“Um dia os ucranianos vão devolver” todo o apoio. A “história exemplar” do primeiro voo humanitário português

O primeiro avião com refugiados da Ucrânia – 267, metade crianças –, chegou esta quinta-feira a Lisboa, contando uma história de solidariedade e colaboração entre entidades privadas e públicas portuguesas.

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O voo deverá ser o primeiro de cinco que a associação Ukrainian Refugees UAPT quer realizar nas próximas semanas Rui Gaudêncio
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O primeiro voo humanitário de ucranianos chegou a Lisboa
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O primeiro voo humanitário de ucranianos chegou a Lisboa Rui Gaudêncio
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Roman Kurtysh é a cara do cansaço, mas também da satisfação, da gratidão, da solidariedade. Foi ele o motor da ideia de criar uma ponte aérea humanitária entre Lisboa e Lublin, a cidade do Leste da Polónia mais perto de Lviv. Embarcou às 2h da madrugada desta quinta-feira com um avião cheio de ajuda e chegou ao início da tarde no primeiro voo humanitário dos cinco que espera conseguir realizar, pois fez questão de vir a acompanhar os seus 267 conterrâneos que vão agora procurar recomeçar a vida em Portugal, tal como ele fez há 20 anos.

Nas últimas duas semanas, um pouco menos, dormiu duas, três horas por noite, e desdobrou-se em contactos em Portugal, na Ucrânia e na Polónia, ele e José Ângelo Neto, fundadores da associação Ukrainian Refugees UAPT, para conseguir tudo o que era preciso. Fretar um avião a baixo custo, combustível, criar redes de contactos para arranjar alojamento, bens essenciais e material médico, desbloquear processos burocráticos e abrir portas nas instituições para receber centenas, tantas quantas possíveis, de ucranianos fugidos à guerra.

“O céu é o limite”, disse ao PÚBLICO, fazendo questão de agradecer o apoio da Euroatlantic e da Galp, “que foram céleres na resposta”, mas dizendo que agora precisam de “mais ajuda para ajudar mais”.

Moveram montanhas. “No sábado à tarde apareceram em Belém, o Roman e o Ângelo a dizer: temos um avião para levar ajuda e trazer pessoas. Precisamos que seja declarado voo humanitário”, contou o Presidente da República no aeroporto militar de Figo Maduro, à chegada do primeiro avião. De imediato Marcelo Rebelo de Sousa contactou a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, que por sua vez accionou o Governo nesse sentido.

“À sua maneira, esta é uma história exemplar: tivemos a sociedade civil a tomar a iniciativa, tivemos o poder político a actuar em conjunto, com relevo naturalmente para o Governo, as câmaras municipais, a embaixada sempre presente, e o voluntariado a permitir esta operação”, acrescentou Marcelo.

Ladeado pelas ministras da Presidência e da Administração Interna, pela embaixadora da Ucrânia em Portugal e pelos dois empresários da Ukrainian Refugees UAPT, que tinham acabado de subir ao avião para dar as boas-vindas aos refugiados, o Presidente sublinhou que este era “um dos momentos em que fazer política vale a pena: eram 267 pessoas a bater palmas e a dizer ‘obrigado, Portugal’, não se pode dizer que cheias de alegria, mas cheias de gratidão”, descreveu Marcelo.

“Em nome da Ucrânia, quero expressar a gratidão profunda por esta solidariedade incrível de Portugal”, afirmou Inna Ohnivets, a embaixadora ucraniana em Portugal. Um país que Roman Kurtysh considerou “único, pequeno, mas tão grande na escala do vosso coração e da vossa história”. “Um dia os ucranianos vão devolver” todo o apoio, garantiu: “Hoje é uma semente que vocês semeiam, daqui a pouco vai crescer uma árvore com frutos. É essa a nossa promessa”, disse, visivelmente emocionado.

À chegada, longe dos olhares dos jornalistas, os 267 refugiados, na sua maioria mulheres e crianças (apenas alguns homens de idade) foram todos testados à covid-19 e depois encaminhados para um centro de acolhimento preparado na sede da empresa de construção civil de Kurtish, na Azambuja, onde terão alojamento, alimentação e todo o tipo de apoio de saúde e psicológico.

Uma parte deles, que necessitam de cuidados médicos, ficarão num hotel em Lisboa que disponibilizou meia centena de quartos para o efeito. Cerca de uma centena tem familiares em Portugal e deverão ser mais tarde acolhidos por eles, enquanto os restantes irão ser reencaminhados para novos projectos de vida desenhados à sua medida.

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