Oeste dos Estados Unidos enfrenta pior seca em 1200 anos
Novo estudo mostra a influência das alterações climáticas causadas pelo homem na destruição do ambiente e avisa — décadas ainda mais secas estão para chegar.
Ondas de calor, descida dos reservatórios de água ou incêndios florestais de grandes dimensões e fora de época são consequências das alterações climáticas que empurraram os dois últimos anos dos Estados Unidos para primeiro lugar na categoria de período mais seco da história do país. A causa? De acordo com o mais recente estudo liderado pelo cientista da Universidade da Califórnia Park Williams, é a acção do homem. E destaca uma em particular: a utilização de combustíveis fósseis, que provoca temperaturas elevadas e consequente evaporação do ar, responsável por tirar a água dos solos.
Em 2021, quando os termómetros superaram os 45 graus Celsius, a solução passou por fechar escolas, centros de vacinação ou criar sistemas de arrefecimento. A época das chuvas foi fraca, chegou tarde e os reservatórios de água baixaram cada vez mais. Acções como esta levaram, a curto prazo, a períodos de seca reduzidos.
Mas, a longo prazo, as consequências conseguem ser ainda mais catastróficas, ao ponto de atingirem a seca extrema — ou “megasseca” como apelidam os autores do estudo publicado no jornal Nature Climate Change — e que, no caso do Oeste americano, dura há 22 anos. “Qualquer pessoa que tenha prestado atenção sabe que o Ocidente tem estado seco durante a maior parte das últimas décadas”, explica Williams ao The Guardian. “O que sabemos agora destes estudos é que está seco não só pelo contexto da memória recente, mas também no contexto do último milénio.”
A ideia é partilhada por Jason Smerdon, cientista da Universidade de Columbia e co-autor da investigação, que apelida o fenómeno de “naufrágio em câmara lenta” e que a expressão faz sentido quando as conclusões do estudo revelam que o prognóstico para os próximos anos é ainda mais sombrio, com décadas ainda mais secas. “Estes períodos de seca de várias décadas só vão aumentar no resto do século”, explica Smerdon.
Califórnia, Utah, Montana, Nevada, Wyoming, Colorado ou Texas são alguns dos estados americanos cujos solos foram estudados pelos especialistas e a conclusão foi sempre a mesma. Os níveis de humidade duplicaram nos últimos 22 anos quando comparados com os anos 1900, mas o aquecimento causado pelo homem foi responsável por um aumento de 42% da seca.
As altas temperaturas combinadas com os baixos níveis de chuva e neve entre o Verão de 2020 e 2021 conduziram a seca a um patamar de tal forma extremo que excedeu a registada no final do século XV — e que tinha sido identificada como a pior nos 1200 anos estudados pelos cientistas.
Ocidente continuará a ser o mais afectado
No estudo, Williams revela ainda que será o Ocidente a zona mais afectada pelas ondas de calor mais acentuadas, extremas e frequentes. Tudo isto num momento em que os norte-americanos assistem “ao declínio da conta bancária de água”, afirma o cientista.
E os exemplos não deixam margem para dúvidas. Se no Verão de 2021, dois dos maiores reservatórios de água norte-americanos — os lagos Mead e Powell — atingiram os níveis mais baixos registados (tal como acontece actualmente um pouco por todo o território de Portugal continental), a Califórnia sofreu o mês de Janeiro mais seco de que há registo. Fevereiro conta com ondas de calor recorde e, desde o dia 10, 95% do Oeste americano está em seca. Além disto, os níveis de neve estão abaixo do esperado e os incêndios florestais dos últimos dois anos deixaram grande parte das áreas queimadas e, por isso, mais expostas e com menor capacidade de retenção de humidade.
A solução, defende, passa por alterar (ou pelo menos abrandar) as formas de utilização da água antes que se esgote. Em suma, adoptar caminhos sustentáveis. “As alterações climáticas estão a mudar as condições de base para um estado gradualmente mais seco no Ocidente e isso significa que o cenário continua a piorar. Penso que temos mesmo de nos preparar para condições no futuro muito piores do que esta”, revela Williams.
Citado pelo The Guardian, Alvar Escriva-Bou, membro do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia (PPIC na sigla inglesa), não esconde que já foram dados passos importantes para gerir a questão, mas “as alterações climáticas estão a ultrapassar-nos”. “Já não podemos assumir que temos água suficiente para todas as coisas que queremos”, salienta.