Cinco situações em que os avós não se podem meter

Há mesmo alturas em que era bom se os avós se conseguissem remeter ao silêncio.

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@designer.sandraf

Ana,

Encontrei num casamento um avô super-simpático que me confessou que desde que é avô aprendeu uma grande lição. Pedi-lhe se podia partilhar a receita nas nossas Birras de Mãe, e preparei-me para tomar notas, mas a mensagem era curta: “Aprendi a estar calado!”, explicou-me, com um sorriso irresistível de orelha a orelha.

Lindo! Tenho a certeza de que devia ser este o primeiro mandamento da Bíblia dos Avós, embora seja bem mais difícil de pôr em prática do que o que nos diz para não roubar, ou mesmo aquele que nos impede de cobiçar a mulher/marido do outro.

Juro que depois deste conselho sábio estou a esforçar-me, mas o pior é que implica não só calar palavras, mas também controlar as expressões da cara, os gestos, e socorro, os pensamentos, porque vocês lêem-nos à transparência.

Ana, por favor, ajuda-me, e faz-me uma lista de cinco situações em que os avós não se podem mesmo meter. Para colar no frigorífico. Prometo que olho para lá de vez em quando.

Beijinhos da tua querida mãe


Querida Mãe,

Ufa, estava há exactamente 11 anos à espera de que esse avô se cruzasse consigo. Finalmente! Sei que costumo ser mais politicamente correcta, e que as boas maneiras que me ensinou ditariam que lhe dissesse qualquer coisa como “Oh não, mas os conselhos dos avós são tão importantes”, mas não sou capaz. Porque sim, há mesmo alturas em que era bom se os avós se conseguissem remeter ao silêncio.

Nas cinco situações que passo a citar, é mesmo vital que não abram a boca.

1. Quando os nossos filhos, depois de um dia convosco, começam a fazer birras mal nos voltam a ver. Nop! Dispensa-se o “Ah, mas ele comigo esteve óptimo”. Aceitem que vai acontecer e cantem para dentro “Let it go... Let it go...

2. Quando os bebés recém-nascidos estão a chorar depois de mamarem. Stop. Resistam ao “Oh, coitadinho, deve ter fome”, seguido de um (muito contraditório) “Não lhe vais dar de mamar outra vez, pois não?”. Se precisarem mesmo de dizer alguma coisa, então digam só: “Posso ajudar de alguma maneira?”

3. Quando o vosso neto está a fazer uma birra gigante e a mãe está a tentar resolver o problema, não intervenham, não comentem, aceitem que mãe e filho estão a fazer o melhor que conseguem. Sim, eu sei que esta é mesmo difícil, porque o mais pequeno franzir de sobrolho conta logo muito!

4. Quando uma mãe fala acerca das noites mal dormidas, não tentem resolver, é só um desabafo! S.f.f., ofereçam apenas empatia e um “vai passar”.

5. Quando o nosso filho não come bem. Sei que provoca ansiedade ver uma criança que não saiu do anúncio da papa Cérelac, mas o tema já é suficiente delicado entre pais e filhos, para vir mais alguém meter a colher.

Mas calma, mãe, sei bem que há muitos momentos em que também nós os filhos fazíamos um favor à humanidade em estarmos calados! Para uma próxima Birra digo-lhe quais são, para que tenha o prazer de acrescentar mais alguns à lista.


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.

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