Empresa diz que não está a ser feita a reutilização de materiais do Prédio Coutinho
Portal da Construção Sustentável diz que as recomendações do seu estudo, que previa a reutilização dos materiais em bom estado do Prédio Coutinho, não estão a ser seguidas. Viana Polis diz que “não há mercado para a compra de sanitas com mais de 50 anos”.
Em 2019, um estudo elaborado pelo Portal da Construção Sustentável (PCS), financiado pelo Governo, recomendou que o Prédio Coutinho, em Viana do Castelo, devia ser desconstruído e não demolido, tendo como objectivo reutilizar os materiais do edifício em bom estado. Adjudicada pela VianaPolis à empresa Baltor, a empreitada em curso que vai pôr fim ao histórico edifício, atrasada em quase três anos em virtude de uma providência cautelar interposta pelos moradores, iniciou em Dezembro último mas não satisfaz Aline Guerreiro, arquitecta e administradora do PCS.
A responsável entende que o processo de demolição do edifício, que tinha tudo para “ser um exemplo da implementação da economia circular em Portugal”, está apenas a recorrer à reciclagem, descartando a reutilização dos materiais e ignorando as indicações do estudo. “Em Novembro, quisemos ficar atentos a todo o processo e eles [VianaPolis] disseram-nos que iam seguir as recomendações. Ficamos atentos e percebemos que, desde então, os materiais foram apenas separados por tipologia e encaminhados para as gestoras de resíduos, uma obrigação desde 2008”, critica.
Assinalando que o princípio da economia circular é dar primazia “primeiro à reutilização e só depois à reciclagem”, Aline Guerreiro diz que “metade dos materiais presentes no edifício podiam ser reutilizados”. “Estamos indignados porque havia centenas de materiais perfeitamente funcionais como portas, torneiras, cozinhas, bancadas de mármore, corrimãos, armários, guardas, e até os oito elevadores” que podiam ser “colocados à venda” ou “utilizados em habitações sociais”, sublinha, lembrando que o Prédio Coutinho “estava pronto a ser habitado e podia considerar-se de luxo”.
Na opinião da arquitecta, a opção da Viana Polis em reciclar os materiais justifica-se pelo facto de a “reutilização dar mais trabalho”. “O ferro e a madeira são muito bem vendidos para sucata, em gestoras de resíduos”, diz, lamentando que o “lucro financeiro” se tenha sobreposto à componente ambiental que vai sofrer pela “muita energia gasta no processamento destes e de novos materiais”.
Viana Polis diz que não há “mercado para os materiais”
Confrontado com as críticas do PCS, o administrador da Viana Polis, Tiago Delgado, começa por acusar a empresa “de só agora reclamar com o que não foi feito”, reconhecendo, ainda assim, que o estudo elaborado deveria “compatibilizar com as condições contratuais da demolição”, admitindo “falhas na comunicação” entre a plataforma e a sociedade detida pelo Estado e pela Câmara de Viana do Castelo.
O responsável sublinha que houve materiais, “como portas”, que conseguiram ser reutilizados, e que houve outros que “foram separados e reciclados, dentro do possível”. Exemplifica que “não há mercado para a compra de sanitas com mais de 50 anos - a maioria delas até é difícil de retirar sem estragos” e que Portugal “ainda não está no estágio de evolução” de países como Alemanha, Dinamarca e Noruega, dos quais o PCS se serviu de exemplo para referir que o que propõe “não é nada de novo”. “Há imensas bases de dados e aplicações móveis nesses países onde se pode comprar material de construção em segunda mão”, assinala Aline Guerreiro.
Construído nos anos 70, o Prédio Coutinho tem prevista a sua demolição desde 2000 mas diversas batalhas jurídicas entre a sociedade VianaPolis e os moradores adiaram a empreitada para o final do ano passado. Segundo Tiago Delgado, o edifício que chegou a albergar 300 moradores estará definitivamente fora do horizonte de Viana do Castelo em meados de Abril.