A crise causada pelas alterações climáticas é “a missão da nossa geração”, afirmou o ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, na apresentação do Azul, o novo projecto do PÚBLICO dedicado ao ambiente, crise climática e sustentabilidade. “A nossa tarefa é exigente”, disse, numa mensagem transmitida em vídeo esta sexta-feira na Galeria da Biodiversidade, no Porto.
A cerimónia de apresentação do Azul ficou marcada pela necessidade de se comunicar de forma eficaz o problema das alterações climáticas e da sustentabilidade. “A ciência por si só não é suficiente” no combate a esta crise climática, afirmou Humberto Rosa, director para a Biodiversidade na Direcção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia. “É indispensável, mas não é suficiente. Há algo mais que é necessário. Nas alterações climáticas, esse algo mais vem não só dos factos, mas da percepção dos factos”, afirmou.
Para o director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, “a crise climática é, sem dúvida, o tema que vamos ter de endereçar e que é incontornável”. O Azul foi lançado depois de meses de “diálogo, construção conjunta, tentativas e erros”. O objectivo é dar resposta à “agenda do ambiente, sustentabilidade, biodiversidade”, que sirva também como uma plataforma aberta a toda a sociedade. “Havia por parte da sociedade esta necessidade, esta falta. É dever do jornalista dar resposta a isto”, disse. E acredita que o projecto deixará “uma marca na grande discussão, luta e desafio que todos temos à nossa frente que é o desafio da crise climática”.
A nova secção do PÚBLICO dedicada a ambiente, crise climática e sustentabilidade chama-se Azul e foi apresentada no Porto, no Dia da Terra.
Tiago LopesTambém Andreia Sanches, directora-adjunta do PÚBLICO que acompanhou de perto o desenvolvimento do Azul, explica que o objectivo é apresentar a informação de forma diferente. Com “muita infografia, muito vídeo, muito multimédia, seja em notícias da actualidade ou grandes reportagens”, sendo também “muito importante a comunicação com os leitores”.
Trazer a ciência e falar com a ciência
E essa comunicação dos desafios ambientais ganha importância porque “o caminho da sustentabilidade não se faz sem informação e sem sensibilização”, afirmou Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, um dos mecenas do Azul. O Azul é um site de informação aberto que tem uma equipa própria, na redacção de Lisboa e do Porto. É apoiado pelo Biopolis, um projecto de ciência financiado por uma acção fundos europeus, e pela Fundação Calouste Gulbenkian; a Lipor e a Sociedade Ponto Verde também fazem parte do grupo de mecenas.
Para Ana Trigo Morais, o Azul permite “trazer mais literacia, mais conhecimento”, para que se possa preservar os recursos naturais e preservar o capital natural. “O nosso desejo é que, com este projecto, as pessoas sintam que está no comportamento de cada um podermos contribuir para um país mais sustentável”. Considera que uma das “particularidades” deste novo projecto é “trazer a ciência e falar com a ciência” – e “veio colocar o dedo na ferida de promovermos a literacia ambiental para traçarmos um caminho mais acelerado para a sustentabilidade”.
E a mudança pode começar por muitos lugares. Pela alimentação, pela mobilidade ou mesmo pela energia que se consome em casa, afirmou Filipa Saldanha, subdirectora do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável. “Mas não é tarefa fácil, requerem uma mudança de paradigma” – tanto da parte de decisores, gestores ou consumidores. Daí que não se possa “descurar o papel do jornalismo nesta transição”. São a fonte mais próxima das pessoas porque “têm o potencial de conseguir melhor que ninguém a massificação de mensagens, da partilha e debate de ideias”. Para isso, é preciso que a mensagem passe. “Precisamos urgentemente de passar de um processo de consciencialização para mudanças concretas – que é o desafio mais difícil de colmatar”, afirma a subdirectora.
Filipa Saldanha comentou ainda que não se tem conseguido acompanhar os alertas da comunidade científica e que “existe uma comunicação pouco eficaz sobre o desafio da crise climática”. E é aí que “o Azul tenta precisamente alavancar a enorme responsabilidade que o jornalismo tem nesta matéria”, diz. “A verdade é que as pessoas, não sabendo como e se conseguem controlar a situação, começam a acusar algum desgaste.” No final, alertou ainda que há perigo de politizar a crise climática e que é importante combater o cepticismo e a posição dos negacionistas.
A década da acção
Na sua intervenção, o ministro Duarte Cordeiro referiu ainda que há que pensar na descarbonização da mobilidade e das cidades; energias e gases renováveis; salvaguarda dos ecossistemas, na preservação do equilíbrio dos oceanos para que se possa atingir a neutralidade carbónica até 2050. E sem nunca esquecer que “a economia se robustece quando se procura a neutralidade carbónica”: “A economia pode e deve ser amiga do ambiente”. O ministro do Ambiente e Acção Climática referiu que é urgente reduzir a independência de energia do estrangeiro e aumentar a soberania energética. Quanto ao Azul, pede que se esteja também de olhos postos no Governo: “O escrutínio crítico e atento ajuda-nos a fazer melhor”.
“A sustentabilidade nunca esteve tanto na hora do dia fruto do contexto que todos vivenciamos agravado pela crise pandémica e pelas guerras regionais”, afirmou Fernando Leite, CEO da Lipor, uma associação de gestão de resíduos parceira deste projecto. “Os especialistas falam-nos na década de acção. Temos os próximos dez anos para redefinir as prioridades”, afirmou. Daí a decisão de ser um dos parceiros do Azul.
A crise não é de agora: está identificada pela ciência há décadas, disse Humberto Rosa, numa intervenção intitulada “Da crise ambiental ao pacto ecológico europeu”, o pacto ecológico que abrange vários sectores e que quer fazer da Europa o primeiro continente a alcançar a neutralidade climática em 2050. E, aqui, “não é irrelevante, de todo, o movimento da juventude”.
E que nos guarda o futuro? “A última e mais grave crise é a da insustentabilidade global”, afirmou Humberto Rosa, e “o tempo não abunda para as defrontarmos”. Também dá como certo que haverá “outras facetas da crise de sustentabilidade que nos vão bater à porta” – e a “restauração” da natureza e ecossistemas ganhará ainda mais importância. E “não há mesmo alternativa”.
Para Nuno Ferrand, que faz parte do projecto de investigação Bipolis (um dos parceiros do Azul) e é também director do CIBIO-inBIO (Universidade do Porto), o Azul “foi uma enorme aprendizagem”, e acredita que o projecto vai crescer e solidificar-se. “Hoje é apenas o início.”