O que é o SWIFT e porque é que tantos querem expulsar dele a Rússia?
Países do Ocidente, que até ontem estavam divididos quanto à possibilidade de remover a Rússia do sistema global de comunicações bancárias e financeiras SWIFT, decidiram excluir alguns bancos russos do sistema. Para que serve este serviço?
Entre o vasto espectro de sanções a aplicar à Rússia discutidas pelos países ocidentais, um dos pontos de discórdia passava pela remoção de Moscovo de um sistema bancário SWIFT. Desde o Reino Unido até à República Checa e a começar pela Ucrânia, foram vários os apelos para que a Rússia fosse bloqueada do sistema.
Este sábado, 26 de Fevereiro, a União Europeia, em concertação com os seus aliados Estados Unidos da América, Reino Unido e Canadá, comprometerem-se em excluir um conjunto seleccionado de bancos russos do sistema de transferências monetárias internacionais SWIFT, para congelar os activos do Banco Central da Rússia e para proibir os oligarcas russos de utilizarem os seus activos financeiros nos seus mercados.
O que é o SWIFT?
O SWIFT – do inglês Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication ou Sociedade Mundial de Telecomunicações Financeiras Interbancárias, entidade que gere o serviço – é o principal sistema de comunicação que os bancos utilizam para realizar transacções transfronteiriças seguras e rápidas. Fundado em 1973, o sistema contava com 239 bancos de 15 países. Actualmente, a infra-estrutura está em todos os continentes do mundo e conta com mais de 11 mil instituições de mais de 200 países e territórios aderentes, tendo-se tornado no principal mecanismo de financiamento do comércio internacional.
Quem gere o SWIFT?
A sociedade cooperativa homónima, que tem sede em La Hulpe, na Bélgica. Tem governação e supervisão internacional e permanece neutra em disputas comerciais. Os accionistas do SWIFT elegem um conselho composto por 25 directores independentes que governam a empresa e supervisionam a sua gestão.
Quais as consequências de impedir a Rússia de usar o SWIFT?
No entender dos defensores da medida, como a Ucrânia ou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, bloquear a utilização do SWIFT pode vir a debilitar a economia russa. Como ferramenta que agiliza e facilita as trocas comerciais, a impossibilidade de as instituições da Rússia utilizarem o SWIFT pode obrigar a que as transacções tenham de ser realizadas entre bancos ou, em alternativa, com recurso a sistemas idênticos, mas menos utilizados – resultando em atrasos nos negócios e custos acrescidos.
O reverso da medalha é que a medida afecte mais os países de Ocidente que a própria Rússia. A previsão de perda de de receitas num cenário de exclusão total da Rússia do sistema internacional para o processamento de transferências monetárias SWIFT (que não está agora em causa, porque o que está em cima da mesa desde este sábado é apenas o isolamento de alguns bancos russos), a União Europeia ficaria imediatamente privada de receitas na ordem dos 80 mil milhões de euros da exportação dos seus produtos para aquele país, que é o quinto maior parceiro comercial do bloco.
A Rússia é um grande importador de bens de países como a Alemanha, Itália ou os Países Baixos, e é destino de vários investimentos directos de empresas europeias – o próprio chanceler alemão, Olaf Scholz, até ontem, publicamente, tinha vindo a afastar a hipótese de bloquear o acesso russo ao sistema global de comunicações bancárias e financeiras SWIFT. As vendas para a Rússia representam quase 5% do total do comércio da UE.
Além disso, o bloqueio das instituições russas poderia significar uma migração destas para outros sistemas de pagamentos e países que não imponham sanções – o caso da China, por exemplo, que até criou o seu próprio serviço semelhante ao SWIFT.
Há registo de outros bloqueios de países no SWIFT?
Não há registo de muitos casos condicionamentos por parte da sociedade, que quando pressionada para banir instituições tem acenado com a neutralidade que defende ter. Em 2014, por exemplo, quando a Rússia invadiu a Crimeia, o Reino Unido também defendeu então o bloqueio da Rússia da rede SWIFT, mas o pedido foi negado pela sociedade.
Em 2012, a empresa cedeu a pressões europeias e norte-americanas para eliminar instituições e indivíduos iranianos, a propósito de sanções relacionadas com o programa nuclear do Teerão. Com Rita Siza
Actualizado após ser conhecido a decisão de vir a afastar parte da banca russa do SWIFT