Coliseu do Porto acolhe Sessões Descontraídas — por uma cultura que “não exclui ninguém”

As Sessões Descontraídas chegaram ao Coliseu do Porto para abraçar, por exemplo, populações neurodivergentes ou com necessidades físicas especiais. Têm como objectivo criar espectáculos cada vez mais inclusivos, sem alterar o conteúdo. A primeira sessão decorre a 10 de Abril com um Concerto Promenade.

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A 2 de Abril assinalou-se o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo. Para honrar a data, o Coliseu do Porto lançou o projecto “Coliseu + Inclusivo” em parceria com a Acesso Cultura, uma associação que quer promover uma cultura mais acessível. A longo prazo, pretendem criar uma oferta cultural inclusiva que se adapte a todo o tipo de pessoas, quer tenham necessidades físicas especiais (como mobilidade reduzida, problemas relacionados com a visão ou surdez) ou simplesmente não consigam estar confortáveis num espectáculo mais solene.

O primeiro passo é a implementação de Sessões Descontraídas, que podem tomar variadas formas, desde espectáculos de teatro a noites de cinema. Para acolher o público num ambiente com mais informalidade, nestas sessões há mais tolerância quanto a movimentos e barulho na sala, sendo menos limitativas para pessoas que sofram de problemas como défice de atenção, deficiência intelectual, autismo, alterações sensoriais ou de comunicação, mas também para famílias com crianças pequenas. A primeira sessão vai decorrer no dia 10 de Abril, às 11h, com os Concertos Promenade 2.0 - Arco-íris, de Duarte Pestana.

“A ideia é não mexer no conteúdo e apostar mais na estrutura e no tipo de adaptações que são feitas no espectáculo, de forma a aumentar o grau de participação quer destas populações neurodivergentes, quer de outras”, explica ao P3 Raquel Corval, psicóloga que tem acompanhado a iniciativa, acrescentando que a falta de resposta a estas necessidades específicas levam as pessoas a escolher “não ir” ou a “mostrar alguma resistência”. “Estamos a apostar na prevenção de dificuldades e possíveis momentos de desregulação [emocional, comportamental ou sensorial]”, completa.

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Além de terem menos regras, as sessões podem ser adaptadas com ajustes no som e na iluminação. Também podem ser pedidos auscultadores “bloqueadores de volume” ou ter contacto com os músicos e os instrumentos, para conceder uma experiência multissensorial. “Fez sentido para nós perceber como é que podemos melhorar para ir ao encontro destes públicos — e garantir que os serviços que o Coliseu presta não estão a excluir ninguém”, explica Mónica Guerreiro, presidente da direcção do Coliseu do Porto, ao P3​.

Foi também criada uma Sala de Conforto para onde os espectadores podem ir se estiverem a sentir ansiedade e precisarem de se acalmar. Equipada com mobiliário de descanso e objectos de estimulação sensorial, pode acolher cerca de cinco pessoas simultaneamente.​ Paralelamente, a equipa do Coliseu recebeu formação especializada da Acesso Cultura no caso de alguém se sentir mal, os assistentes de sala podem prestar apoio.

Outra medida pensada para criar um ambiente seguro e confortável é a previsibilidade do evento, uma vez que antecipação é um factor importante para evitar reacções adversas em pessoas com determinadas patologias. Como tal, é disponibilizada uma História Visual: um guião com fotografias e informações, tanto sobre o Coliseu como sobre o espectáculo, pensadas para ajudar a preparar a visita. Pode ser adquirida em formato físico no Coliseu ou descarregada no site.

Já estão agendadas mais duas Sessões Descontraídas: a 22 de Maio vai decorrer o espectáculo A Menina do Mar de Lopes-Graça, inspirado no livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, com desenho em tempo real; a 19 de Junho, O Retábulo de Mestre Pedro, de Manuel de Falla, que contará com orquestra e será apresentada por marionetas.

Texto editado por Amanda Ribeiro

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