Projecto Labic Aveiro quer contribuir para a integração da comunidade africana
Há um novo laboratório de cidadania a decorrer na cidade da ria, envolvendo várias associações e privados. O objectivo passa por apoiar a integração dos africanos residentes em Aveiro.
Três anos depois de se ter aventurado a criar aquele que foi o primeiro laboratório cívico português, Aveiro volta dar cartas em matéria de cidadania. Fruto de uma parceria que envolve a Universidade de Aveiro (UA), a Associação Mon Na Mon, a AIDA - Câmara de Comércio e Indústria de Aveiro, a Aga Khan Foundation e o Grupo Prifer, acaba de nascer o Labic Aveiro - Laboratório de Cidadania Intercultural. Um projecto financiado pelo programa Parcerias para o Impacto do Portugal Inovação Social e que pretende contribuir para a integração social, cultural, académica e profissional da comunidade africana lusófona residente em Aveiro. Só na universidade aveirense — ou seja, sem contabilizar instituições de ensino superior privadas — estão inscritos 600 estudantes africanos.
Poucos dias depois de ter arrancado, o Labic Aveiro já sentou à mesa alguns membros da comunidade africana lusófona, sobretudo estudantes, que tiveram a oportunidade de transmitir aquilo que os preocupa e mobiliza. Entre os dez temas identificados, há questões como “a sua chegada e quem os acolhe e dá apoio”, “a forma como têm de passar a gerir a sua vida sozinhos, sem irem a casa” e “o custo de vida”, agravado “pelo mercado imobiliário brutal”, enumera José Carlos Mota, um dos investigadores da UA envolvidos no projecto.
A par com tudo isto, os estudantes africanos manifestaram ainda dificuldades em matéria de “competências linguísticas e do uso de computadores” - situação que acaba por levar a que não sejam integrados, pelos colegas, em trabalhos de grupo -, e também ao nível das suas vivências na sociedade e na academia. “Cá, há uma cultura muito individualista, enquanto nos países de origem é muito familiar. Por outro lado, nos seus países há, na academia, uma cultura mais reactiva, enquanto aqui lhes é exigida maior proactividade”, acrescenta o investigador.
Outra das dificuldades sentidas, passa pela integração no mercado do trabalho. “Há uma barreira muito grande entre aquilo que é a qualificação obtida e o trabalho que têm”, repara José Carlos Mota, a propósito da auscultação feita pela equipa do Labic Aveiro.
Depois desta auscultação, a fase seguinte passará pela mobilização de estudantes africanos e não africanos, para ajudarem a identificar projectos que possam ser experimentados e desenvolvidos. “Iremos desenvolver oficinas e ateliers, para se começarem a construir os Projectos de Inovação Comunitária (PIC). Basicamente, é o momento em que se geram ideias e projectos efectivos que vão acontecer a partir, mais ou menos, de Setembro”, explica Sofia Nunes, da Aga Khan Foundation.
Uma comunidade “esquecida”
A ideia de trabalhar junto da comunidade africana surge não só pela quantidade de alunos dos PALOPS que estão a estudar na UA, mas também pela parceria que a instituição de ensino superior e a Mon Na Mon (Associação de Filhos e Amigos da Guiné-Bissau em Aveiro) têm vindo a firmar há vários, na certeza de que há ainda muito trabalho para fazer. “Fala-se muito em integração, nas dificuldades dos imigrantes, mas esquecem-se dos estudantes africanos, que também são imigrantes e as suas necessidades têm sido colocadas de parte”, começa por notar Andreia Pereira, da Mon Na Mon, associação que tem tentado colmatar algumas dessas carências.
No âmbito de uma candidatura ao programa Bairros Saudáveis, a associação conseguiu abrir, recentemente, um gabinete de serviços à comunidade, com o objectivo de “acompanhar os estudantes e informar quais as entidades locais que poderão suprir as suas necessidades”, acabando por ser confrontada com um grande desafio. “Não estávamos à espera que houvesse outras questões, como a do alojamento, que fosse sentida como uma necessidade premente”, refere a dirigente da Mon Na Mon, colectividade que tem recebido também solicitações relacionadas com carências alimentares.
Por força de todas estas situações, alguns alunos “acabam por trancar as matrículas para arranjar trabalho, ficando neste ciclo em que nem têm melhores condições, nem regressam aos seus países, nem se sentem bem aqui”, alerta Andreia Pereira, esperançosa de que o Labic Aveiro consiga alterar estas realidades.