EUA querem que Canadá use poderes federais para acabar com protestos

Bloqueios rodoviários junto à fronteira entre os dois países estão a causar fortes constrangimentos. Governo do Ontário declara estado de emergência em toda a província canadiana.

Foto
Há duas semanas que várias estradas e acessos fronteiriços estão bloqueados no Canadá PATRICK DOYLE / Reuters

O Governo dos Estados Unidos está a pressionar as autoridades canadianas a usarem os poderes federais para acabar com os bloqueios rodoviários organizados por camionistas, como forma de protesto contra a vacinação obrigatória. Os principais pontos de travessia da fronteira entre os dois países estão vedados desde o início da semana e estão já a causar um forte impacto económico e social.

Enquanto o Governo federal não reage, o executivo do Ontário decidiu estender nesta sexta-feira o estado de emergência em vigor na cidade de Otava a toda a província. O primeiro-ministro provincial Doug Ford ameaçou ainda com a imposição de multas e a detenção dos manifestantes envolvidos nos protestos.

“Vou convocar o governo para (…) decretar urgentemente ordens que deixem absolutamente claro que é ilegal e punível bloquear e impedir o movimento de mercadorias, pessoas e serviços ao por infra-estruturas essenciais”, prometeu Ford, citado pela Reuters.

O encerramento parcial da ponte Ambassador, que liga as cidades de Detroit e Windsor e pela qual passam dois terços das trocas comerciais entre os dois países, está a comprometer sobretudo a indústria automóvel. Alguns dos maiores construtores, como a Ford ou a General Motors, anunciaram a redução da actividade das suas fábricas por causa das perturbações nas cadeias logísticas.

Desde o final de Janeiro que milhares de camionistas têm bloqueado estradas à volta da capital canadiana, Otava, bem como algumas zonas da cidade, em protesto contra a obrigação de apresentação de certificado de vacinação contra a covid-19 para atravessar a fronteira. As manifestações, descritas pelas autoridades locais como um “cerco”, têm assumido um tom cada vez mais violento e está a paralisar o tráfego transfronteiriço.

Na quinta-feira, vários camiões e tractores bloquearam o acesso ao porto de Emerson, que liga a cidade canadiana de Manitoba ao Dakota do Norte, enquanto outras passagens fronteiriças como a de Coutts, entre Alberta e o Montana, também estão encerradas.

A persistência dos protestos tem levado dirigentes da Administração norte-americano a apelar ao Governo canadiano para que faça uso dos “poderes federais” para resolver a situação. “As autoridades fronteiriças e aduaneiras dos EUA e do Canadá estão a trabalhar com grande urgência para assegurar o fluxo contínuo de bens e serviços ao longo da nossa fronteira internacional, procurando rotas terrestres alternativas, bem como opções aéreas e marítimas”, diz a Casa Branca, citada pela Reuters.

Em declarações à CNN, Gretchen Whitmer, governadora do estado norte-americano do Michigan diz que o “Governo canadiano tem de fazer tudo o que for possível para resolver a situação de forma segura e rápida”.

A polícia canadiana considera os bloqueios ilegais, mas tem resistido a intervir de forma dura. O autarca de Windsor, Drew Dilkens, defende que que isso pode mudar nos próximos dias. “[Se] os manifestantes não saem, tem de haver um caminho em frente. Se isso significa retirá-los fisicamente, então estamos preparados para isso”, afirmou.

O município da cidade fronteiriça está a aguardar uma decisão judicial sobre a possibilidade de retirar os participantes dos bloqueios, mas Dilkens disse preferir uma abordagem pacífica. “Pode ser satisfatório para alguém assistir à remoção forçada dos manifestantes, mas uma acção como essa pode inflamar a situação e certamente levar a que mais pessoas venham até e se juntem aos protestos, e não queremos arriscar conflito adicional”, explicou o autarca.

Os protestos começaram por se limitar à contestação da obrigatoriedade de apresentação do certificado de vacinação para os camionistas – ou, na sua ausência, a obrigatoriedade de um período de quarentena após entrar no país –, mas entretanto transformaram-se numa oposição generalizada às políticas sanitárias em vigor no Canadá.

Numa altura em que cresce a frustração com a manutenção de várias restrições, associadas à oposição à vacinação, protestos idênticos espalharam-se em países como a Austrália, Nova Zelândia e França, onde também se têm registado bloqueios rodoviários.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários