Árctico
Ursos polares ocupam estação soviética abandonada: um cenário “perfeito” e “surreal”
Numa aldeia abandonada de uma ilha remota no Árctico, o fotógrafo russo Dmitry Kokh capturou um momento invulgar. "Os ventos e as chuvas que se precipitavam sobre as rochas costeiras e os edifícios roídos pelo tempo tornaram aquela visão surreal. Nevoeiro, um lugar desabitado há muito tempo, ursos polares — era o cenário perfeito."
Em Setembro de 2021, o fotógrafo da vida selvagem Dmitry Kokh realizou uma viagem há muito antecipada à grande ilha russa de Wrangel, considerada reserva natural da UNESCO, em pleno Árctico. Percorreu 2 mil quilómetros de costa da ilha, que é pouco acessível a turistas, e viu "paisagens intocadas, aldeias perdidas no tempo, lugares com fauna variada e mares cheios de vida", contou ao P3, em entrevista via e-mail. Num dos dias da viagem, as condições meteorológicas pioraram, forçando o capitão da embarcação onde seguia a procurar refúgio na pequena ilha de Koluychin, conhecida pela sua estação meteorológica polar da era soviética.
"Apesar de a estação estar fechada desde 1992, a aldeia mantém-se ali, abandonada", descreveu. "Os ventos e as chuvas que se precipitavam sobre as rochas costeiras e os edifícios roídos pelo tempo tornaram aquela visão surreal." Subitamente, Dmitry e o grupo que o acompanhava notaram movimento no interior das casas. "Alguém tirou os binóculos e todos vimos cabeças de ursos polares! O nevoeiro, um lugar desabitado há muito tempo, ursos polares — era o cenário perfeito."
Os ursos caminhavam em redor das casas. "Vimos cerca de 20 animais ao mesmo tempo, sobretudo machos", descreveu Kokh. "As fêmeas mantinham-se mais próximas da costa com as suas crias." Mas como conseguiu o russo obter fotografias tão cândidas destes animais selvagens? "Era demasiado perigoso desembarcar na ilha nesse dia, então fiz as fotografias com recurso a um drone equipado com hélices de baixo ruído." Garante ter usado "certos truques que lhe permitiram fotografar os animais sem os perturbar": "Nunca estive perto deles, por isso nunca estive em perigo."
Mas porque é que os ursos polares "ocupam" edifícios? Em conversa com Anatoly Kochnev, biólogo russo que dedica a sua carreira a estes mamíferos, Dmitry aprendeu que os ursos polares são animais muito curiosos por natureza e que dificilmente resistem à tentação de abrir portas e janelas quando com elas se deparam. Dmitry enamorou-se da fotografia da vida selvagem aquando de uma viagem aos Açores, há quatro anos, onde teve contacto com cachalotes. "Fiz uma fotografia [subaquática] durante essa viagem e as imagens ficaram muito boas - até fui premiado", referiu. A partir desse momento, nunca mais parou de fotografar.