação dos Ucranianos em Portugal (AUP) manifestou preocupação com a possibilidade de simpatizantes de Putin recolherem informações sobre refugiados ucranianos que chegam a Portugal.

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