Juros da dívida europeia sobem com discurso de Powell
Taxas de juro da dívida portuguesa a 10 anos ultrapassam os 1,3%, algo que já não acontecia há dois anos.
As taxas de juro da dívida pública dos países da zona euro acentuaram, esta terça-feira, a tendência de subida que vêm a registar desde o início do mês, impulsionadas pelas declarações feitas no dia anterior pelo presidente da Reserva Federal norte-americana sinalizando a possibilidade de uma viragem da política monetária ainda mais agressiva nos EUA.
A evolução dos títulos de divida soberana durante a manhã foi semelhante em todos os países da zona euro. A taxa de juro da dívida portuguesa a 10 anos ultrapassou a barreira dos 1,3%, algo que já não acontecia há dois anos, quando a 18 de Março este indicador disparou com os investidores preocupados com o efeito da pandemia e apreensivos com a falta de reacção até aí revelada pelo BCE.
No caso da Espanha, a taxa de juro a 10 anos manteve-se ligeiramente acima da portuguesa, superando já dos 1,4%. Em Itália, foi a barreira dos 2% a ser superada, o que já não acontecia também desde o início da pandemia. E na Alemanha, os títulos de dívida a dez anos passaram a registar uma taxa de juro implícita no mercado de 0,502%. É preciso recuar até Outubro de 2018 para encontrar a última ocasião em que este indicador esteve acima dos 0,5%.
A subida das taxas de juro agora registada acentua uma tendência que se tem vindo a verificar desde o início do mês e que ganhou força a 10 de Março quando o Banco Central Europeu, na última reunião do conselho de governadores, decidiu acelerar o fim dos seus programas de compras de activos (principalmente dívida pública), dando também sinais de que poderá subir as suas taxas de juro de referência já no decorrer deste ano.
O novo impulso sentido esta terça-feira, por seu lado, é também motivado pelas notícias vindas do outro lado do Atlântico. Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana, que na passada quarta-feira tinha anunciado a primeira subida de taxas de juro (de 0,25 pontos percentuais) dos últimos dois anos e sinalizou a possibilidade de realizar mais seis subidas do mesmo género até ao final de 2022, afirmou no final desta segunda-feira que a Fed pode subir as taxas de forma ainda “mais agressiva se for necessário”.
A falar numa conferência, o responsável máximo pela condução da política monetária nos EUA optou por um discurso mais contundente do que aquele que tinha tido na semana passada quando se referiu à necessidade de evitar que as pressões inflacionistas se instalem definitivamente na economia norte-americana. “Existe uma necessidade óbvia de fazer regressar de forma expedita o posicionamento da política monetária para um nível mais neutral e depois caminhar para níveis mais restritivos se tal for exigido para restaurar a estabilidade de preços”, afirmou.
Jerome Powell deu sinais de que, em próximas reuniões, a subida de taxas pode mesmo ser de 0,5 pontos, em vez do ritmo mais moderado de 0,25 pontos adoptado na última reunião. “Se concluirmos que é apropriado movermo-nos mais agressivamente ao subir a taxa de juro em mais de 25 pontos base numa reunião ou em reuniões, iremos fazer isso”, avisou.
O ritmo a que os bancos centrais pretendem retirar os estímulos monetários é neste momento bastante diferente nos EUA e na zona euro. No BCE, o plano passa por, numa primeira fase, até ao terceiro trimestre deste ano, pôr um ponto final nas compras líquidas de dívida pública (algo que a Fed já fez) e só depois, começar a subir taxas de juro. Christine Lagarde, a presidente do banco central tem feito questão de frisar em diversas ocasiões que há muitas diferenças nas condições enfrentadas pela Fed e pelo BCE nos EUA e zona euro, respectivamente.
No entanto, um ritmo de subida ainda mais rápida das taxas de juro nos EUA, até pelo impacto que pode vir a ter na taxa de câmbio entre o dólar e o euro, pode colocar o BCE sob pressão para agir também de forma mais agressiva.