O que esperar dos novos programas de Matemática

As mudanças são boas, fazem-nos evoluir e descobrir novas competências, mas não aguentamos o desgaste de estar sempre em mudança!

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PÚBLICO

O novo programa de matemática para o ensino básico, a ter início no próximo ano para os alunos dos 1.º, 3.º, 5.º e 7.º anos de escolaridade, foi tornado público. A ideia de construir saber matemático à volta do que conhecemos é muito positivo. Tornar evidente que a matemática está presente na vida de todos os dias é mostrar a sua importância e necessidade de ser estudada e acarinhada.

Estudá-la de forma mais concreta e aplicada a actividades que fazem parte da vida de todos os dias é trazer a Matemática para dentro da vida dos estudantes. Não só tem efeitos nos alunos e na sua literacia matemática mas também na vida dos professores, sejam de matemática ou de outras disciplinas, pois quando investimos numa parte, estamos a investir no todo.

Não há dúvida que a escola está a mudar, lentamente, mas está a mudar. E mais uma reforma de programas leva a mais uma nova adaptação por parte dos professores. Por muito que alguns considerem esta mudança positiva, ela irá requerer deles mais uma nova fase de adaptação, de construção de materiais diferentes com recurso a metodologias diferentes, mais formação, mais um investimento que requer sobretudo um gasto de energia e investimento de motivação e entusiasmo.

Que programas existem para apoiar os professores em mais uma mudança? Depois da saída da pandemia, em que os professores se viraram do avesso e todos ficamos a perceber não só a importância como a mestria da profissão, que suporte tem sido dado aos professores em termos de saúde mental? As mudanças são boas, fazem-nos evoluir e descobrir novas competências, mas não aguentamos o desgaste de estar sempre em mudança! São precisos novos e mais professores, mas os atractivos para esta carreira continuam por explorar.

Esta lufada de ar fresco no ensino da matemática ainda não chegou ao ensino secundário. Será necessária uma grande dose de coragem para abanar as estruturas daquilo que é a antecâmara do ensino superior, onde se entra com escrutínio à centésima. É preciso coragem e muita vontade política e determinação em ser efectivamente um factor de mudança na vida dos jovens e dos futuros cidadãos activos, que vão gerar a riqueza do nosso país, para mudar o que está instalado há anos e precisa de ser actualizado. As actualizações e experiências que se vão fazendo, têm vindo a desembocar todas no ensino secundário, o qual é tratado com pinças e com mudanças de pouco impacto, pois está em causa o prosseguimento de estudos para o superior. Será preciso coragem para estender actualizações a este nível de ensino. E para que a coragem esteja presente, é necessário, estarmos completamente convictos que estamos a contribuir para um bem maior e não a tratar do nosso, pequeno, sucesso.

A avaliação é outra chave de mudança que tem um impacto significativo em todo o processo ensino-aprendizagem. Fala-se em menos testes, mais avaliação formativa, perguntas em aula, tarefas em tempo alargado, entre outros instrumentos de avaliação para diversificar a árdua tarefa. A avaliação é um dos ponto mais importantes de todo o processo, pois sabemos que o regula e afere, dando feedback do que é necessário ser feito. Estas notícias de boas mudanças em tempos de Primavera, devem ser complementadas com o correspondente formato de avaliação e suportadas por medidas evidentes de apoio aos professores do ponto de vista da sua saúde mental e psicológica. Afinal, nestes últimos dois anos, todos percebemos de que fibra são feitos os professores!

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