Mégane eléctrico é o Renault mais tecnológico de sempre
Bonito, potente, prático e, sobretudo, sem emissões. O primeiro Renault Mégane E-Tech Electric, que chega a Portugal no segundo semestre a partir de 35.200€, apresenta um pacote tecnológico que eleva o familiar da marca francesa a outro patamar de sofisticação.
A Renault ligou o Mégane à corrente. Além das versões com motores térmicos, algumas das quais com apoio eléctrico, a partir de Setembro vai estar disponível no mercado português um carro totalmente novo. E não é apenas por ser 100% eléctrico — uma estreia naquele que é um dos modelos familiares mais populares em Portugal —, mas por se tratar de um pacote tecnológico que, garante a marca, eleva o Mégane a outro patamar de sofisticação e reúne argumentos para fazer frente aos dois rivais assumidos: Volkswagen ID.3 e Tesla Model 3.
Olhamos para o E-Tech e conseguimos ver ali um Mégane. Mas é um carro novo, de uma ponta à outra. A Renault afastou os eixos o mais que pôde e ganhou habitabilidade. A bateria, com apenas 11 cm de espessura, contribuiu para o desenho exterior compacto e enganador: parece grande, mas o E-Tech é 5 cm mais baixo que o pequeno Zoe. As linhas são suaves e confortáveis, e as jantes enormes (de 18 e 20 polegadas) dão-lhe uma postura desportiva, uma mistura bem conseguida que, diga-se, resulta melhor ao vivo.
O Mégane E-Tech Electric faz pontaria às famílias jovens e àqueles que ponderam experimentar a mobilidade eléctrica. É uma espécie de smartphone com quatro rodas, que traz instaladas de raiz as apps da Google — usa, por exemplo, o Google Maps como navegador — e um sem número de novidades tecnológicas. A Renault registou 300 patentes na construção deste carro, inovações que vão desde a insonorização do habitáculo até à estrutura da plataforma eléctrica (CMF-EV) que partilha com a Nissan e com a Mitsubishi.
Os toques de modernidade estão por todo o lado. Durante a apresentação internacional do novo Mégane, que levou a Marbella (Espanha) 700 jornalistas, foi-nos dada a experimentar a versão Iconic, a mais cara (a partir de 47.700€) e apetrechada, o topo na lista das nove disponíveis. Tem acabamentos em pele, plásticos de boa qualidade, dois ecrãs de 12'’ e botões a sério — a fugir (e bem) à moda do touch que parece ter contagiado a indústria automóvel.
O designer responsável pelo interior disse ter procurado construir um Mégane que nos fizesse sentir como que “em casa”. Achamos que conseguiu. Teve atenção ao detalhe e arranjou muito espaço de arrumação, bancos confortáveis (aquecidos e com sistema de massagem) e uma bagageira de 440 litros (algo elevada, pouco simpática para pessoas de baixa estatura que tenham de carregar malas pesadas).
O motor de 220 cv e 300 Nm de binário da versão testada é despachado nas acelerações (0-100 km/h em 7,4s) e resolve as ultrapassagens num abrir e fechar de olhos e, apesar de não ser o que se possa chamar de desportivo, é capaz de deixar as crianças no banco de trás indispostas em percursos sinuosos. A autonomia (realista) nas versões com bateria de 60 kWh ultrapassa os 350 quilómetros — a Renault fez as contas a consumos médios em torno dos 21 kWh, mas no nosso curto teste fizemos menos de 14 kWh.
O Megane E-Tech Electric suporta vários tipos de carregamentos, de doméstico (que dura a noite inteira) a rápido: a 130 kW, restaura em 30 minutos autonomia para 200 km em auto-estrada e 300 km em estrada. Entre os argumentos tecnológicos está a recuperação da energia da travagem; há duas patilhas no volante, no lugar onde costumamos ver as mudanças rápidas, que servem, neste modelo, para seleccionar uma de três opções de travagem regenerativa, o que contribui para a economia e conforto da condução.
O volante esconde outro atributo interessante: é possível realizar manobras apertadas com menos trabalho de braços. Ou seja, o curso de viragem é muito pequeno: com meia volta fazemos o equivalente a uma volta inteira num Mégane a combustíveis fósseis. A direcção é bastante precisa e ajusta-se dinamicamente aos modos de condução (de confortável a desportiva). A resposta do motor, a cor do painel e dos elementos luminosos do interior também mudam consoante o modo de condução, bem como com a hora do dia e a temperatura do habitáculo (sim, leu bem). O E-Tech Electric faz lembrar um telemóvel moderno, que mostra funcionalidades que, sendo absolutamente desnecessárias, são um extra com graça.
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Outra, que nos deu particular gozo experimentar: o estacionamento automático. Com câmaras 360º que analisam o espaço disponível, o sistema manobra o carro lateralmente de forma automática, seja para entrar, seja para sair do lugar. É estranho (e divertido) olhar para um volante que se mexe sozinho. Este é um dos vários sistemas de ajuda à condução disponíveis nos novos modelos, uma aposta de conforto e de segurança da Renault neste segmento dos familiares médios. O mais relevante pareceu-nos ser o cruise control adaptativo, que é capaz de ler os sinais de trânsito e, conjugando com os dados do Google Maps, adaptar a velocidade ao limite legal e ao veículo da frente. Funciona com grande eficácia.
Menos agradável foi a solução encontrada para colmatar a reduzida visibilidade traseira: o espelho retrovisor pode ser transformado, com um toque para a posição anti-reflexo, num ecrã que projecta a imagem de uma câmara. Só que o efeito final não é feliz: a imagem é (obviamente) artificial e carece do efeito de profundidade. As mais de duas centenas de quilómetros que fizemos no carro não tornaram a experiência mais fácil.
Outra nota premium no novo Mégane Iconic: o sistema de som da Harman Kardon toca bem e alto. Mais uma: a ligação do telemóvel à consola, que suporta Android Auto e CarPlay além do sistema Google Assistant instalado por defeito (que ainda não fala português), é feita sem fios, uma funcionalidade geralmente reservada a automóveis de segmentos superiores. E por falar em tecnologia wireless, as actualizações do firmware do automóvel é feita over the air. A garantia oferecida pela bateria tem argumentos para descansar os clientes: oito anos ou 160 mil quilómetros, caso se deteriorem para menos de 70% da capacidade.
Ponto comum e fundamental em todas as versões: o conforto. Qualquer um dos modos de condução predefinidos (eco, comfort e sport) mostrou-se macio e adequado a todos os cenários. Seja para um ou cinco ocupantes, na cidade, estrada ou via rápida, a Renault soube fazer um carro que é uma aposta de futuro e de renovação do modelo e da marca. Esta quinta geração do Mégane é tão diferente que parece a primeira. E ainda bem.