Detectado o oxigénio mais antigo do Universo

Galáxia alvo das observações já existia quando o Universo, agora com 13.800 milhões de anos, tinha “apenas” 600 milhões.

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Ilustração de como terá sido a galáxia A2744_YD4, cheia de poeiras ESO/M. Kornmesser

Uma equipa internacional de astrónomos detectou a emissão mais antiga de oxigénio no Universo, a partir da observação de uma galáxia distante com concentrações abundantes de poeiras cósmicas, revelou esta quarta-feira o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês).

As poeiras cósmicas de que se está a falar – pequenas partículas de matéria formadas a partir da morte de gerações de estrelas mais antigas – são a base para a constituição de novas estrelas, dos planetas e das moléculas complexas, incluindo das que dão origem à vida. Actualmente abundante, as poeiras interestelares eram, no entanto, escassa nos primórdios do Universo, antes de as primeiras gerações de estrelas morrerem.

A equipa de astrónomos, liderada por Nicolas Laporte, da University College de Londres, no Reino Unido, usou o maior radiotelescópio do mundo, o ALMA, instalado no Chile, e observou a emissão de oxigénio ionizado pela galáxia A2744_YD4. Para os investigadores, trata-se da detecção mais distante, logo mais antiga, de oxigénio no Universo, de acordo com um comunicado do ESO, organização astronómica intergovernamental da qual Portugal faz parte e que é um dos parceiros internacionais do ALMA, inaugurado em 2013.

A A2744_YD4é a galáxia mais distante e jovem captada pelo ALMA, quando o Universo tinha apenas 600 milhões de anos e as primeiras estrelas e galáxias estavam a formar-se. O Universo tem agora cerca de 13.800 milhões de anos, a sua idade desde o seu nascimento, no Big Bang.

Segundo o grupo de astrónomos, a detecção de muitas poeiras interestelares na galáxia A2744_YD4indicia que supernovas (explosões de estrelas moribundas) mais antigas “devem ter contaminado esta galáxia”. É nas estrelas supermaciças que é criada a maioria dos elementos químicos pesados, do oxigénio ao ferro, passando pelo sódio, o potássio e o cálcio; e que elementos ainda mais pesados, como o chumbo, o ouro e o urânio, são sintetizados já durante a sua explosão em supernovas.

Para os cientistas, a observação de poeiras cósmicas no Universo primitivo fornece novas informações sobre o momento em que ocorreram as primeiras explosões estelares e as estrelas quentes, as brilhantes, tiraram o Universo das trevas.

A determinação do tempo da “aurora cósmica” é vista como um Santo Graal para a astronomia moderna e pode ser procurada indirectamente através do estudo das poeiras interestelares mais antigas, compostas essencialmente por silício, carbono e alumínio.

As observações da A2744_YD4com o ALMA foram possíveis porque a galáxia está por detrás do aglomerado de galáxias Abell 2744, que actuou como se fosse um telescópio cósmico gigante, ampliando a A2744-YD4, um fenómeno chamado “lente gravitacional” (formada devido a uma distorção no espaço-tempo, causada por um corpo de grande massa entre uma estrela e um observador).

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O aglomerado de galáxias Abell 2744 domina a imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble e, lá atrás, a galáxia com as poeiras ALMA/NASA/ESA/ESO/ D. Coe/J. Merten

Os astrónomos estimam que a galáxia A2744_YD4 tenha uma quantidade de poeiras cósmicas equivalente a seis milhões de massas solares e, além disso, uma massa estelar de 2000 milhões de massas solares. A equipa descobriu que estão a formar-se estrelas na galáxia a uma média de 20 massas solares por ano (na Via Láctea, a nossa galáxia, a média é de uma massa solar por ano), o que pode explicar por que as poeiras cósmicas se formaram tão rapidamente na A2744_YD4.