O luto de um pai vítima de alienação parental

Apelamos para que as mães e os pais que não têm consigo os filhos nunca desistam deles e nunca desistam de pedir ajuda para voltar a abraçar os filhos.

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Os filhos são as principais vítimas dos processos de alienação Getty Images

Um testemunho real de uma situação de um pai alienado, palavras que “são e foram a expressão mais pura” dos seus sentimentos “enquanto pai alienado”.

No dia do pai, José (nome fictício) contatou-me a solicitar uma consulta, com o objetivo de fazer o luto dos filhos. Perguntei-lhe se os filhos tinham falecido, ao que ele respondeu que não, mas tinham sido alienados.

José, um pai, vítima de alienação parental por uma mãe que decidiu autoritariamente, através da adoção intencional e ativa de comportamentos alienadores, criar uma relação de carácter exclusivo entre ela e os seus dois filhos e, ilegitimamente, privá-lo e excluí-lo da vida dos seus filhos e da possibilidade de cuidar deles e os educar.

Como referiu José: “Um dia, espero que por boas causas consigam entender o que sofre um pai marginalizado, totalmente alienado, banido e excluído das suas responsabilidades, deveres e vontades, por força da influência de uma doentia mãe que tudo fez, faz e fará para matar vivo um pai, ostracizado ao mais alto nível.” Um pai que tem de fazer o luto, não por falecimento dos filhos, mas por efeito de alienamento de uma mãe.

Referindo-se a como se sentiu no dia do pai, ao não ter os seus filhos com ele, José disse: “Hoje é dia do que eu já não sou! — 19 de março... Já fui muito feliz nesta data. Cheguei a sentir-me, interiormente, o homem mais importante, qual presidente da República, qual líder...”
Mas é profunda a dor e infelicidade que este pai sente: “Hoje não sou nada, apenas um homem mais infeliz do que qualquer outro, outro que nunca tenha sido pai, outro que se sinta amputado de um membro, de um qualquer prazer, outro que tenha sentido que morreu para o mundo como pai, educador, disciplinador e boa influência.”

José foi um pai que desistiu: “Nada mais farei, e tudo o que poderia fazer mais uma vez, iria ser usado contra mim... Não vou procurar quem não quer ser encontrado, quem me evita, quem me despreza e ignora... Tudo aquilo que fiz ao longo de 15 anos reverteu contra mim. A Justiça deu-me forças para lutar, as evidências deram-me forças para desistir!... Eu prefiro desistir e renunciar, pois morto já me sinto.”

Sente-se ferido por um sentimento de injustiça por um crime que não cometeu: “Pelo desprezo, deverei ter cometido o maior dos crimes, dos atentados contra as liberdades, direitos e garantias daqueles que tive como filhos!”

Este longo processo de alienação tem efeitos devastadores no equilíbrio emocional dos filhos manipulados, destruídos por não poderem amar ambos os pais. Este pai refere ainda: “Mais forte que tudo isso é e são as influências, pressões e chantagens de que são alvo, conscientes ou não do sofrimento que me infligem.”

José, como muito outros pais, afasta-se e desiste de lutar, porque sente que essa atitude protege os filhos do conflito destrutivo entre o casal parental: “Só não quero sentir-me responsável por possíveis desvios de personalidade dos meus filhos, por força de tanta ‘pancada’, para endireitar e para entortar, como tem acontecido ao longo dos anos.” Refere-se ainda ao medo do impacto do conflito nos filhos: “As más consequências poderão ser bem piores e mais fortes do que um possível resgate.”

E fala das sequelas e do sofrimento dos filhos decorrentes da vulnerabilidade emocional do processo de alienação parental que poderão repercutir-se em consequências psicológicas para o resto da vida: “Poderão no futuro acusarem-me de ter desistido, mas nunca me poderão acusar de terem comportamentos desviantes por força da minha insistência em querer ser pai.”

O José é um pai que já não acredita que seja possível alterar a situação: “Esse resgate será muito pouco eficaz perante tamanha má influência que irão voltar a sofrer, e mais uma vez o ciclo se repetirá, como tem acontecido, ciclo atrás de ciclo, ao longo destes anos todos... A história continua a repetir -se, até que um de nós desista, renuncie ou morra!”

Os filhos são as principais vítimas dos processos de alienação; os filhos não têm maldade, seja qual for a idade; e sentem-se culpados de fazer sofrer; e eles próprios sofrem por não poder partilhar o seu amor pelas pessoas mais importantes da sua vida — os pais. Por isso, digo a José e a todos os pais: nunca culpem os filhos; nunca se zanguem; não digam que os filhos “já têm idade, conhecimento, maldade e noção dos seus atos e do quanto eles fazem sofrer quem assiste diariamente à tristeza de não poder ser pai”.

Apelamos para que as mães e os pais que não têm consigo os filhos nunca desistam deles e nunca desistam de pedir ajuda para voltar a abraçar os filhos. Os filhos precisam que os pais não desistam deles, que se lembrem de que, independentemente da sua idade, estes estão as principais vítimas dos alienadores, alvos de uma verdadeira violência doméstica, vítimas de manipulações emocionais, de isolamento face ao pai ou mãe e, frequentemente, de toda a família alargada, carregando consigo o sentimento de culpa, muita angústia e insegurança.

Terminamos com um testemunho de José, em que, apesar da sua desilusão, expressa uma mensagem de esperança para que um dia os filhos voltem a procurá-lo: “Sim, desisto definitivamente. Porém, as minhas portas não se fecharão a uma possível procura que eles, um dia como pais, me queiram fazer.”

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