Arquitecto português lança crowdfunding para construir casas de bambu na Birmânia

O Housing Now, projecto de habitação social co-fundado pelo português António Duarte, quer construir casas de baixo custo em bambu na Birmânia. Há uma campanha de crowdfunding a decorrer, com o objectivo de chegar aos 15 mil euros para a construção de dez casas que serão doadas a famílias de deslocados birmaneses.

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Protótipo da habitação de baixo custo de bambu feito pelo projecto Housing Now DR

“Construir dez casas e doá-las a famílias” da Birmânia: este é “objectivo final” da mais recente campanha de crowdfunding do Housing Now, projecto que tem como principal missão construir “habitações de baixo custo em bambu” para famílias que vivem em condições precárias, diz ao P3 António Duarte. O arquitecto português é um dos fundadores do Housing Now, do atelier de design Blue Temple, que se foca em “projectos ligados ao espaço público, questões participativas” e “arquitectura como ferramenta social”.

A meta do crowdfunding corresponde a um valor de 15 mil euros, com o qual o projecto poderá construir e doar dez casas de bambu para deslocados, na região de Bago, segundo o arquitecto português: “Por cada 1500 euros doados, nós construímos uma casa.” Com o crowdfunding seria ainda possível contratar e pagar a trabalhadores sociais locais que “conheçam bem a realidade” do país e “implementar o projecto-piloto numa situação complicada sem estarem a depender” de contratos, investidores, entre outros aspectos. Assim, o Housing Now conseguiria “chegar a uma versão final do protótipo que funcione e que possa ser implementado com muitas variações”.

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Raphaël Ascoli, Kyaw Zin Latt e António Duarte DR

Criado em 2020 por Duarte, Raphaël Ascoli, arquitecto francês, e Kyaw Zin Latt, especialista em construção de bambu birmanês, o Housing Now actua na Birmânia, país que atravessa por uma crise política e social e que, devido a isso, já viu mais de 300 mil pessoas deslocadas. Esta situação, associada a uma economia fragilizada, tem proporcionado uma escassez de habitações acessíveis, um “grande problema” que o Housing Now pretende “colmatar”, salienta ao P3 António Duarte.

Na óptica de António Duarte, atingir o valor de 15 mil euros do crowdfunding seria uma “grande vitória”, um primeiro passo para começarem a conquistar a confiança das pessoas e das comunidades com quem trabalham e continuarem a “desenvolver ainda mais as soluções”. O projecto poderia, também, ser “implementado noutros sítios”.

“Quando uma pessoa tem uma casa, tem uma noção de casa, tem um lugar que é digno e onde pode desenvolver as suas actividades, onde se pode concentrar, onde pode decorrer a vida familiar, penso que isso é um grande primeiro passo para tomar conta do seu futuro”, sublinha o português.

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Uma casa com “pouco impacto” no ambiente

Devido à “falta muito grande de habitação de baixo custo”, António Duarte admite ao P3 que “as possibilidades que as pessoas têm não lhes permitem, muitas vezes, conseguir obter habitação própria”, que, algumas vezes, têm de “construir com as suas próprias mãos e com os poucos recursos que têm”. Desta forma, a população encontra-se numa “situação de grande precariedade” a nível habitacional, vivendo em “condições pouco dignas”.

Os fundadores da Housing Now optaram pela construção (através do design computacional) de uma casa com uma “base estrutural” em bambu. Segundo o arquitecto, esta planta apresenta uma “esperança de vida de mais de cem anos, pode ser colhida de três em três anos” e, “naturalmente, vai contribuir para a reflorestação de territórios”.

Foi ainda desenvolvido um “sistema de construção”, com um “custo muito baixo”, que, “em parte, é pré-fabricado” e personalizável. O carácter modular do sistema permite às pessoas “desmontar a casa e levá-la para outro sítio”, tem “muito pouco impacto na natureza” e “não produz desperdício na construção”, que pode ser levada a cabo através de um “sistema participativo” junto da comunidade. Idealmente, o preço final de cada casa rondará os 700 dólares (cerca de 630 euros).

A campanha de crowdfunding termina no final de Abril.

Texto editado por Ana Maria Henriques

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