Música, bandeiras e um estádio apinhado para aplaudir Putin e a invasão da Ucrânia
Milhares de russos encheram o Estádio Luzhniki, em Moscovo, num evento altamente patriótico e propagandista de celebração do aniversário da anexação da Crimeia e da “operação militar especial” no país vizinho. “Sabemos o que temos de fazer”, garantiu o Presidente.
O Estádio Luzhniki, em Moscovo, transformou-se nesta sexta-feira num palco de exaltação patriótica e de celebração dos feitos militares da Federação Russa na Ucrânia.
Dezenas de milhares de pessoas – 200 mil, segundo a organização do evento – juntaram-se no recinto desportivo para um evento de celebração do oitavo aniversário da anexação da península da Crimeia e de Sebastopol e de demonstração de apoio à invasão do país vizinho, oficialmente designada pelo Kremlin como uma “operação militar especial”.
Nos ecrãs gigantes do estádio de futebol – que foi onde se jogou, por exemplo, a final do último Campeonato do Mundo, em 2018 – passaram vídeos de teor nacionalista, que incluíram imagens do derrube de uma bandeira da Ucrânia.
?? This is the picture the Kremlin wants you to see: thousands of people who support President Putin and the "special military operation" in Ukraine, crammed into Luzhniki Stadium in Moscow. We went there today and talked to dozens of people who attended... ?? pic.twitter.com/RGgWL2fSej
— Will Vernon (@BBCWillVernon) March 18, 2022
Nas bancadas agitaram-se bandeiras da Rússia, com as cores branca, azul e vermelha; e com a letra “Z”, que figura em muitos dos tanques russos que atacam e bombardeiam, neste momento, a Ucrânia.
Entre os slogans nos cartazes exibidos no evento havia frases como “por um mundo sem nazismo” ou “pelo nosso Presidente”. E gritou-se: “Rússia, Rússia, Rússia!”
No palco, depois das actuações de cantores como Oleg Gazmanov, Nikolai Rastorguev ou Polina Gagarina, e dos discursos de apresentadores de televisão, de jornalistas, de militares e de líderes políticos, todos próximos do Kremlin, Vladimir Putin vestiu a pele de cabeça-de-cartaz.
“Sabemos o que temos de fazer, como fazê-lo e com que custos. E vamos cumprir totalmente todos os nossos planos”, afiançou o Presidente da Rússia, numa aparição pública rara e numa intervenção elogiosa para os soldados russos que combatem na Ucrânia em nome da “desnazificação” do país e da luta contra o “genocídio” das populações russófilas no território.
“Ombro com ombro, eles ajudam-se uns aos outros, apoiam-se uns aos outros e, se for necessário, protegem-se uns aos outros das balas, com os seus corpos, como irmãos”, celebrou Putin, citado pela Reuters.
Afastando os relatos de que a ofensiva russa na Ucrânia não estaria a correr como planeado, Putin citou a Bíblia, poetas históricos eslavos e soldados lendários russos para insistir na confiança que tem no sucesso da operação militar e garantir: a Rússia está mais unida do que nunca.
Here's video of Putin suddenly vanishing mid-sentence. Where is he?! pic.twitter.com/c6VqE6GG3s
— max seddon (@maxseddon) March 18, 2022
“Há muito tempo que não víamos esta união”, congratulou-se o chefe de Estado russo.
O exercício de propaganda só foi manchado por uma interrupção abrupta do discurso de Putin e da colocação no ar de imagens de uma actuação musical anterior – “problemas técnicos num servidor”, foi a explicação oficial.
Das imagens e dos sons que chegaram a partir da transmissão televisiva, o entusiasmo da população pareceu ser total e genuíno. Os jornalistas ocidentais presentes no evento relatam, no entanto, que falaram com muitos participantes que dizem que foram aconselhados ou obrigados pelos seus empregadores ou professores a marcar presença no Estádio Luzhniki.
Segundo Max Seddon, correspondente do Financial Times em Moscovo, há relatos de que vários funcionários públicos viajaram até à capital em autocarros disponibilizados pelo Governo.
“Estudantes disseram-nos que lhes foi dada a opção de terem um dia livre de aulas se fosse a um ‘concerto’”, acrescenta Will Vernon, da BBC. “Alguns nem sabiam que o evento era dedicado, em parte, ao apoio à guerra na Ucrânia”.