Abriu no Porto uma queijaria francesa (que também tem mel, vinho e manteiga artesanal)
O francês Jean Hurel conheceu Jorge Costa ao serviço do Tours FC, apaixonou-se pelo Porto e só então percebeu que não existia na cidade uma queijaria francesa.
Manteigas artesanais, méis, vinhos (chocolates para breve) e sobretudo queijos, muitos queijos — cerca de 70 referências. Tudo produtos franceses. Esse é o “mètier” da Queijaria Jean, que abriu portas em Dezembro de 2021 na zona da Boavista, no Porto.
Antes de abrir o negócio, uma amiga de Jean Hurel explicou-lhe de uma forma curiosa que o foco da sua loja não deviam ser produtos portugueses por muito bons que fossem. “Aqui, podes morrer de muitas coisas, mas de fome não”, repete à Fugas o francês de 27 anos, natural de Versalhes, que então concentrou todas as suas energias em fazer a ponte entre os dois países, focando-se nos queijos com a assinatura de Rodolphe Le Meunier, seu formador e o seu único fornecedor (de La Croix-en-Touraine, no Vale do Loire) nomeado Meilleur Ouvrier de France e Meilleur Fromager International em 2007. “Os portugueses não precisam de mais um sítio que venda queijos portugueses”, sublinha Jean, que em casa, no Porto, já tem à mesa Queijo de São Jorge e Queijo da Serra ao lado de vinho português.
Mas esta história não tem como fugir da relação de Jean com Jorge Costa, ex-jogador do FC Porto, vencedor da Taça UEFA e da Liga dos Campeões ao lado de José Mourinho, que agora tem direito a uma moldura na Queijaria Jean ("Se não o tivesse encontrado, não estava aqui"). Conheceram-se ao serviço do Tours FC. O “Bicho” era treinador, Jean era responsável pela logística do clube. “Ficámos amigos e descobri o Porto com ele. Vim cá três vezes e apaixonei-me”, conta o francês que em 2019 percebeu que na cidade portuguesa não havia nenhuma loja especializada em queijos franceses. “Ele adora queijo e ele disse-me que no Porto não havia nenhuma queijaria francesa”.
Aos poucos, enquanto vai fidelizando clientes, nas prateleiras da sua queijaria vai traçando a sua própria identidade. Nas vitrinas estão pedaços de Ossau Iraty, Le Ganix, Fourme au Moelleux, Moka Bleau, Munster, Tomme du Jura Truffes D'été e diferentes curas de Compte. Para além dos queijos, comercializa manteigas artesanais Rodolphe Le Meunier — preparadas com leite de pastagem numa batedeira de madeira e moldadas à mão: doces, meio-sal, com algas, com pimenta d’Espelette —, méis Gabriel Perronneau (Bruyère, Garrigue, Tournesol, etc) e uma cuidada selecção de vinhos e um ou outro cognac.
Hoje, confessa, a sua “verdadeira paixão” é “estar à mesa à conversa com amigos”. “Descobri isso em Portugal”. Isso e o facto de os portugueses não comerem queijo antes da sobremesa como na sua terra natal. “Cheguei a casa de um amigo para jantar, olhei para a mesa e pensei ‘queijo na mesa?!’ Ele já estava com o pão e o queijo na mão e percebi que os portugueses o usam como aperitivo”.