Como os vídeos de Marta se tornaram virais no TikTok: a Ucrânia é “um problema de todos”
A ucraniana Marta Vasyuta publica vídeos do conflito na Ucrânia no TikTok, que já têm milhões de visualizações. “Apenas quero que as pessoas entendam que a Ucrânia não é somente um problema dos ucranianos, mas um problema de todos”, sublinha a jovem de 20 anos.
Há algumas semanas, Marta Vasyuta, natural da Ucrânia, tinha uma conta na aplicação TikTok – como grande parte das pessoas da sua idade –, com apenas algumas centenas de seguidores. Porém, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, tornou-se numa espécie de “influencer de guerra”, como afirma o jornal espanhol La Vanguardia. Os vídeos que a jovem de 20 anos tem partilhado sobre a situação são vistos por milhões de utilizadores.
Na madrugada de 24 de Fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, Marta estava no Reino Unido a visitar amigos da universidade. Extremamente preocupada com a família que ainda está no país, a jovem foi obrigada a ver a guerra longe de casa.
Para se informar sobre a situação, começou por ver canais ucranianos através do Telegram, uma aplicação de troca de mensagens popular na Ucrânia. Guardou uma grande quantidade de vídeos enviados para estes canais e, após verificar a sua veracidade, acabou por publicá-los no TikTok. Na manhã seguinte, acordou com nove milhões de visualizações, escreve a BBC News.
Desde então, Marta, que permanece no Reino Unido, tem feito publicações sobre o conflito na Ucrânia, com as quais pretende informar mais pessoas “sobre o que se passa no seu país”, afirma ao The Guardian. “Apenas quero que as pessoas entendam que a Ucrânia não é somente um problema dos ucranianos, mas um problema de todos”, salienta à BBC News.
Até agora, a sua conta no TikTok tem mais de 19 milhões de likes e cerca de 249 mil seguidores, número que, confessa, ainda “não consegue compreender”.
Para Marta, a verificação do conteúdo dos vídeos que partilha pode ser um processo complicado, visto que, mesmo que sejam da Ucrânia, alguns podem ser referentes ao conflito que ocorre no Leste do país já desde 2014. Especialistas consideram que, desde que o conflito na Ucrânia começou, as redes sociais, como o TikTok, têm tido um papel importante na divulgação de informação fidedigna sobre a guerra e também têm trazido “à tona” muita desinformação acerca dela. De acordo com a Reuters, investigadores de desinformação online consideram que a “informação falsa sobre o conflito está agora misturada com a informação autêntica”: as pessoas têm partilhado, por exemplo, imagens do conflito israelo-palestiniano na Faixa de Gaza, animações de aeronaves no ar e até filmagens de videojogos como se fossem da guerra na Ucrânia.
De forma a minimizar a desinformação visível na aplicação, o TikTok, que conta já com mil milhões de utilizadores, tem trabalhado com organizações de verificação de factos. “Continuamos a monitorizar a situação atentamente, com recursos acrescidos para responder a tendências emergentes e para remover conteúdo que viole [as nossas políticas], incluindo desinformação prejudicial e promoção de violência”, afirma à Reuters um porta-voz do TikTok.
Apesar do problema de desinformação, o TikTok tem servido como uma fonte de notícias para adultos, especialmente com idades inferiores a 25 anos, avança o The Guardian. Segundo a empresa Forrester Research, escreve o mesmo jornal, quase metade dos millennials e dos jovens adultos da geração Z dos Estados Unidos utilizam a rede social para se informarem.
Para Mike Proulx, director de investigação da Forrester, o algoritmo do TikTok e a sua popularidade, juntamente com a “confluência entre as redes sociais e o telemóvel”, que “permitiu que todos se tornassem distribuidores no terreno e instantâneos”, contribuíram para a criação de uma “tempestade perfeita de viralidade do conteúdo”, afirma ao The Guardian.
O fundador e director-executivo da organização não-governamental britânica Center for Countering Digital Hate, Imran Ahmed, partilha a mesma opinião. Em declarações ao The Guardian, admite que o algoritmo do TikTok “está actualmente a promover, de forma agressiva, conteúdo relacionado com a Ucrânia, independentemente de ser verdadeiro ou não”. “Ao contrário de outras plataformas, [o algoritmo] também fornece aos utilizadores metadados com os quais podem fazer a sua própria verificação – ou até saber de onde vêm as imagens.”
Texto editado por Ana Maria Henriques