O sol de Constança Entrudo, a liberdade de Gonçalo Peixoto e o regresso “em força” de Dino Alves

O até já à ModaLisboa ficou marcado pelo regresso do consagrado Dino Alves, com uma colecção inspirada no basquetebol, sem descurar na sua assinatura. Apresentaram, ainda, Constança Entrudo, Nuno Gama, Carolina Machado, Carlos Gil, Gonçalo Peixoto e Valentim Quaresma.

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O desfile de Dino Alves encerrou a 58.ª ModaLisboa Ugo Camera
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Dino Alves Ugo Camera
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Dino Alves Ugo Camera
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Dino Alves Ugo Camera
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O criador Dino Alves Ugo Camera
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Constança Entrudo Ugo Camera
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Constança Entrudo Ugo Camera
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Constança Entrudo Ugo Camera
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Carolina Machado Ugo Camera
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A criadora Carolina Machado Ugo Camera
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Carlos Gil Ugo Camera
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O criador Carlos Gil Ugo CCamera
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O jovem criador Gonçalo Peixoto Ugo Camera
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Gonçalo Peixoto Ugo Camera
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Gonçalo Peixoto Ugo Camera
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Gonçalo Peixoto Ugo Camera
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Desfile de Valentim Quaresma Ugo Camera
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Valentim Quaresma com Ana Salazar Ugo Camera

O sol e a materialidade de Constança Entrudo; a clavícula e a elegância de Nuno Gama; os opostos de Carolina Machado; a paz de Carlos Gil; a liberdade e a euforia de Gonçalo Peixoto; a luz de Valentim Quaresma; e o tão aguardado regresso de Dino Alves ─ o último dia da 58.ª ModaLisboa fez-se de contrastes no Hub Criativo do Beato. “Espero ter voltado em força”, celebrou Dino Alves, no rescaldo do desfile que levou a plateia ao êxtase, no encerramento do evento de moda da capital.

Passa pouco do meio-dia e vai começar o último dia de desfiles no hotel Iberostar na Rua Castilho, com Constança Entrudo. Com a jovem criadora, em “Uncertain Cosmic Burst”, o público chegou mais perto do sol (e da moda). As modelos percorrem a sala e interagem com os fotógrafos ─ aqui ninguém é meramente espectador. “Agora, para mim só faz sentido apresentar assim. As pessoas conseguem conversar umas com outras sobre as peças”, explica a designer ao PÚBLICO.

Não é a primeira vez que Constança Entrudo apresenta em formato happening. A novidade está, sim, na colecção, inspirada pela ilusão de estar perto do sol. “Quanto mais próximo do sol há, ao mesmo tempo, um eclipse. Por isso, introduzi o preto que não é costume nas minhas colecções e é desafiante”, justifica a criadora. Nos tons mais escuros, as texturas adquirem uma importância redobrada, por isso, deu tridimensionalidade à técnica das linhas ─ a sua assinatura.

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As cores vivas, que assume serem as suas favoritas, continuam presentes, com novas técnicas, tal como as sedas pintadas e estampadas ─ um trabalho que é feito pela criadora no estúdio, onde trabalha com mais seis pessoas. Em termos de silhuetas, surpreende pelas formas mais descontraídas com os acolchoados, também uma nova técnica. “A marca cresceu, senti a necessidade de subir mais um degrau”, justifica.

Assumidamente uma “designer de materiais”, desta vez, Constança Entrudo confessou ter começado a pensar mais na colecção como um todo, além das matérias-primas, e até nas pessoas que eventualmente a usarão. “O meu processo criativo é tão intenso, fico tão imersa nos tecidos, que me esqueço em que se vão tornar”, confessa. Os Estados Unidos continuam a ser o principal mercado internacional da marca, que também está a crescer na Ásia.

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E asiáticos e americanos vestem-se de forma diferente? “Na verdade, os americanos gostam de tudo, desde as peças muito artesanais até às nossas peças mais populares”, aponta a designer. Já os japoneses, contrapõe, preferem peças mais oversized e em cores neutras. Esta colecção, conclui, acredita ser a sua proposta mais abrangente de sempre, a pensar em todos os tipos de homens e mulheres ─ o género é irrelevante na marca de Constança Entrudo.

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Carlos Gil: uma colecção “com muito sentimento”

De regresso ao Hub do Beato, é Nuno Gama a arrancar a tarde de desfiles, com a colecção “Clavícula”, que marca o seu regresso à elegância, como explicou o criador, ao PÚBLICO, umas semanas antes da apresentação. Apesar de ter optado por uma apresentação mais sóbria, sem o “samba enredo” que o caracteriza, o designer arrancou um sorriso a todos os presentes com a alusão ao Zé Povinho.

Pouco depois, a jovem Carolina Machado apresenta um Inverno de opostos, entre o escuro e o claro, as formas exageradas e o justo, o desportivo e o clássico. Com restos de colecções e malhas recicladas, a criadora aposta, como é hábito, na alfaiataria, que aqui surge nos fatos imaculados e nas gabardines. Inesperadamente, para a próxima estação fria, dá uso a materiais menos habituais na marca, como a pele sintética e o vinil.

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Inesperado é também o adjectivo que pode ser usado para definir a colecção de Carlos Gil, o criador que se segue. Depois de nas duas estações anteriores ter apostado nos tons coloridos, o veterano vira-se para os neutros em “After-Checkmate”, numa alusão ao universo do xadrez. Ao PÚBLICO, explica que a proposta tem duas vertentes: a batalha do xadrez e o origami, associado a uma lenda oriental de paz.

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“Foi isso que tentei nesta batalha: promover a paz. Todos nós sabemos que há peões e que nem sempre as coisas correm a gosto”, lembra Carlos Gil. A paz surge na paleta de cores branca e nos beges, que justifica trazerem serenidade. Destacam-se os plissados, os assimétricos e os acessórios em formato de origami.

Apesar de ter desenhado a colecção há quase seis meses, o criador lembra a actualidade do tema, mencionando a guerra na Ucrânia. “Senti uma necessidade de expor todas estas emoções na minha colecção. Tem muito sentimento”, termina. Ao som de um poema escrito por uma amiga sobre a temática, sem qualquer música de fundo, Carlos Gil percorre a passerelle, emocionado. “Hoje não celebramos. Hoje sobrevivi. Amanhã, o que é o amanhã?”, ouve-se na sala.

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A liberdade do corpo com Gonçalo Peixoto

A emergência humanitária que se vive na Ucrânia não foi ignorada durante os quatro dias de ModaLisboa, além de terem sido recolhidos donativos na área social do evento, vários criadores doaram também percentagens das suas vendas para a crise no leste europeu ─ é o caso de Gonçalo Peixoto, que até 16 de Março estará a oferecer 20% do que for vendido na loja online da marca, à Unicef, que apoia as mais de 7,5 milhões de crianças ucranianas.

Para a próxima estação fria, o criador viaja até aos "loucos anos 20” e ao estado de euforia. “Queria falar de temas como a liberdade do corpo, o empoderamento feminino, a igualdade de género. Cada vez mais quero que a mulher Gonçalo Peixoto seja uma mulher que bate o pé”, defende, em conversa com o PÚBLICO. E esses corpos de que fala o designer, assegura, não são todos iguais. “Quero vestir vários tipos de mulher. Não estou só a criar para manequins”, assegura.

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Mantendo a sua assinatura nas cores, nas transparências e nos brilhos, Peixoto arroja numa nova tonalidade: “Nunca tinha trabalhado o preto e queria torná-lo também um euforia”. Como? Adicionando o brilho como só ele sabe. “Traz uma mulher mais adulta, que, se calhar, não pode andar sempre vestida de cor, mas que se quer divertir. Quero mudar o estigma das pessoas acharem que o preto é aborrecido”, explica.

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Para levar o desafio mais além, também apostou num novo material, as gangas. “Se fizesse os coordenados pretos num tecido subtil, ia parecer muito feminino. Quis dar-lhe um aspecto cru”, observa. Manteve o material na cor original para evitar as lavagens que tornam as gangas tão poluentes e recorreu ao reciclado. As peças não têm, propositadamente, acabamentos, porque “a liberdade não tem de ser perfeita”. E imagina quem o vai vestir: “É uma miúda que não quer saber.” Em resumo: “Liberdade é palavra-chave desta colecção.”

À parte das colecções apresentadas a cada seis meses na ModaLisboa, Gonçalo Peixoto também desenvolve uma linha mais acessível onde utiliza restos de tecidos que vão sobrando, para evitar os desperdícios. Além disso, acredita que esta é uma forma de levar a moda de autor a um público mais alargado. “Acima de tudo, é o ganha-pão da marca. Sem isso [essa linha] a marca não era possível”, declara.

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Na sala de desfiles, a programação encerrou com Valentim Quaresma que continuou o trabalho artístico, onde as jóias são o grande destaque. As formas mais fluidas das peças em preto contrastam com a frieza do alumínio dos acessórios, que adornam os rostos e os peitos das modelos O desperdício têxtil esteve na base de toda a colecção, cuja apresentação contou com uma participação especial: a criadora Ana Salazar, aos 80 anos, cruzou a passerelle com o designer.

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Ana Salazar Ugo Camera

“Isto é uma colecção Dino Alves"

No exterior do Hub Criativo do Beato, o ambiente é de celebração e não é para menos ─ Dino Alves está de volta, depois de dois anos de ausência. Está estendida a passadeira vermelha que a ocasião pede. O criador regressa com “Bairro”, a colecção patrocinada pela plataforma de apostas desportivas, Betclic. “Parei as últimas edições por questões de pandemia, mas também por falta de orçamento”, assume o designer. Ter agora este apoio, foi a oportunidade ideal para voltar a mostrar a sua visão da moda no evento da capital.

Inspirado pelo universo do basquetebol ─ tema escolhido pelo patrocinador ─ Dino Alves conta ter feito um tributo aos desportos urbanos e à música associada a este universo. “Tentei puxar pelo ADN Dino Alves”, conta. As sweatshirts desportivas assumem formas exageradas e convivem com peças mais delicadas, como as saias em tule. Não faltam as sobreposições, as calças largas com calções por baixo e as peças directamente saídas do campo de basquetebol. O criador aproveitou equipamentos usados de equipas portuguesas como ponto de partida para vários coordenados.

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As bolas de basquetebol transformam-se em acessórios, como pequenas malas, que Dino Alves revela terem sido “muito difíceis” de conseguir concretizar, dada a rigidez e o formato. Os sapatos e botas também são desenhados pelo criador e estarão à venda. Apesar do patrocínio, o criador garante que a empresa não irá interferir no processo normal de encomendas, nem de vendas: “Isto é uma colecção Dino Alves, não é uma colecção Betclic. Isso ficou assente desde início.”

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O criador vai manter a relação com a marca durante mais algum tempo, na sequência de assumir a liderança criativa de um novo projecto que irá juntar atletas e marca de roupa desportivas na concepção de colecções cápsulas. Fica em aberto se a participação de Dino Alves na ModaLisboa continuará circunscrita a este patrocínio. Mas o criador provou que é possível fazer roupa a partir de tudo, até de redes de cestos de basquetebol.

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Com uma saia esvoaçante em tule, a última modelo cruzou a passerelle, seguida de Dino Alves, recebido com uma ovação de pé. Assim terminou a 58.ª edição da ModaLisboa no Hub Criativo do Beato. O certame estará de volta em Outubro.

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