Comer conservas “enquadra-se perfeitamente num sistema de alimentação saudável”

Consumir conservas de peixe, diz a nutricionista Elsa Feliciano, está dentro dos padrões de uma alimentação saudável. Importa, contudo, reduzir a quantidade de sal nos restantes alimentos que servem de acompanhamento.

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Nuno Ferreira Santos

Como na generalidade dos países ocidentais, em Portugal consome-se sal em excesso. E, em consequência, a doença e as mortes por razões cardiovasculares são as que conhecemos. Estão, de resto, na liderança das causas de morte em Portugal.

A ingestão de sal faz-se, grosso modo, pelo consumo de produtos processados ou pela adição de sal durante a confecção de refeições feitas ao momento. Em casa ou na restauração. Como desembrulhamos cada vez mais e descascamos cada vez menos (devia ser ao contrário), o maior problema vem dos produtos processados, que incluem uma vastíssima família alimentos, entre eles, as conservas de peixe, que tanto adoramos e que, de resto, surgiram nos últimos anos em muito maior variedade de peixes. Hoje teremos mais de 20 espécies dentro das famosas latas.

Sucede que, se olharmos para os rótulos das conservas portuguesas, vemos valores médios de 1 a 1,2 gramas de sal por lata, sendo que, em alguns casos esse valor é mais baixo (também há casos de 2 gramas de sal por lata). Por esse motivo, perguntámos a Elsa Feliciano, nutricionista e assessora da Fundação Portuguesa de Cardiologia, se esses valores médios são correctos.

A especialista realça que, mais importante do que saber se o valor podia ou não ser mais baixo, “é registarmos que a indústria tem feito um esforço consistente na redução na quantidade de sal nas conservas. De sal e, para caso das conservas em água, de gordura, de maneira que podemos dizer que o consumo de conservas – não de forma diária, naturalmente – enquadra-se perfeitamente num sistema de alimentação saudável.”

Ainda assim, Elsa Feliciano recomenda que “quem consome conservas de peixe deve tentar corrigir a quantidade de sal que usa nos alimentos que acompanham a refeição, de forma a contrabalançar o sal que a conserva tem. Essa deve ser a estratégia.”

Por outro lado, aconselha cada consumidor a avaliar a informação nutricional de cada marca e a optar por aquelas que têm menos sal. E porquê? Se a sociedade der essa indicação, a indústria sentir-se-á obrigada a reduzir ainda mais a quantidade de sal.”

Elsa Feliciano entende que as indústrias de produtos processados têm margem de manobra para reduzir o sal nos seus produtos, de forma faseada, ao longo do tempo. E dá como exemplo o que aconteceu com a indústria da panificação, no centro do país, onde trabalha. “Em diálogo com as padarias, fomos sugerindo a redução de sal no pão, ainda antes da actual legislação, até chegarmos a valores de 0,8 a 1 grama de sal por 100 gramas de pão. Como isto foi feito ao longo do tempo, com pequenas reduções, os consumidores habituaram-se gradualmente e, hoje, não acham que o pão tem falta de sal.”

Uma vez que este processo já tem alguns anos, perguntámos à nutricionista se é possível registar um nexo de causalidade entre redução de sal no pão e a regressão de doenças cardiovasculares na população do centro do país. Elsa Feliciano admite que não existe nenhum estudo que possa comprovar com rigor esse efeito directo, “mas uma coisa é certa: antes, a região centro estava num patamar elevadíssimo de doenças cardiovasculares, hoje, já não está”.

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