Telemóveis no deserto, barchini na lua

Dois filmes estonteantes, paradoxais na sua grandiloquência. O encontro com The Challenge e Atlântida, de Yuri Ancarani.

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The Challenge e Atlântida: o encontro, grandiloquente, com o trabalho do italiano Yuri Ancarani

Há algo de estonteante em The Challenge e Atlântida. Em cada um dos filmes e no sentimento paradoxal que podem criar no espectador. “Filhos” de um videoartist, o italiano Yuri Ancarani, 50 anos, alguém para quem uma câmara de vídeo não é fonte de culpa alguma, alguém para quem o digital é o natural gesto expressivo, os dois filmes podem proporcionar o reencontro surpreendente com territórios do passado, novas encarnações de velhas mitologias que foram edificadas pelo cinema (o western, por exemplo), e até mesmo a reedição de uma grandeza hollywoodiana que hoje está desaparecida do mainstream. Essa grandeza aqui é construída com matéria primordial, água — Veneza, no caso de Atlântida — e terra — o deserto, no caso de The Challenge —, e é com essa horizontalidade que se edificam estes estúdios cinematográficos a céu aberto que são a Laguna de Veneza e o deserto no Qatar. Há, assim, qualquer coisa da ordem da perturbação da percepção, como uma interferência que faz o presente e o passado mudarem de lugar por momentos.

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