Olivia Rodrigo, Silk Sonic, Jon Batiste e Volodimir Zelenskii foram as estrelas da noite nos Grammys 2022

Cerimónia ficou marcada pelo discurso do Presidente ucraniano, que apelou aos artistas para encherem de música o silêncio deixado pelas bombas russas.

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Olivia Rodrigo tem 19 anos Reuters/MARIO ANZUONI

Olivia Rodrigo levou para casa três prémios, entre eles os de artista revelação e de melhor álbum pop, o músico de jazz Jon Baptiste viu o seu We Are reconhecido como álbum do ano e Silk Sonic, com o hino soul Leave the door open, arrecadou o gramofone de gravação e canção do ano.

Com os Óscares ainda bem frescos na memória dos espectadores, a gala da 64.ª edição dos Grammys, que se realizou no domingo em Las Vegas, Estados Unidos, com três meses de atraso devido à pandemia de covid 19, não pôde fugir ao episódio Chris Rock/Will Smith, mas decorreu sem incidentes e com um convidado de honra, que chegou ao auditório via vídeo e com um apelo pungente – o Presidente ucraniano Volodimir Zelenskii.

Na cerimónia, que teve actuações de Lil Nas X, Billie Eilish e BTS, contando ainda com Joni Mitchell, numa das suas raras aparições públicas, para apresentar Brandi Carlile, Zelenskii surgiu numa mensagem previamente gravada para pedir aos artistas que enchessem de música o silêncio deixado pelas bombas russas.

“Apoiem-nos de todas as formas que puderem, mas não com o vosso silêncio”, disse. “Preencham o silêncio com música”, continuou o chefe de Estado, num discurso a que se seguiu John Legend, interpretando a sua mais recente canção, Free. “Rain down freedom until we're all free", cantou o músico norte-americano, acompanhado por um coro gospel, enquanto eram projectadas imagens do conflito e informações sobre formas de auxílio aos refugiados ucranianos.

Em palco, Legend teve a seu lado, ainda, as músicas ucranianas Mika Newton e Suzanna Iglidan.

“Os nossos músicos usam coletes à prova de balas em vez de smokings. Cantam para os feridos nos hospitais, mesmo para os que não podem ouvi-los. Mas a música vai passar”, dissera Zelenskii momentos antes, garantindo que o seu povo luta pela liberdade de que gozam todos os que subiram ao palco na sala de espectáculos de Las Vegas, luta pelo direito “a viver, a amar, ao som”.

Desde que a invasão russa começou, a a 24 de Fevereiro, foram já muitos os artistas ucranianos, do mundo da música e fora dela, que se juntaram aos esforços de guerra, uns pegando em armas, outros emprestando a sua popularidade a campanhas de angariação de fundos ou, simplesmente, andando pelo país a actuar em locais que servem de abrigo aos que tentam sobreviver aos bombardeamentos.

“O que é que é mais diferente da música? O silêncio das cidades em ruínas e dos mortos. A guerra não nos deixa escolher quem sobrevive e quem permanece num silêncio eterno.”

Honrar a tradição

Os prémios para Jon Batiste e para Silk Sonic, projecto que junta Bruno Mars e o rapper Anderson .Paak, beneficiaram do facto de a indústria da música que os Grammys celebram ter o hábito de privilegiar os artistas que honram a sua herança musical, escreve Mark Savage, jornalista especializado em música da BBC.

O álbum We Are, cuja canção-título foi escrita em 2020 como forma de apoio ao movimento Black Lives Matter, vai beber à tradição da música negra, do jazz de Nova Orleães ou do mais moderno R&B. Silk Sonic, por sua vez, tem na balada Leave the door open uma ligação directa à soul dos anos 1970. O duo ganhou os prémios para canção e disco do ano.

Além dos prémios de artista revelação e melhor álbum pop, Olivia Rodrigo, a quem se devem temas como Drivers license e Good 4 U, arrecadou o de melhor performance também na área da pop.

“Quando eu tinha nove anos, disse à minha mãe que ia ser uma ginasta olímpica, embora mal soubesse dar uma cambalhota”, lembrou Rodrigo, de 19 anos, agradecendo aos pais. “Na semana seguinte, quando lhe disse que ia ganhar um Grammy, ela apoiou-me muito, embora eu tenha certeza de que pensou que era apenas um sonho de criança.”

Os Foo Fighters também foram premiados, pouco mais de uma semana depois do desaparecimento do seu baterista, Taylor Hawkins, que aos 50 anos foi encontrado morto num quarto de hotel em Bogotá, na Colômbia. Foram distinguidos nas categorias de melhor álbum rock por Medicine at Midnight, melhor performance rock pela faixa de abertura do álbum, Making a fire, e melhor canção rock por Waiting on a war.

Entre os grandes vencidos da noite, apesar de inúmeras nomeações, estão Lil Nas X e Billie Eilish.

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