Telescópio espacial Hubble detecta estrela mais distante

O telescópio alcançou um novo marco ao detectar a luz de uma estrela que existiu nos primeiros mil milhões de anos após o nascimento do Universo no Big Bang.

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O telescópio Hubble assinalou um novo marco conseguindo detectar a luz de uma estrela distante ESA

O telescópio espacial Hubble detectou a estrela até agora mais distante, a 12,9 mil milhões de anos-luz da Terra, quando o Universo era uma “criança”. A estrela, baptizada com o nome de Earendel, nome que vem de uma palavra inglesa antiga que significa “estrela da manhã” ou “luz ascendente, terá pelo menos 50 vezes a massa do Sol e é milhões de vezes mais brilhante. A descoberta é relatada esta quarta-feira na revista Nature.

O objecto, descrito por Brian Welch e colegas, é apelidado de Earendel, de uma palavra inglesa antiga que significa “estrela da manhã” ou “luz ascendente”. O recorde anterior pertencia a uma estrela observada quando o Universo tinha cerca de quatro mil milhões de anos (a idade estimada do Universo é 13,8 mil milhões de anos). A detecção da Earendel foi possível porque a sua luz foi ampliada e distorcida por lentes gravitacionais, que se formaram devido a uma distorção no espaço-tempo causada pela presença de um corpo de grande massa, no caso um aglomerado de galáxias entre a estrela e o campo de observação do telescópio.

A equipa de cientistas nota que a lente gravitacional, um fenómeno em que objectos distantes são ampliados por objectos mais próximos, revela que o objecto detectado pode ser uma estrela individual ou um sistema de dupla estrela. “Estima-se que Earendel tenha uma massa superior a 50 vezes a massa do Sol, e calcula-se que esteja a um desvio para o vermelho [redshift] de 6,2, relatam os autores”, nota o resumo da Nature, explicando que “o desvio para o vermelho refere-se à forma como a luz é ‘esticada’ ao viajar, e pode ser usado para inferir a distância de objectos astronómicos; quanto maior for o número, mais longe (ou mais cedo na história do Universo) está o objecto”.

“A estrela recentemente detectada está tão distante que a sua luz levou 12,9 mil milhões de anos a chegar à Terra, aparecendo-nos como quando o Universo tinha apenas 7% da sua idade actual, no redshift 6,2. Os objectos mais pequenos anteriormente vistos a estas distâncias são aglomerados de estrelas, incrustados dentro das primeiras galáxias”, refere o comunicado de imprensa da ESA.

“Quase não acreditámos no início, era muito mais longe do que a anterior estrela mais distante”, disse o astrónomo Brian Welch da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, autor principal do artigo que descreve a descoberta. A descoberta foi feita a partir de dados recolhidos durante o programa RELICS (Reionization Lensing Cluster Survey) de Hubble,

Promessa de uma nova era

“Normalmente a estas distâncias, galáxias inteiras parecem pequenas manchas, a luz de milhões de estrelas a misturar-se”, disse Welch. Depois de estudar em detalhe a galáxia que acolhe esta estrela, os cientistas determinaram que uma das principais características é esta estrela que se destaca. “A descoberta contém a promessa de abrir uma era inexplorada de formação estelar muito precoce”, promete o comunicado.

“Earendel existiu há tanto tempo que não pode ter tido todas as mesmas matérias-primas que têm as estrelas que nos rodeiam hoje”, explicou Welch. “Estudar Earendel será uma janela para uma era do Universo com a qual não estamos familiarizados, mas que nos levou a tudo o que sabemos. É como se estivéssemos a ler um livro realmente interessante, mas começámos com o segundo capítulo, e agora teremos uma oportunidade de ver como tudo começou”, acrescentou.

Segundo um comunicado da ESA, parceira na exploração do telescópio Hubble, que também serve a agência espacial norte-americana NASA, a composição da Earendel “será de grande interesse para os astrónomos”, uma vez que “se formou antes de o Universo ser preenchido com os elementos pesados produzidos por sucessivas gerações de estrelas maciças”.

Os detalhes precisos da temperatura, massa e propriedades espectrais da estrela permanecem incertos, algo que os autores esperam que o telescópio espacial James Webb possa ser capaz de determinar no futuro. O novo telescópio James Webb, em órbita desde Janeiro, vai procurar os sinais das primeiras galáxias e estrelas do Universo.

As imagens e espectros de Webb podem vir a confirmar que Earendel é de facto uma estrela, e limitar a sua idade, temperatura, massa e raio, explica José Maria Diego, do Instituto de Física de Cantábria, em Espanha, que é outro dos autores do artigo citado no comunica. “A combinação de observações de Hubble e Webb permitir-nos-á também aprender sobre as microlentes no aglomerado de galáxias, que poderão incluir objectos exóticos como os buracos negros primordiais.”

Os cientistas vão querer saber mais sobre Earendel. Afinal, formou-se antes de o Universo ser preenchido com os elementos pesados produzidos por sucessivas gerações de estrelas maciças. Se os futuros estudos indicarem que Earendel é apenas feita de hidrogénio e hélio primordiais, seria a primeira prova para as lendárias estrelas da População III, que se supõe serem as primeiras estrelas a formarem-se depois do Big Bang. Embora a probabilidade seja reduzida, Welch admite que é sedutora.

“Com o Webb, podemos ver estrelas ainda mais distantes do que Earendel, o que seria incrivelmente excitante”, diz ainda Welch. “Vamos o mais longe que pudermos. Adoraria ver o Webb bater o recorde de distância de Earendel.”

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