Música
Guitolão Trio lança disco dedicado a Gilberto Grácio com tema em memória de Aristides de Sousa Mendes
Depois de uma bem-sucedida experiência em duo com o contrabaixista de jazz Carlos Barretto, que deu origem a um disco gravado em 2014 na Lousã e lançado em 2015, o compositor e professor António Eustáquio pôs o seu guitolão a dialogar com outros dois instrumentos, o violino e o acordeão. Daí nasceu o Guitolão Trio, composto por ele (no guitolão), André Gaio Pereira (violino) e Fábio Palma (Acordeão), cujo disco de estreia foi lançado quinta-feira à tarde, ao vivo, numa sessão na Casa do Alentejo, em Lisboa.
Estação #60, assim se chama o disco de estreia deste novo trio, é dedicado à memória do homem a quem se deve a existência do guitolão, o construtor de guitarras Gilberto Grácio (1936-2021), que deu forma a esse instrumento em resposta a um pedido que lhe foi feito por Carlos Paredes, por volta de 1970. A história foi assim contada ao PÚBLICO por António Eustáquio, na altura do lançamento do disco com Carlos Barretto: “Naquela altura, a caixa era a de uma guitarra de Coimbra, com um braço mais longo, um som mais grave e uma afinação própria. E ele ainda gravou com esse instrumento. Chamou-lhe, salvo erro, guitarra portuguesa barítono, por ter um som mais grave.” Mas com o 25 de Abril e outras solicitações, Carlos Paredes acabou por deixar o instrumento de lado. Só que Gilberto Grácio, mestre guitarreiro, quis fazer a partir dali um instrumento novo e deu-lhe um nome que sugeria um misto de guitarra e violão. “Então nasce, com madeiras que ele tinha guardadas há trinta anos, o guitolão. Que já não é propriamente uma guitarra portuguesa barítono, mas um instrumento com personalidade própria. Tem a caixa mais larga, e eu recuperei a afinação da guitarra por Lisboa mas numa quinta inferior.”
Agora em trio, António Eustáquio quis com Estação #60 não só assinalar a sua idade (“A vida é uma longa viagem de comboio. Nunca sabemos em qual estação iremos descer”) como, a partir de poemas de Maria de Guadalupe e do poeta castelhano Antonio Gómez, proporcionar uma viagem sonora pela música popular urbana com o guitolão por guia. O disco fecha com Libertação, que esta sexta-feira é lançado em single e videoclipe, já com imagens do concerto de lançamento na Casa do Alentejo, captadas na véspera. E com esta dedicatória: “À memória de Aristides de Sousa Mendes. Dedicado ao Mestre Guitarreiro Gilberto Grácio que dedicou a sua vida à arte de construir novas sonoridades. O Guitolão terá sempre o seu nome.” No texto que acompanha o videoclipe, o trio agradece ainda ao Musibéria (onde o disco foi criado, em residência artística), aos municípios de Serpa e Castelo de Vide (onde vive António Eustáquio) e à Pexels, pelas imagens de comboios usadas no vídeo (“A melhor forma de explorar a terra. Cuidemos dela”).