Uma comunidade agradecida, “feliz e livre” em Portugal

São cerca de 28 mil os imigrantes ucranianos a viver em Portugal. Mesmo num momento de grande sofrimento, não esquecem o apoio que sempre receberam no nosso país.

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Ricardo Lopes�
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Alguns dos ucranianos a viverem em Portugal realizaram neste domingo em Lisboa a primeira grande missa greco-católica depois da Rússia ter invadido o seu país. Rezaram pela paz e agradeceram mais uma vez a amizade que portugueses lhe têm dado.

Há uma palavra que esta comunidade imigrante tem repetido vezes sem conta nos últimos dias: “Obrigado”. Nas manifestações que diariamente têm realizado desde que o seu país foi invadido, o apoio que têm recebido dos portugueses nunca é esquecido. Fazem-no por iniciativa própria.

Neste domingo, na emotiva missa dominical na igreja de São Jorge de Arroios, em Lisboa, foi a vez da embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets, subir ao púlpito do templo para, em nome de todos, agradecer mais uma vez. Mas esta genuína gratidão não é de agora. Os cidadãos deste país do Leste europeu dizem ser “felizes, livres e bem tratados” desde que chegaram, alguns há mais de 20 anos.

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Mas que comunidade é esta que, igualmente nos últimos dias, tem recebido, através de muitas declarações a órgãos de comunicação social, muitos elogios dos portugueses?

“Digo-lhe o que todos os dias nos dizem os nossos irmãos portugueses: somos gente de trabalho, honestos e só queremos fazer amigos. Nós somos assim e esta nossa maneira é também uma forma de agradecer a forma como vocês nos receberam e recebem”, disse ao PÚBLICO Pavlo Sodokha, presidente da Associação de Ucranianos em Portugal (AUP), que está nosso país há 21 anos.

O padre Mateus Dziurban, que ministrou a missa greco-católica na Igreja de Arroios, está em Portugal há apenas cinco anos, mas diz conhecer “bem a comunidade” do seu país em Portugal. “Os ucranianos são gente de bem, que quer o bem para si e para os outros.”

A grave crise vivida no seu país nos anos 90 do século passado levou os ucranianos a procurar uma vida melhor um pouco por todo o mundo. Hoje calcula-se que sejam cerca de 10 milhões os que vivem e trabalham num país estrangeiro. Em Portugal são cerca de 28 mil, espalhados por todo o país, mas, entre 2008 e 2010, chegaram a ser 80 mil. A maior parte é, ainda hoje, originária da zona Ocidental do país, uma região agrícola com muito pouca indústria.

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“Os primeiros rapidamente perceberam que eram bem recebidos em Portugal, que eram tratados com respeito. Que havia trabalho. A palavra espalhou-se e começaram a vir muitos, famílias inteiras”, diz Pavlo Sadokha, economista de 52 anos. E dá o seu próprio exemplo: “Cheguei há mais de 20 anos sem trabalho, sem falar português, sem saber nada sobre o país e os portugueses. Desde o primeiro dia que tive pessoas a ajudarem-me. Sempre. Facilmente arranjei amigos e até casei com uma portuguesa.”

“Sem dificuldades em arranjar emprego”

O presidente AUP diz ainda que outra das razões para os “ucranianos serem felizes em Portugal” se deve ao facto “de todos os governos sem excepção sempre terem dado grande apoio à comunidade”. “Deram-nos emprego, escolas, até casas, assinaram muitos protocolos de apoio”. “Nunca nos faltou o apoio dos governantes”, assegura.

Estima que, em termos etários, a “maioria tenha entre 50 e 60 anos – foram os que há 20 anos vieram para Portugal com 30, 40 anos”. “Nos últimos anos, vieram muitos jovens, nasceram cá muitas crianças e a comunidade tem agora muita gente jovem.”

Os primeiros que chegaram a Portugal eram na maioria “operários, trabalhadores da construção civil e agricultura e empregadas de limpeza”, mas “na última década a comunidade especializou-se”. “Hoje temos também engenheiros, médicos, músicos, professores e pessoal muito especializado em diversas áreas, que não tem dificuldade em arranjar emprego”, salienta.

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Já sobre a redução significativa do número imigrantes ucranianos a trabalhar em Portugal, o presidente da AUP explica-a com o facto de “muitos dos que vieram nunca tiveram intenção ficar – apenas queriam amealhar algum dinheiro para depois voltar à Ucrânia” e com “a crise financeira que afectou Portugal, que começou em 2011, e que deixou muita gente sem emprego”.

Pavlo Sadokha acredita que, nos próximos tempos, “devido à guerra e depois de António Costa ter aberto as portas de Portugal a todos os que quiserem vir, a comunidade vai crescer. Não faz ainda ideia de quantos vão chegar, mas calcula que “sejam muitos”.

No passado sábado Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, em entrevista à CNN afirmou que “podem vir dezenas de milhares” de ucranianos para Portugal.

“Uma coisa posso garantir aos que quiserem vir: em Portugal vão ser bem recebidos, felizes, livres e bem tratados”, garante Pavlo.

“Glória à Ucrânia”

Voltemos à Igreja de São Jorge de Arroios. Ainda não são 8h e os bancos do templo já estão quase todos cheios. O padre Mateus Dziurban diz que a igreja se enche todos os domingos. “Os ucranianos, como os portugueses, são gente de muita fé. Nestes tempos tão duros, rezar ajuda a ganhar a alguma paz de espírito. Não afasta os problemas, nem as preocupações, mas ajuda. O povo está a sofrer muito. O nosso povo está em grande sofrimento. Rezamos muito pela paz”, afirmou ao PÚBLICO.

Neste domingo, o padre diz ter vistos “rostos mais fechados” e “com mais dor”. “Toda esta gente tem lá [na Ucrânia] família.”

Já depois da cerimónia terminar, a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Inna Ohnivets, subiu ao púlpito da igreja.

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“Putin quer eliminar a Ucrânia como Estado independente e democrático. Com o apoio de todos vamos resistir, e com o apoio dos portugueses vamos vencer”, afirmou aos seus compatriotas.

Assim que a embaixadora acabou de falar, os ucranianos cantaram o seu hino nacional. Em alguns rostos corriam lágrimas. “Glória à Ucrânia, respeito aos seus heróis”, gritaram todos a uma só voz antes de deixarem a igreja.

Já fora do templo, Inna Ohnivets aproveitou a conversa com o PÚBLICO para agradecer o apoio que, no sábado à noite, recebeu do Governo português, que anunciou ir enviar armas para a Ucrânia: “Tenho mais uma vez de agradecer a Portugal e ao povo português por mais este apoio. A Ucrânia está muito agradecida a Portugal. Juntos vamos vencer”.

Inna Ohnivets revelou ainda ao PÚBLICO que o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, também já se disponibilizou para apoiar todos os ucranianos que queiram vir para Portugal na sequência da invasão russa do país. “Estamos agora a estudar que tipo de apoios são necessários, mas tenho a garantia de que seremos ajudados”, afirmou.

O PÚBLICO pediu então autorização à embaixadora para a fotografar. Disse imediatamente que sim, mas antes fez questão de colocar uma bandeira do seu país sobre os ombros.

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