Marcelo: “Costa é refém do povo e o ultimato é do povo, não é meu”
O Presidente da República reagiu ao seu próprio discurso, para “clarificar” que as “amarras” colocadas a António Costa não são de Belém, mas dos votos das últimas legislativas.
O Presidente da República recusou esta quinta-feira que tenha feito um ultimato ao primeiro-ministro e contrapôs que António Costa “é refém do povo”, como disse o socialista Carlos César, e que o ultimato é do povo.
“Não é ultimato”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa. Considerando “muito feliz” a expressão de que “o primeiro-ministro é refém do povo”, repetiu-a: “É refém do povo, não é um ultimato do Presidente, se quiserem, eu não queria dizer assim, é um ultimato do povo, não é meu”.
Instado a clarificar se o aviso que deixou na cerimónia de posse do novo Governo significa que convocará eleições antecipadas em caso de saída de António Costa a meio da legislatura, o chefe de Estado respondeu: “Não quero clarificar, porque decorre daquilo que é assumido pelo próprio partido do Governo que o compromisso, quando se diz que alguém é refém do povo, é um compromisso para com o povo por um período para o qual o povo votou.”
“Votou para uma legislatura. Portanto, não vale a pena estar a especular sobre cenários que estão fora de causa”, considerou.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou a ideia de que nas legislativas de 30 de Janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta, “o povo votou num partido, mas votou num homem”.
“Portanto, nesse sentido é refém do povo, não é um ultimato do Presidente, se quiserem, é um ultimato do povo. Eu tenho a certeza de que o primeiro-ministro compreende isto, percebe a importância disto. Portanto, o facto de o ter recordado não significa se não isto. Recordei aquilo que foi a decisão do povo”, acrescentou.
Marcelo aproveitou as palavras do presidente do PS, Carlos César, que – no seu elogio ao discurso de Costa – afirmou que o primeiro-ministro “como em qualquer democracia e na sequência da renovação expressiva da legitimidade eleitoral do PS é refém do povo que o elegeu e dos compromissos que assumiu”. Já quanto ao discurso de Marcelo, o socialista considerou que foi “espectável” e que “diagnosticou e interpretou” as “preocupações maiores” em relação às consequências da crise pandémica e da guerra.
Também durante a tarde, o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, procurou arrumar o debate e vincou que o executivo socialista está “focado” em cumprir o mandato até ao fim. “Está a criar-se um caso que não existe”, disse, desafiando “quem pensa e comenta a política” a focar-se também naquelas que são as prioridades de trabalho do XXIII Governo. Pedro Nuno Santos criticou quem está “sempre à procura de um novo caso, crise ou qualquer coisa que possa animar”. “Para animar as nossas vidas temos já, infelizmente, muitos problemas”, atirou. A “ambição”, “união e coesão” do novo executivo está “concentrada” em resolver os problemas do país e “pôr os portugueses a viver melhor”, concluiu.