Vieira de Sousa abre loja e sala de provas de vinhos na Régua
Luísa e Maria Borges, à frente dos vinhos Vieira de Sousa, têm agora um espaço onde podem dar a conhecer os seus vinhos. Os Portos, que lhes valeram a distinção “Produtor de Vinhos Fortificados do Ano” da Revista de Vinhos, e os tranquilos do Douro. Fica à saída da Régua, quem vai para a barragem.
As manas Luísa e Maria Borges, respectivamente com a enologia e a gestão da Vieira de Sousa, abriram recentemente na Régua uma loja e espaço de provas, onde é possível saber mais sobre um negócio que já leva cinco gerações mas que só agora engarrafa. E, claro, onde os visitantes podem provar os mais de 20 vinhos do Porto que lhes valeram recentemente o prémio “Produtor de Vinhos Fortificados do Ano”, atribuído pela Revista de Vinhos.
“Abrimos um novo espaço, loja e enoturismo, na Régua, mesmo à saída da Régua, quem vai para a barragem. É uma antiga adega de vinho do Porto restaurada. E está enquadrada numa vinha que é do meu cunhado. A prova é a copo e os visitantes acabam por ter a possibilidade de provar muitos mais vinhos, refere Maria Borges.
Vieira de Sousa é um projecto que nasceu em 2008 da vontade que Luísa, a irmã mais velha, tinha em pegar no património de vinhos do Porto que o pai cuidava – e que começou a ser construído pelo tetravô José Silvério Vieira de Sousa – e de engarrafar esses fortificados mais rústicos, mas simultaneamente frescos e elegantes. Estudou viticultura e enologia no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, onde a família residia, e quando terminou a faculdade quis “fazer diferente” e “engarrafar vinho do Porto”.
O pai é do Douro e “sempre produziu [vinho do Porto] para vender a granel”, por tradição, como “hobby”, já que esta não era a sua ocupação principal. “Começou por ser um projecto meu, com a minha mãe como grande impulsionadora. Quando acabei a faculdade, mudei-me para o Douro. A certa altura precisei de ajuda e a minha irmã que tirou gestão foi chamada a ajudar. Somos a quinta geração de produtores de vinhos do Porto. Vinhos do Douro não, somos a primeira”, contou Luísa, num jantar com jornalistas na Quinta do Paço, Vila Real.
Enquanto apresentava uma interessante “brincadeira” chamada Vieira de Sousa Rufete 2020 (apenas “200 a 300 garrafas”, 25€), foi explicando que a empresa explora “quatro quintas, num total de 70 hectares, situados à volta do Pinhão”, na sub-região do Cima Corgo. De Celeirós, a 500 metros de altitude, num planalto onde têm castas brancas e são vizinhas do Portal, à Quinta do Roncão Pequeno, junto ao rio Douro, onde nasce o tal Rufete (numa “vinha quente e seca” de apenas 2000 metros quadrados) e a igualmente sensível Tinta Francisca.
Cuidar dos vinhos velhos, pensar os vinhos futuros
Para se lançarem no mercado, Luísa e a família compraram stocks de vinho do Douro, para “dividir o risco”. Eram os anos da troika, era preciso cautela. Mas o risco revelou-se nulo, em parte porque a aposta foi de início na exportação, mas também face à qualidade dos generosos que têm engarrafado, feitos integralmente na região duriense (envelhecidos também lá) e que trouxeram diversidade ao sector. “Correu muito bem. Achámos que íamos ser devoradas pelas grandes empresas, mas não”, partilha Luísa, a enóloga empreendedora de sorriso tímido e que hoje exporta cerca de 70% dos Portos que engarrafa.
A aposta tem sido nos LBV, sempre não filtrados, envelhecidos no Douro, em armazéns com chão de terra localizados à fresca, a 500 metros de altitude, mas os Tawnies também impressionam. Todos os lotes têm “entre 20 e 30 anos no mínimo” e para além dos Late Bottled Vintages têm sido bem acolhidos pela crítica o Porto Branco 10 Anos, o Colheita 2003, LBV e o 90th Anniversary António Vieira de Sousa.
Em 2011, juntaram-se ao portefólio os vinhos tranquilos, que reflectem a queda de Luísa pelo risco mas também pela elegância. Com uma produção média anual de 120.000 garrafas e um total de oito referências, há os Alice, entrada de gama que homenageia a avó paterna e professora Alice Vieira de Sousa, e os Vieira de Sousa, em que se inclui o especial Rufete.
Em 2019, Luísa Borges foi considerada enóloga revelação do ano pela Revista de Vinhos e foi também distinguida com o “Prémio Revelação” do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, um reconhecimento pela inovação empreendida na empresa. A inovação da mais nova geração da família projecta agora a abertura de um alojamento local numa das quintas da família, com a transformação da antiga morada dos caseiros no meio da vinha.
Para já, a loja na Régua abre de quinta a sábado, das 10h às 18h30, e as provas começam nos 10€. Apesar de não ser necessário marcar, é sempre preferível, já que Luísa e Eduarda valorizam “o contacto com as pessoas” e a reserva permite preparar melhor essa interacção. Em Maio, o horário será alargado: de terça a domingo, no mesmo horário.