Biden cauteloso sobre mudança de estratégia do “carniceiro” Putin

Na Polónia, o Presidente dos Estados Unidos disse que não tem informações sobre qualquer mudança de planos no terreno, depois de o Ministério da Defesa russo ter dito, na sexta-feira, que o objectivo da Rússia estava cumprido com a “libertação” da região do Donbass.

Foto
Biden com o secretário da Defesa dos EUA, Loyd Austin Reuters/EVELYN HOCKSTEIN

No último dia de uma visita à Europa para reforçar a união dos Estados Unidos com os seus aliados europeus face à invasão da Ucrânia pela Rússia, o Presidente norte-americano, Joe Biden, disse não estar certo de que o Kremlin esteja a mudar de estratégia no terreno, ao contrário do que sugeriu, na sexta-feira, o Ministério da Defesa russo. À saída de um encontro com os ministros ucranianos da Defesa e dos Negócios Estrangeiros em Varsóvia, na Polónia, Biden referiu-se a Vladimir Putin como “um carniceiro”.

Questionado pelos jornalistas sobre a declaração de um responsável militar russo, Sergei Rudsko, segundo a qual a principal missão do Exército da Rússia na Ucrânia já estaria cumprida — centrando-se agora as forças russas na “libertação” das províncias ucranianas de Donetsk e Lugansk, no Leste do país —, Biden disse não ter informações que apontem para uma mudança na estratégia russa.

Segundo os EUA e os seus aliados europeus, o objectivo da Rússia passa pelo derrube do Governo ucraniano, pela ocupação de Kiev e pela instauração de uma liderança ucraniana favorável a Moscovo.

A sugestão de que a invasão russa se resume, agora, à ocupação do Donbass, tem sido vista com cautela nos EUA e na Europa. Segundo vários analistas, isso tanto pode significar que a resistência ucraniana forçou a Rússia a mudar de estratégia, como pode ser uma manobra de distracção enquanto as forças russas se reagrupam para lançarem novas ofensivas contra cidades como Kiev ou Lviv.

Este sábado, Biden participou numa reunião entre os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia e os secretários da Defesa e de Estado dos EUA, em Varsóvia. Antes, o Presidente norte-americano esteve reunido com o seu homólogo polaco, Andrzej Duda.

No final dos encontros, o ministro ucraniano da Defesa, Dmitro Kuleba, manifestou um “optimismo cauteloso” após ouvir as palavras de Biden, para quem a guerra na Ucrânia “vai mudar a História do século XXI”.

“Vamos fazer tudo para que essa mudança seja a nosso favor, a favor da Ucrânia e do mundo democrático”, disse Kuleba.

Durante a reunião, os responsáveis ucranianos receberam a promessa de um aprofundamento da cooperação de defesa entre os EUA e a Ucrânia.

Antes, o Presidente polaco, Andrzej Duda, pediu a Biden que os EUA acelerem o processo de venda de armamento à Polónia, em particular de sistemas de mísseis Patriot, caças F-35 e tanques Abrams.

No final do encontro com Duda, Biden reforçou o compromisso dos EUA com a defesa de qualquer membro da NATO perante uma eventual agressão russa, referindo-se a esse princípio como “um compromisso sagrado”.

Antes de regressar a Washington, Biden vai fazer um “importante discurso” sobre a guerra na Ucrânia, em que irá salientar “os esforços de união no mundo livre para apoiar o povo ucraniano, responsabilizar a Rússia pela brutalidade da guerra e defender um futuro assente em princípios democráticos”.

Depois dos encontros com Duda e com os ministros ucranianos, Biden visitou um centro de refugiados ucranianos em Varsóvia. Desde o início da invasão russa, quase quatro milhões de ucranianos fugiram da Ucrânia para outros países europeus, com mais de dois milhões a permanecerem na Polónia.

Hanna Kharkovetz, de 27 anos, uma ucraniana de Kharkiv, manifestou a sua frustração com o que diz ser a falta de acção dos EUA e da Europa perante a invasão russa.

“Não sei o que é que ele nos vem pedir”, disse Kharkovetz à agência Reuters, sobre a visita de Biden ao centro de acolhimento. “Se ele fosse a Kiev, seria melhor do que vir aqui falar comigo.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários