PCP não participará na sessão do Parlamento com Zelensky
Líder parlamentar comunista disse que o Presidente ucraniano é “alguém que personifica um poder xenófobo e belicista”.
Os seis deputados do grupo parlamentar do PCP não irão participar na sessão solene que decorre na quinta-feira à tarde, na Assembleia da República, de homenagem a Volodymyr Zelensky, em que o Presidente ucraniano vai intervir por videoconferência. Também discursará o presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva.
“O PCP não participará numa sessão da Assembleia da República concebida para dar palco à instigação da escalada da guerra, contrária à construção do caminho para a paz, com a participação de alguém, como Volodymyr Zelensky, que personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de carácter paramilitar, de que o chamado Batalhão Azov é exemplo, a quem Zelensky deu palco na recente sessão no Parlamento grego”, afirmou a líder parlamentar comunista em conferência de imprensa.
A decisão foi anunciada pela deputada comunista Paula Santos argumentando que esta sessão solene não contribui para “um caminho de diálogo que promova o cessar-fogo e uma solução negociada do conflito”, mas antes para “animar a escalada da guerra e da confrontação política, económica e militar em curso”. A dirigente do PCP acrescentou que se trata de uma “instrumentalização” do órgão de soberania nacional - porque o Presidente ucraniano tem feito sempre discursos de apelo à participação dos países no esforço de guerra - e deixou duras críticas a Zelensky, a quem acusou de xenofobia e fascismo.
A líder parlamentar fez questão de vincar que o Partido Comunista Português “não tem nada a ver com o Governo russo e o seu Presidente e que a opção de classe do PCP é oposta à das forças políticas que governam a Rússia capitalista e dos seus grupos económicos”.
Paula Santos defendeu a necessidade de ser encontrada uma solução “negociada” para a paz, que é um “caminho contrário do que está a ser feito, que promova o diálogo”, ou seja, “não é pela lógica do armamento nem pela lógica das sanções”. “O caminho tem que ser a paz. (...) Tem que ser uma solução negociada, que tenha em conta os diferentes interesses em presença, com um espaço de diálogo para pôr termo a uma guerra que já dura há oito anos”, vincou Paula Santos.
“O PCP reafirma a sua posição de defesa dos princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional e de condenação de todo um caminho de ingerência, violência e confrontação, do golpe de Estado de 2014 (promovido pelos EUA na Ucrânia) que instaurou um poder xenófobo e belicista, da recente intervenção militar da Rússia na Ucrânia e da intensificação da escalada belicista dos EUA, da NATO e da União Europeia”, afirmou a deputada.
No entanto, os comunistas consideram que o governo ucraniano “ataca e massacra a própria população” na região do Donbass há oito anos e “persegue e elimina quem se lhe opõe”, lembrando o massacre de Maio de 2014 na Casa dos Sindicatos em Odessa “por forças neonazis associadas ao poder ucraniano”.
“Um poder que, na sequência do golpe de 2014, discrimina os seus cidadãos com base na sua cultura e língua, ataca o direito de opinião, promove a perseguição política – de que é exemplo recente a prisão de dirigentes da juventude comunista –, encetou um processo de ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia e reprime outras forças democráticas e antifascistas, como sucedeu agora com a suspensão da actividade de 11 forças políticas, entre as quais partidos com representação parlamentar, por terem uma posição diferente. Um poder que ao mesmo tempo enaltece os colaboracionistas das SS nazis na Segunda Guerra Mundial e branqueia as suas atrocidades cometidas contra as populações da Ucrânia e da Polónia”, relatou ainda a deputada Paula Santos.
O PCP foi o único partido a votar contra a realização desta sessão de homenagem a Volodymyr Zelensky. A líder parlamentar comunista insistiu na necessidade de um “outro caminho” que passe pela negociação para resolver o conflito, mas nunca respondeu em que termos a Rússia o deve fazer. E questionada sobre se o PCP participaria numa sessão com a participação das duas partes, Paula Santos também não deu uma resposta directa.
Há dois dias, o ex-líder da bancada parlamentar do PCP, Bernardino Soares, tinha admitido, num espaço de comentário na CNN Portugal, que seria expectável que os deputados comunistas estivessem presentes mas que a “posição do PCP não será certamente de aplaudir efusivamente a intervenção”.
O PCP já faltou a uma sessão com um líder estrangeiro: foi o caso do então Presidente norte-americano Ronald Reagan, em 1985. “Tenho pena que algumas cadeiras à esquerda pareçam desconfortáveis”, comentou, no seu discurso perante os deputados portugueses, Ronald Reagan. com Helena Pereira