O dia era de festa, com uma revelação à escala global, depois de um período de apresentações exclusivas a que o PÚBLICO teve acesso. Mas a guerra na Ucrânia e o estado de espírito que se vive um pouco por toda a parte levou o emblema de Hiroxima a suspender a celebração e a revelar o seu novo porta-estandarte de forma mais sóbria: “Dada a terrível situação na Ucrânia, não cremos ser apropriado, neste momento, celebrar o lançamento do nosso modelo”, informou a marca, em comunicado.
Se os tempos fossem outros, a Mazda teria razões para festejar, já que, com o novo CX-60, um SUV de 4,75 metros de comprimento com uma distância entre eixos de 2,87 metros, não só desbrava caminho entre os híbridos de ligar à corrente (uma estreia, relevante em vários países europeus onde existem benefícios fiscais para este tipo de mecânicas, como em Portugal), como se reafirma como a marca premium que quer ser para lutar por um lugar ao lado dos congéneres europeus, como BMW ou Mercedes, e que, para tal, estreia a plataforma Skyactiv Multi-Solution Scalable Architecture.
O visual é marcante, ainda que, como explicou o designer Jo Stenuit ao PÚBLICO, o seu trabalho tem sido essencialmente retirar tudo o que está a mais, jogando com as cores e as sombras. Para tal, esculpiu um automóvel elegante, de linhas simples, mas criando superfícies capazes de reflectir a luz, criando a ilusão de movimento. E, ainda que o carro seja pensado para a Europa, a inspiração vem de conceitos nipónicos, como o ma, “a beleza calma e digna do espaço vazio”. Já no interior, Stenuit adaptou a ideia de kaichô, “a harmonia que vem da mistura de diferentes materiais e texturas”, e musubu, “a forma única japonesa de misturar os têxteis”. Pelo sumptuoso habitáculo há madeira, couro, têxteis, num equilíbrio que visa criar uma sensação de elegância sem descurar o conforto.
No entanto, a maior surpresa surge sob o capot: enquanto a maioria das marcas aposta no downsizing dos motores, a Mazda acredita que essa não é a solução, defendendo que uma política ambientalmente sustentável passa por olhar para todo o ciclo do carro e, também, para a eficiência da queima do combustível. Assim, a mecânica plug-in assenta num motor a gasolina de injecção directa Skyactiv-G 2.5, de quatro cilindros, que se une a um motor eléctrico de 100 kW, de grande dimensão, uma nova transmissão automática de 8 velocidades e uma bateria com capacidade de 17,8 kWh.
O conjunto oferece uma potência máxima de 327cv e um binário máximo de 500 Nm, o que significa que este é o carro mais potente de sempre na gama da Mazda de modelos em série. Números que o tornam capaz de performances impressionantes, indo de 0 a 100 km/h em apenas 5,8 segundos, ao mesmo tempo que reclama credenciais ambientais de respeito: com uma autonomia eléctrica para mais de 60 quilómetros, o consumo médio andará nos 1,5 l/100 km e as emissões de CO2 em pouco mais dos 30 g/km.
Em termos dinâmicos, a Mazda chama a atenção para o facto de ter colocado a bateria entre os eixos dianteiro e traseiro e o mais baixo possível, criando um centro de gravidade baixo, o que combinou com um sistema permanente de tracção integral. “Procurámos uma condução desportiva desprovida de dureza e fizemos grandes progressos em termos de conforto face ao CX-5”, garante Joachim Kunz, director do centro europeu de engenharia da Mazda.
Além disso, a suspensão foi reforçada com braços duplos à frente e uma configuração multilink atrás, com controlo cinemático. Isto significa que, em situações que o veículo parece fugir, o sistema trava ligeiramente a roda traseira interior de forma a garantir a estabilidade.
Mas o mais impressionante (e surpreendente, quando se olha para o que a indústria hoje oferece) fica para mais tarde: a Mazda vai recuperar a arquitectura de seis cilindros em linha, apresentando um Diesel de 3,3 litros, com tecnologia híbrida de 48V, no final do ano, e um modelo de gasolina de 3,0 litros, que unirá a electricidade à tecnologia Skyactiv X, que assenta em criar ignição por compressão. Estes motores são compatíveis tanto com configurações de tracção traseira como de tracção às quatro rodas e, acredita a marca, poderão ser a resposta ambientalmente mais responsável, tendo em conta “as necessidades energéticas que um veículo eléctrico ainda requer”.
Em linha com este pensamento, o Mazda MX-30, o único eléctrico do emblema nipónico, manterá o tamanho das baterias, mas apresentar-se-á capaz de percorrer mais quilómetros sem preocupações, ao juntar um extensor de autonomia, com a montagem de um gerador a combustão.
No futuro, desenha-se ainda um SUV de sete lugares (CX-80) e novas propostas electrificadas assentes na mesma plataforma escalonável.